15.10.03

O BURRO, AS PUTAS E O VINHO VERDE

Quando uma revista internacional famosa dedicou uma reportagem a Portugal, na qual este era retratado como ainda andando de burro, escandalizou-se meio mundo com o suposto insulto à honra pátria que, na altura, já se considerava muito "desenvolvida". A avaliar pela reportagem publicada na Time, demos uns passos significativos em frente. Segundo aquela revista, Bragança, a pacata e austera cidade transmontana, é a nova Amsterdão. Tudo por causa das "meninas" brasileiras que desassossegaram o "quentinho das famílias" bragantinas, para utilizar a expressão da psicóloga Gabriela Moita. Esta emergência de raparigas ditas de "alterne" , provocou na altura a maior indignação junto de um grupo de "senhoras" auto-denominadas "mães de Bragança". Julgo que as referidas "senhoras" não se devem ter apercebido do ridículo desta designação. Segundo elas, os maridos estavam a escapar-se-lhes por causa destas "desavergonhadas" imigrantes. Os pobres teriam, pois, caído em tentação e era indispensável expurgar a cidade daqueles diabos com pernas, ainda por cima boas. Estas desgraçadas "mães" não captaram o óbvio. O seus amados esposos estarão muito provavelmente fartos da vida insossa e monótona que levam ao lado de mulheres que, talvez um dia, foram interessantes e desejáveis, mas que a usura do tempo tornou chatas e desagradáveis. Em troca de uns copos e de umas notas, as "meninas", numa ou duas horas, fazem a pequena felicidade destes homens médios, coisa que eles há anos não sabem o que é. Ninguém "dorme" com a família. Eu sei que nos bares se finge a alegria. No entanto, a sobrevivência também passa por pequenos momentos lúdicos que aparentemente se esgotam ali mesmo. A hipocrisia farisaica das "mães" de Bragança não evitou a publicidade e o "escândalo". E eis, então, o "esplendor de Portugal", devidamente "internacionalizado": o burro, as putas e o vinho verde.

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