23.10.03

BILL, O AMERICANO TRANQUILO

Quando começou a aventura do então governador do Arkansas, na direcção da Casa Branca, havia alguma interrogação. Lutava contra o respeitável pai Bush, que queria que lhe "lessem os lábios", e cujo filho mais notório lhe parece ter saído inteiramente "ao lado", tal como a famosa tirada. William teve uma infância e uma adolescência difíceis, desprovidas da felicidade calculada da família ideal americana. Fez-se à vida, a uma curso de direito e à política. Conheceu entretanto a ambiciosa e leftist Hillary, que se lhe tornou indispensável daí para diante. Carregando o bom fantasma de Kennedy, Bill aterrou em Washington para se tornar num dos melhores presidentes dos EUA. Até ao episódio do "vestido azul", eu achava Bill Clinton um simples americano cheio de sorte que a "esquerda caviar" na Europa não se cansava de adular. Podia ter-se poupado à mentirola inicial, mas a calma e a sinceridade, entremeadas com coca-colas "light", com que se apresentou, em directo, ao júri do "escândalo", transfiguraram definitivamente o homem. Bill Clinton, o chefe da nação mais poderosa do planeta, era não apenas um bom presidente, como respondia com sucesso a banais estímulos sexuais. Apesar da vulgaridade das eleitas - ou se calhar por isso mesmo -. aos olhos dos americanos e do mundo, Clinton aproximou-se ainda mais do "povo", sem deixar nunca de "saber estar" como chefe de Estado. Esteve entre nós há dois dias, numa conferência, e encontrou-se com os nossos poderes genericamente deprimidos e deprimentes. Ora, justamente, Bill demonstrou que há mais vida e alegria para além da política, e que é possível dar "vida" à política, sem abdicar dos princípios, mesmo que sob o fio da navalha. Refeito do turbilhão e puxadas as calças para cima, deixou uns EUA prósperos e satisfeitos com a sua sociedade livre. O desditoso sucessor, George W. , com a subtileza que se lhe reconhece, tem vindo a levar tudo isso alegremente para o fundo, deixando emergir uma América "profunda" e preconceituosa. Para nós, que permaneça a imagem da alta figura de Bill Clinton, arguto, sorridente, optimista e, sobretudo, "humano". É uma excelente imagem de um americano tranquilo.

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