4.9.10

INTERMITÊNCIAS JUSTICEIRAS


Este post provocou as mais justas indignações em leitores que prezo e em leitores que desprezo. Não peço, evidentemente, desculpa a nenhum deles. E, porque o estive a ler de tarde, permitam-me que lhes cite Karl Popper - «lembre-se sempre de que é impossível falar de uma maneira tal que não se possa ser mal compreendido: haverá sempre alguém que não o compreenderá.» Os que aqui vêm há algum tempo sabem que a minha premissa em relação à justiça portuguesa é de absoluta e irrevogável desconfiança (talvez não esteja isolado nisto). Considero mais fiável a urgência de qualquer hospital do SNS do que abeirar-me do sistema de justiça nacional, desde a fase de investigação até ao fim dela, eventualmente, nos tribunais superiores. Por isso, o tal post limita-se a desenvolver aquela premissa. O que deploro é ver, ouvir e ler gente que ainda há poucas semanas, por causa de outros processos - freeports, faces, apitos, furacões e outros mais "comezinhos" como roubos, furtos, violência doméstica, etc., etc. -, exigiu (e bem) a cabeça institucional deste e daquele, repudiou o "sistema" e desconfiou da justiça, vir agora louvar um "Portugal melhor" e uma justiça imaculada por causa de um acórdão do teor (nem se sabe sequer bem qual foi mas isso não interessa nada, o que interessa são as "catalinárias") do emitido na Expo. Mais valia serem autênticos como os "populares" ou os aduladores de touradas de morte: capem-se os homens e verta-se sangue.

12 comentários:

floribundus disse...

o bandido do meu ex-advogado dizia
«roubo o que posso seja a quem for. daqui a 20 anos talvez a magistratura tenha decidido qualquer coisa, não importa qual».

como restemunha, queixoso e réu tenho as piores recordação deste orgão que deveria ser de soberania.
incompetência, prepotência, negligência ... encontrei de tudo

fado alexandrino. disse...

Estou sentado calmamente na plateia (fila bem recuada) a assistir a isto tudo como se estivesse num circo.
No site de Carlos Cruz já estão disponíveis os vídeos dos reconhecimentos feitos pelos abusados das casas onde foram abusados mais abundante documentação e ainda agora começou.
Vê-los é desejar nunca ter nascido neste desgraçado país.
Disto tudo replico a frase de João Gonçalves "tenho mais confiança a entrar em São José numa maca de que num Tribunal com toda a saúde".

Aviso: Não ponho as mãos no fogo por nenhum acusado nenhum acusador nem por ninguém.

Francisco Crispim disse...

Independentemente da convicção que cada um possa ter quanto à culpabilidade ou inocência de alguns dos condenados no caso Casa Pia, há uma evidência clamorosa: a avaliar pela súmula conhecida, o acórdão elaborado pelo colectivo do tribunal de primeira instância não passa de um aborto jurídico.
Como se verá em sede de apreciação dos recursos pela Relação, o acórdão retrata, de forma flagrante, a incompetência dos seus autores, sendo muito possível uma declaração de nulidade do julgamento que se arrastou por seis anos.
Será bom que se guarde este comentário, “para memória futura”. Por mim, tenho poucas dúvidas sobre o que se vai seguir.

Moonwalker disse...

Catilinária quereria V.Exa escrever...

Sim, todos sabemos que o sistema que administra a nossa justiça deixa muito a desejar mas seria preciso acreditar numa muito elaborada teoria da conspiração para não dar crédito ao que se emitiu na Expo.

Saberá melhor do que eu que neste Portugal em que vivemos temos e mantemos a convicção que nada se faz bem. Ocorre-me a vulgaridade de afirmar que é uma espécie de desporto nacional , não mediático nem verdadeiramente assumido pela grande maioria das pessoas , mas amplamente praticado. Tentando sintetizar,gostamos de dizer de nós próprios: "somos uma porcaria", o que , convenhamos, é uma coisa estranha , para não dizer doentia. Sob esta premisssa , por mim agora descoberta ( sorrio...) , está a análise de V.Exa no que , às sentenças do processo casa Pia , diz respeito.

É apenas uma convicção,a tal convicção de que todos , em algum momento das nossas vidas , padecemos.

Para mim , ignorante letrado que sou , em nada torna menor o que V.Exa normalmente escreve.

Convicções , são , porventura , o que de mais importante temos.

Eu , ignorante e instável , faço por não ter muitas , não obstante continuar a acreditar no Homem e na sua bondade, mas isso não é para aqui chamado.

Nuno

João Gonçalves disse...

Não. Quis mesmo dizer "catalinárias", uma "doutrina" com origem numa pessoa que se chama Catalina.

Anónimo disse...

Penso que o autor pôs o dedo na ferida do "sistema" de justiça com bastante acuidade sem embargo de notar que não teve idêntica preocupação no que toca ao papel da "comunicação social" designadamente televisões cujo comportamento só poderia ser caracterizado através de novos adjectivos a inventar pois os existentes na nossa língua não são suficientes.

iupi disse...

os tribunais - a começar pelos srs advogados que, enquanto permitem defender os seus interesses, usam de todas as normas da 'idade das trevas' que 'alegadamente' existem no sistema e que depois se armam em vitimas delas - são locais habitualmente muito mal frequentados.

não compare a coisa com hospitais e a sua clientela.

joshua disse...

Acho que te compreendo perfeitamente

Justiniano disse...

Ora, caro João Gonçalves, é deixá-los com os médicos da praça do comércio!!
As suas reservas são as minhas e de muitos outros, de hoje, ontem e amanhã!! Nada de novo!

M. Abrantes disse...

As razões para aquilo que se designa por 'o estado da justiça', não começam nem acabam na dita.

Para mim é incompreensível que a RTP, paga também com os impostos de Portugal, se dê à inenarrável tarefa de promover um debate, moderado por J.Rodrigues dos Santos, e no qual estiveram um juíz (cujo nome não recordo) e Carlos Cruz.

Ora bem, o que se dabateu ali foi o modo como funcionou a 'maquinaria' que culminou com a condenação (em 1ª instância) de C. Cruz. Que imprensa é esta que coloca alguém condenado pela justiça a comentar o mecanismo que o condena? Qual o valor da justiça quando ela pode publicamente ser avaliada por um juíz (que a deve fazer funcionar) e por um réu (que a ela se deve submeter), como se fossem os dois iguais à luz da mesma?

Ao contrário do João, eu não dou Portugal por perdido. A justiça é também aquilo que quisermos fazer dela. Este programa foi de uma reprovavel falta de respeito por tudo aquilo que queremos que a justiça represente.

Bandido disse...

Deixe-me dizer-lhe que o termo catalinária está bem utilizado.
E concordo a 100% com a comparação entre o as urgências e os tribunais, com a agravante que conheço talhantes mais competentes que muitos cirurgiões que por aí andam a pulular nos hospitais...

Saudações Chaladas

Anónimo disse...

Caro João,
Continuo sem perceber a razão pela qual acha que Catalina é pouco credível e se o que ela disse sobre Paulo Pedroso é mentira. Pelo que ouvi ao longo destes anos não tenho dúvidas que ela terá relatos escabrosos do que aconteceu na Casa Pia, e fora dela, dos crimes praticados e de quem os praticou. O desejo de justiça é normal, e mais do que isso, um imperativo moral e ético.
Se o nosso sistema policial e judicial o faz da melhor forma é outra questão e nesse aspecto estarei mais de acordo consigo.
Cumprimentos.