20.4.10

UMA ABSTRACÇÃO PROSTITUÍDA A SAPATOS


Não gosto, a não ser a título de tentativa de compreensão desse enorme «descampado de almas» que era Fernando Pessoa (o termo é de Jorge de Sena, o tal que tem andado comigo ultimamente), do livro Mensagem. Apetece-me gozar com aquilo tudo como, suspeito, o próprio Pessoa gozou. Era para se chamar Portugal. Todavia, o "velho amigo Da Cunha Dias" fez notar ao autor «que o nome da nossa Pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia» e Pessoa acabou por considerar Mensagem "mais certo" e um "título concreto" por oposição a "esse título abstracto", Portugal, a tal coisa prostituída a sapatos como a hotéis. A coisa que está e é.

1 comentário:

jgoncal disse...

A minha ignorância vai ao ponto de admitir que não conheço Fernando Pessoa nem Jorge de Sena. Umas leituras no secundário não dão para conhecer ninguém. Uma ideiazinha, quando muito. Mas pouco pouco..
Li um post seu, João Gonçalves, em que dizia que os seus amigos lhe achavam cada vez mais "amargo". Se o é ou não, só as pessoas que o conhecem poderão dizê-lo. O que sei é que o seu blog é de uma franqueza fria quase ácida. E por isso o visito todos os dias. Não porque goste especialmente de uma visão pessimista de tudo (ou de muitas coisas), mas porque fala com uma desenvoltura linguística que me admira.
Especialmente um tema que tem voltado inúmeras vezes e que cada vez me tem suscitado mais curiosidade: o Papa Bento XVI. Poderei pedir-lhe que me recomende alguma obra do Chefe da Igreja que tenha sido para si digna de referência (a maior entre todas, se considerar que todas são referências)?
Obrigado

João Mendonça Gonçalves