FELLINI ENTRE NÓS
1. Há notícia de vários crimes associados à violência doméstica e à violência sexual doméstica. Nas estradas, conduzem assassinos. Estas manifestações patológicas do apregoado "sossego familiar" e do "equilíbrio" do português médio, deitam diariamente para a sarjeta os abnegados esforços de psicólogos, sociólogos e outros distintos cultores das ciências ditas sociais. Num livro que, na altura, julgo não ter sido "clonado", Clara Pinto Correia falava da perversão que se escondia por debaixo dos malmequeres. Essa perversão anda à solta na nossa contentinha e inconsciente sociedade. Potencia, em cada um de nós, um monstro sempre pronto a agredir e, no extremo, a matar.
2. A indecência pública em torno das "escutas telefónicas" só não é própria de um "estado totalitário" porque, apesar de tudo, isto é formalmente uma palhaçada. Aparentemente ninguém é responsável pela sua divulgação. Desde o PGR, aos advogados, desde essa indefinível figura que é o director da PJ, até aos tribunais, toda esta gente sacode a água do capote para cima de chavões em que não se pode mais acreditar. O gravame, porém, está atrás. Reside no próprio princípio da realização das ditas escutas e do objectivo sibilino da sua publicitação. Ferro Rodrigues não pode ser derrubado por ter dito "merda" ao telefone. Que saia pela "política" que não sabe ou que não pode defender e praticar, ou por ter conduzido o seu "projecto" pela via errada da confusão com uma situação pessoal. Quem tem que fazer essa avaliação é ele e os seus pares. Não são as cassetes apanhadas no lixo da nossa colectiva inconsequência.
3. Para "dourar" a pílula, o imaginativo Dr. Portas trouxe os mancebos - machos e fêmeas, presume-se - , até junto da instituição militar, para se irem habituando aos "bons costumes". Não percebeu que aos rapazes e raparigas de 18 anos, hoje, aquela agitação de fardas e de armas, não lhes diz nada. Foram lá apenas para não pagar uma multa. O serôdio discurso patrioteiro também não os comove minimamente. Os saudáveis princípios da solidariedade e da fraternidade viris, aprendidos nas "fileiras" e noutros tempos, não fazem parte do cardápio de valores desta gente. E a "constituição europeia", por outros motivos, colocará oportunamente uma pedra sobre tudo isto. É por estas e por outras que eu sou "federalista".
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