Até terça, 27, data em que passam quarenta anos sobre a morte de Salazar, gostava de poder abrir o blogue à colaboração dos leitores*. Não para virem aqui debitar parvoíces sobre o defunto - sejam as parvoíces favoráveis a ele ou contra ele - mas, atendendo à "juventude" da blogosfera e à idade média dos utilizadores da chamada blogosfera "política", para se ter uma pequena noção do que é que sobra de Salazar para além dos lugares-comuns que invariavelmente se lhe colam. Ninguém o diz com clareza, mas o famigerado "património genético" do actual regime é o Estado Novo de Salazar, sem a PIDE, as prisões e a censura óbvia. Nem podia ser de outra maneira. À excepção dos que já morreram, todos os "fundadores" da 3ª República vieram de lá. Ou porque eram de lá ou porque eram contra. Até o MFA é um produto do Estado Novo na sua derradeira versão guerreiro-colonial à qual, aliás, Salazar não atribuia assim tanta importância como a que se supõe. A direita deste regime nunca fez o luto de Salazar porque pretendeu ver-se livre do seu cadáver político o mais rapidamente possível. A 26 de Abril de 1974 já eram todos "liberais" e alguns, como Adriano Moreira, até presidiram a partidos do "arco" da presente constituição onde o dito Moreira encontra agora "motivos de esperança". A pusilanimidade e a ambiguidade face à herança político-ideológica de Salazar deixou a sua memória cativa de um irrelevante folclore dito de extrema-direita que certamente lhe repugnaria. No fundo, a direita portuguesa deste regime do que gosta mesmo é de imitar a esquerda e de lhe copiar os tiques azeiteiros. Perdeu-se, assim, pelo caminho um lastro de autoridade proba e de noção de serviço público - que é o melhor penhor de Salazar - e emergiram "salazarinhos" autoritários e precários que, aos poucos, seduziram as concupiscentes "elites" democráticas, sempre com um preço na testa. Sócrates conta pouco nesta "história" porque nem para lhe limpar o pó dos sapatos serviria. É impossível escrever uma história política séria do século XX português - e dos primeiros anos deste - sem ter Salazar em conta. Pessoal e politicamente Salazar podia ser execrável. Em compensação, temos por aí uma mão cheia de execráveis pilantras sem biografia e não há meio de os sentarmos em cadeiras de lonas com as pernas quebradas. Culpa deles?
*esta "colaboração" exclui comentários anónimos ou sob pseudónimos - que serão objecto de censura prévia - e pressupõe textos enviados por email. Os aproveitáveis serão editados na íntegra no dia 27 de Julho.
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