GERAÇÃO "DAH..."
Num daqueles estudos comparados sobre literacia, já lá vão uns anos, e se não erro, Portugal emergia nos primeiros lugares no amor demonstrado à "literatura" que acompanha os fármacos. Os portugueses, segundo aquele estudo, adoram ler as indicações, contra-indicações e a posologia dos medicamentos que consomem. E fogem de ler jornais e livros como o diabo da cruz. Soube pelo Francisco que andam para aí a circular uns manuais escolares de português em que coisas como o Big Brother e peripécias de telenovelas, são textos de "referência" , a "estudar" no 10 º ano de escolaridade. Eu já nutria um profundo asco por aqueles enxovalhos do tipo "Os Maias em 30 minutos", ou a "Aparição em 20". O resultado está à vista no analfabetismo funcional da maioria dos nossos estudantes universitários, os tais dos "cadeados" e das "ocupações". É de arrepiar ter de corrigir exames no ensino superior, segundo me contam. Não devemos, no entanto, admirar-nos excessivamente com nada disto. Há muito que as hesitações e os equívocos novo-riquistas no sector da educação apontavam para tristezas deste género. Na verdade, os "manuais" limitam-se a ir ao encontro dos "manuseadores". O "novo homem português" está dentro da casa do Big Brother e anda alternadamente à porrada e aos beijos nas telenovelas portuguesas. O mundo, para os nossos frívolos adolescentes, pode reduzir-se a isto, a um telemóvel e a uns quantos monossílabos. Nos próximos "manuais", os exemplos vão ser seguramente as "sms". Para a geração "dah..." chega e sobra.
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