8.10.03

OLHANDO A TELEVISÃO

Uma imagem é esvaziada da sua força dependendo do modo como é usada, de onde e de quantas vezes é vista. As imagens mostradas na televisão são por definição imagens que, mais tarde ou mais cedo, cansam. O que parece ser insensibilidade tem a sua origem na instabilidade da atenção que a televisão está organizada para despertar e saciar através do seu excesso de imagens. A fartura de imagens mantém a atenção leve, móvel, relativamente indiferente ao conteúdo. O fluxo de imagens exclui uma imagem privilegiada. O que conta em televisão é que se pode mudar de canal, que é normal mudar de canal, ficar-se insatisfeito. aborrecido. Os consumidores desanimam. Têm de ser estimulados, de ser empurrados, continuamente. O conteúdo não é mais do que um destes estimulantes. Uma atenção mais reflexiva ao conteúdo exigiria uma certa intensidade da consciência - precisamente aquela que é atenuada pelas expectativas atribuí­das às imagens disseminadas pelos media cujo despojamento de conteúdo contribui decisivamente para o amortecimento das emoções.

Susan Sontag, Olhando o Sofrimento dos Outros ( Regarding the Pain of Others ), trad. de José Lima, Gótica, 2003.

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