6.10.03

NOTAS MUSICAIS

1ª Amália. Há quatro anos, Amália lançou um olhar derradeiro da sua janela com vista para o mar, lá para baixo, no litoral alentejano, e veio morrer à  sua casa da Rua de São Bento. Provavelmente já não lhe interessava continuar a viver, depois de já não poder cantar. Em certo sentido, no entanto, está aí, viva, magní­fica nos seus discos, com os seus poetas, a sua cidade e o seu "povo". Respeito os esforços destas novatas cantadeiras. Mas, por favor, não façam confusões. Não há mais "amálias".

2ª Demissão. Terminaram, a contento do Presidente da Câmara de Lisboa, os "jogos florais" que o opunham a Miguel Graça Moura, o dispendioso director da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Por mais valiosa que tivesse sido a prestação deste maestro em prol da causa da Orquestra e da Escola de música ali erigida, os lamentáveis episódios relativos à sua gestão e à forma narcísica como interpretava o seu papel de director e de mais não sei quantos papéis que acumulava, redundaram neste desfecho anunciado, o que não o abona particularmente. Esperemos agora que a Câmara, os "sponsers" e a nova direcção, não dêem cabo da Escola de música, e que continuem a promover o desempenho da Orquestra. Como primeira consequência desta telenovela, o concerto de encerramento do Festival Internacional de Órgão que deveria ter lugar esta noite, na Sé de Lisboa, sob a direcção de Graça Moura, foi cancelado.

3ª A crítica do crítico. Na sequência da crítica ao concerto inaugural da "Temporada de Outono" do Teatro Nacional de São Carlos, no São Luiz, a semana passada, o Crítico fez finalmente o seu "comentário" ao actual "estado da arte" naquele Teatro. Desta vez, eu optei por não reproduzir aqui o texto, remetendo antes para a sua leitura directa no blogue do Crí­tico. Isto como forma de criticar o "crítico" pela sua persistência em manter o anonimato. Percebo perfeitamente o incómodo que, por vezes, o "dar a cara" representa. Eu já o senti quando, há uns tempos, fui alvo de uma tentativa mesquinha e enviesada de censura ao Portugal dos Pequeninos, justamente por causa do que aqui se tem exposto sobre o São Carlos. Mas, quando se quer ter uma posição pública, ainda por cima "técnica", sobre determinados assuntos ou pessoas, e até por puras determinantes éticas e cívicas, é bom que não nos escondamos sob a capa de uma mera possibilidade. Quanto ao comentário do Crí­tico, apenas duas notas. A Orquestra Sinfónica Portuguesa é um grande corpo musical, constituído por bons e competentes músicos, e que, de facto, merecia outro registo na sua direcção musical. Zoltán Peskó está na fase crepuscular da sua carreira. Porém, sendo ainda e claramente um maestro de qualidade e com qualidades, a forma como ele e o director artístico têm gerido a sua prestação de director musical da OSP, não parece ser a mais eficaz e eficiente, na perspectiva dos interesses da Orquestra e do Teatro de São Carlos. A Orquestra não pode ser "comandada à distância". Por isso, antes de sair, propus (está escrito) que se ponderasse uma alteração ao contrato celebrado entre o Estado português e Peskó, no sentido de reequilibrar a relação custo/benefí­cio para ambas as partes. Desconheço o seguimento dado ao assunto pela actual direcção do TNSC. Seria interessante que o Ministério da Cultura despertasse da sua aflitiva letargia e, entre muitas outras coisas, prestasse alguma atenção a este assunto. É que - bolas! - só temos este teatro de Ópera. E directores...há muitos.

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