19.3.08

MINISTRO OU PRODUÇÃO FICTÍCIA?


Mário Crespo prometeu para o seu Jornal das 9, na SIC Notícias, a presença do ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro. Há muita coisa a perguntar a este génio anunciado. Desde logo, é forçoso saber se Pinto Ribeiro concorda com a existência do "seu" ministério ou se se bastava com uma secretaria de Estado ou, no limite, com nada. Depois, Pinto Ribeiro - presumindo-se que concorda com o ministério e com a respectiva burocracia - deve justificar a existência das "direcções regionais" (cinco ou seis) do MC, da OPART, do D. Maria (de Fragateiro & Castanheira), de uma Companhia Nacional de Bailado caduca, de um São Carlos enquistado e nulo, ainda "cativo" da estratégia pessoal e académica de Mário Vieira de Carvalho, a degradação dos deveres de preservação do património, a suicidária sobrevivência dos museus e a manutenção do Tutankamon da Cinemateca, o honorável Benard da Costa, para além de todos os prazos e limites de idade para o exercício de um cargo de director-geral. Pinto Ribeiro, "advogado de artistas mil", na cativante expressão de Fernanda Câncio, responde perante os contribuintes e não perante os "criadores", seja lá isto o que for. Tinha obrigação, dados os seus afazeres profissionais, de libertar a bolsa daqueles e promover o mecenato empresarial ou outro, partindo do princípio que parte da sociedade dita "civil" está interessada na cultura e não apenas em realizar mais-valias simples. Suspeito, no entanto, que Ribeiro já percebeu que está "atado". Até agora limitou-se a acariciar o visível regimental: indicou Pedro Mexia para secundar Benard na Cinemateca e nomeou uma vetusta comissão para preparar, lá para Dezembro, os 100 anos de Manoel de Oliveira. Só isto garante, mais dia menos dia, outro elogio amigo nas páginas de um jornal. Para seu bem político, Ribeiro precisa ultrapassar este pequenino patamar cúmplice e cortesão que forjou a sua imagem antes dela se convolar numa realidade. É disso, no fundo, que se trata. Saber se Pinto Ribeiro é mesmo ministro ou se não passa de mera produção fictícia.

Adenda: Pinto Ribeiro teve o mérito de não surgir baralhado, como a sua antecessora. Não tem dinheiro, mas pareceu-me ter algumas ideias razoavelmente arrumadas sobre, por exemplo, a cultura representar qualidade de vida em todos os sectores de um governo, o disparate da OPART, a preservação e o acesso generalizado aos chamados "bens culturais" e o concurso de outros meios e fundos para estes fins, "descolando" do Estado. A obsessão com os "conteúdos" da RTP, partilhada em conversinhas com o dr. Santos Silva, ou a omissão quanto à hipótese de "desmantelar" a burocracia do ministério que tutela, revelaram a habitual impotência dos inquilinos da Ajuda dentro dos respectivos executivos. Como se costuma dizer, menos mal.

11 comentários:

Anónimo disse...

Ministro não é e as Produções Fictícias sempre têm piada...

aviador disse...

Que bela "trouvaille".
Mas não era necessaário um post tão longo para ser exibida.
O invólucro, como diria Vitor Dias, são algumas baboseiras.

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves

Acho que é... uma produção fictícia de ministro!



João Amorim

Anónimo disse...

Um ovo não é um pinto, um pinto não tem os direitos de um frango. Um ovo não galado não dá um pinto e logo nunca poderá dar um frango e muito menos um galo. O ovo continua bonito mas cheira mal por dentro e a galinha lança-o fora do ninho.

Anónimo disse...

Que se saiba,Mexia foi escolha de Bénard e não do ministro,que concordou. Alem disso,o exemplo do Tutankamon é capaz de ser mal escolhido,pois ficou eternamente jovem... Não quereria dizer Matusalem? Mas olhe com cuidado para a programação da Cinemateca,e diga-me se não é do melhor que se passa diàriamente no burgo. Não,não tenho procuração do Bénard,apenas gosto de cinema,e penso que a idade não pode ser critério cego. Por causa da idade o Guilherme II mandou embora o Bismarck,e ainda hoje sofremos os resultados...

VANGUARDISTA disse...

A última deste ilustre "intlectual de esquerda" foi na comemoração dos 60 anos do Hot Club, ao aplaudir a "resistência" , "ousadia", "combate" que teria representado a fundação daquele clube em 1948 , durante a ditadura.
Fiquei a saber que o jazz é um tipo de música revolucionário (?)
O meu avô (1900-1989) que o tocou nos anos 20 e 30, nunca foi perseguido por isso e sendo um tipo musical com origem no blues e em cãnticos religiosos negros, fiquei confundido com a nova tese do "Sr. ministro velho com cara de jovem".
Ainda me lembro dos belissimos programas de jazz do Villas Boas na RTP, bem antes do 25 de Abril de 74.
Talvez fosse jazz fascista?

Karocha disse...

Nem sei o que dizer.
O Sr.Ministro fala e não sei do que fala!penso que um País sem cultura é como um País sem educação,eu eduquei 2 filhos e nunca lhes passaria pela cabeça,fazer a um professor o que eu vi hoje.
Educação para mim é em casa,ensino é no Liceu,mas parece que não entendem!
O que o meu mais velho me contou hoje, de cenas de pais a ameaçarem professores com facas na Josefa d'óbidos! sem comentários.
Não sei para onde vamos.

Nuno Góis disse...

Fui presidente da associação de estudantes da Josefa de Óbidos e vivo perto da escola, por outro lado a minha mãe é lá professora.
Que história é essa?

Karocha disse...

Olá Nuno!
Não me vai dizer,que você é filho da muito querida professora do meu filho Guilherme Madalena Góis?

Nuno Góis disse...

Madalena não. Mas Manuela Góis sim.
Mas não me contou a história...

Karocha disse...

Pois é a Sra.sua mãe também tem o meu nome :-)
O Guilherme lembra-se de si.
Assim por alto o que ele me contou; na Josefa havia lá um senhor que fazia trabalhos de jardineiro e outros trabalhos necessários e que parece que tinha um grande cabedal! um dia houve um problema numa aula com um aluno e professora teve que o por na rua com falta disciplinar,o rapaz armou uma confusão tal, que a senhora teve que chamar o tal jardineiro e pôs o
rapaz na rua. No dia seguinte apareceram na Josefa a gentil família do rapaz, Pai carregado de ouro por todo o lado, mãe, tio avó,
está a ver o género! começaram aos gritos e insultos à senhora com ameaças pelo meio e de repente apareceram navalhas nas mãos.
Moral da história com aquela criancinha a senhora nunca mais se "meteu tá claro"