O MEU BIBI
Se o advogado alentejano de Carlos Silvino, com ar de pantomineiro, não conseguir convencer o colectivo de juízes que vai julgar o seu constituinte, o famigerado Bibi entrará numa nova fase da sua vida de arguido. Mais do que ele, é o Estado e as suas responsabilidades, face às crianças acolhidas à sua guarda, que estão a ser julgados. A triste história de Carlos Silvino é a história de uma persistente demissão e de um indesculpável desleixo, acumulados em anos e anos de "deixar andar". Silvino entrou, menino e moço, numa cadeia perversamente instituída e nunca verdadeiramente combatida de abusos morais e físicos, em que participou, primeiro como vítima, e depois, como carrasco. Olhando para ele e ouvindo-o, custa a perceber como é que aquela alma pode ser o cérebro de uma "rede". Parece que o homem está amedrontado e que daria o céu e a terra para não ir a tribunal. Sente-se acabrunhado e só. Na realidade, porém, não é bem assim. Bibi é o filho bastardo de uma impunidade larvar, tacitamente consentida e incómoda, a que nunca ninguém quis prestar muita atenção. Foi preciso o "escândalo" para que a beatice hipócrita e a condenação fora de tempo surgissem. É caso para perguntar o que é que tantos agora "indignados" andaram lá a fazer este tempo todo. Por isso, podem perfeitamente chamar-lhe "seu".
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