15.7.10

DA FUTEBOLIZAÇÃO DOS ESPÍRITOS AO DECLÍNIO DA POLÍTICA

«No último jogo do Campeonato Europeu de Clubes, o Inter de Milão (que venceu a prova) não tinha em campo um único jogador italiano!... É assim que os jogadores acabam por representar, mais do que uma qualquer comunidade de origem ou de adopção, uma identidade em declinação constante, que vai remetendo para diferentes entidades (as equipas, as cidades, etc.), sem outro limite que não seja o da representação nacional. E é justamente esta deriva de uma identidade na verdade apátrida que, em momentos como o do Campeonato do Mundo de Futebol, abre caminho ao apogeu de um patriotismo sem dúvida tão sulfuroso como fugaz, mas de indiscutível impacto simbólico.Claro que, para o sucesso destes acontecimentos, conta muito a sua transmissão em directo, como conta o suspense mediático que se alimenta dias a fio ou, ainda, o facto de eles serem encenados como se de um teatro da igualdade se tratasse: a disputa vai apurando os mais iguais entre iguais, até à decisão final. Mas tudo isto se apoia, no fundo, numa identificação que - com o declínio da política - se tornou numa das raras experiências que, hoje, permite não só sentir o vibrar colectivo das nações, como tornar visível a sua existência. É talvez esse o único traço comum com os Jogos Olímpicos da Antiguidade - ser um momento em que, através de um comportamento ritualizado, se torna visível o que na vida quotidiana é cada vez mais invisível: a existência de uma comunidade e de referências partilhadas.»

Manuel Maria Carrilho, DN

Nota: Carrilho vai fazer a conferência de abertura do seminário "Crise, Cultura e Democracia" no âmbito da 27ª edição do Festival de Almada, no sábado, dia 17, pelas 10.30. Casa da Cerca, Almada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece que ser nacionalista - conhecer, amar, melhorar e preservar a Nação - é mau. A partir deste ideia boazinha, à qual aderiram todas as manicures, chegou-se à maravilhosa promiscuidade que assola o planeta como uma onda de estupidificação cinzenta. Mas todos os outros "nacionalismos" são tolerados ou até queridos pelas mesmas manicures:
o nacional-futebolismo; o nacional-pétézismo; o nacional-emigrantismo; o nacional-socialismo-sousismo; o nacional-inovadorismo; o nacional-emresarialismo; o nacional-banquismo; o nacional-culturismo; o nacional-comunismo; o nacional-emprestismo; o nacional-brasileirismo; o nacional-iranianismo; o nacional-chavismo; o nacional-politiquismo; o nacional-ateismo; o nacional-bruxismo; o nacional-laxismo; o nacional-analfabetismo. Etc, etc.
A nação, hoje, serve apenas para vibrar com a notícia na TV em que se relata que Kátia "teve uma queda" e bateu com os cornos no chão. Em Ermesinde.

Ass.: Besta Imunda