CENAS DO NOSSO ESTADO LUNAR
O casto dispositivo. Eu não sabia mas existe por aí uma Associação dos Farmacêuticos Católicos. Esta piedosa gente recusa-se a vender dispositivos anti-natal. É claro que nada tenho contra o facto de serem católicos. Porém, com os seus argumentos, parece que não conseguiram sair da idade da pedra lascada. Recomendo-lhes, pois, para se descontrairem e para se actualizarem, a leitura em livro de O MEU PIPI (Oficina do Livro, com direito a marcador). Entretanto, e se querem colocar a sua crença no lugar do "dispositivo", não exerçam farmácia.
A casta diva. Quando a célebre Maria Elisa se "chegou" ao PSD, eu até achei alguma piada, dentro da lógica da biodiversidade do "somos todos Portugal" do Dr. Barroso. Chegou a deputada mas não se deu muito por ela, nem ela parece ter dado por isso. Apesar de não possuir o dom da ubiquidade, quis estar em S.Bento, na RTP, de atestado médico e em Paris. Acabou em Londres, sem que se lhe reconheça, apesar dos inúmeros talentos, qualquer vocação para "conselheira cultural". Agora consta que não pretende renunciar ao mandato parlamentar, com a desculpa de que é uma opção "dolorosa". Para não fugir ao contexto, por que é que Elisa não se aconselha com esse novo paladino da psiquiatria nacional chamado Frade?
A verdade e a imaginação. Segundo a também casta Comissão Europeia, Portugal, este ano e nos que se seguem, vai apresentar um déficit nas contas públicas superior ao do "pacto", e os níveis de desemprego não vão parar de crescer. Isto quer dizer que é de esperar o pior relativamente à execução do orçamento para 2004. É aliás muito divertido acompanhar as explicações dos vários ministros, no Parlamento, acerca das respectivas "fatias" orçamentais. Lembram-me uma frase de Graham Greene no seu Cônsul Honorário: "a verdade é quase sempre cómica, a tragédia é o que as pessoas se maçam a imaginar ou a inventar".
O navio fantasma. Ocorreu-me que termina logo à noite o ciclo de concertos para piano e orquestra de Beethoven, da mini-temporada outonal do São Carlos, no S. Luiz. Toca o Burmester que, para além de "conselheiro artístico" na Casa da Música, também é pianista. Dada a figura e o concerto ( o 5 º), é natural que, entre convites e bilhetes vendidos, a coisa esgote. Eu, se fosse da direcção dos teatros nacionais, não exultava com o propalado "reforço" no orçamento da Cultura. A "execução orçamental" falará por si, a partir de 1 de Janeiro, e a "gestão flexível", tão cara a quem trata da intendência de Roseta e de Amaral Lopes na Ajuda, estará literalmente sem "fundo" e "nas lonas". Quanto ao mais, a Companhia Nacional de Bailado prossegue inteligentemente a sua digressão e Ricardo Pais defende-se como pode no S. João. A "programação" da comissão de gestão do D. Maria "aconchega" o público à Catarina Furtado no palco da Sala Garrett, como se aquilo fosse um vulgar "teatro-estúdio" ou uma garagem reaproveitada, sem que se vislumbre o final da novela "A lei orgânica", um guião picaresco de Amaral Lopes. Lembro que o local era conhecido por Teatro Nacional D. Maria II e é pago pelo orçamento dos contribuintes. O outro também nacional, mas de ópera, aguarda pelo segundo episódio da apresentação da temporada, com uma direcção errática e um maestro titular ausente. Talvez seja para o mês que vem, num intervalo de uma das viagens do seu director.
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