«O público que lê jornais (desgraçadamente escasso) anda hoje fartíssimo de escândalos. Desconfio que só um bom escândalo político-sexual (a fuga do dr. Cavaco com Carla Bruni, por exemplo) era agora capaz de o interessar. Por duas razões. Para começar, houve escândalos demais: desde o escândalo da licenciatura do primeiro-ministro, ao escândalo da casa onde ele vive e ao dos projectos que ele assinou; desde o escândalo da Freeport, ao da TVI/PT, ao da "mentira", ao da Face Oculta e ao da "liberdade de expressão". Esta extraordinária abundância diminui evidentemente o valor de cada escândalo. Ao terceiro ou quarto, a curiosidade é pouca. Ao quinto ou sexto, até o escândalo, no sentido próprio da palavra, deixa de existir: o que se tornou habitual não pode por definição ser escandaloso. Faz parte da vida e, ao contrário do que julga o dr. Mário Soares, "vende" tanto "papel" como o boletim meteorológico. Pior do que isso: chega mesmo a beneficiar o "perseguido" Sócrates. A partir de certa altura, é a reacção do cansaço (o "deixem lá o homem, falem de outra coisa"), que a cegarrega inspira. A segunda razão do desinteresse está na complicação exasperante de cada escândalo. Quem sabe e percebeu o que foi o escândalo do Freeport ou da Face Oculta? Quem se deu ao trabalho de conhecer, distinguir e fixar as personagens? Quem seguiu os meandros de uma intriga, à superfície sem sentido e sem conclusão? Uma ou duas centenas de aficionados, quando muito. Verdade que o "povão" gosta sempre de ver o primeiro-ministro afocinhar e um "rico" em apertos. Como gosta de confirmar a sua velha opinião de que "eles", excepto o ocasional santinho, são essencialmente uma quadrilha de "malandros". Mas basta o que basta. Não é preciso repetir a matéria. A época do escândalo por uns meses fechou.»
Vasco Pulido Valente, Público
Adenda: Aquela coisa insular em forma de deputado, o sr. Rodrigues, ao lado de Louçã - um profissional das farturas políticas de feira -, veio sugerir mais uma "comissão de inquérito" para os submarinos. O parlamento acabou a anterior legislatura reconhecidamente como o órgão de soberania mais mal visto pelo país. Na actual, como se julga subtil em virtude de ninguém ter maioria, vai pelo mesmo caminho. O parlamento quer ser de tudo um pouco: governo, oposição, governo do governo, oposição à oposição, polícia e rancho folclórico, a encarnação mais verosímil. À "comissão" desse ovo de páscoa que é o dr. Mota Amaral espera-a um brilhante futuro a avaliar pelos prolegómenos. Até o dito Rodrigues - et pour cause - lá oficia. Agora querem mais porventura para "fortalecer" a imagem do convento cá fora. Só se for pelas senhas de presença. São pobrezinhos, os nossos deputados, Mas de espírito, apesar de representarem como ninguém o do tempo.
5 comentários:
Mas o Rodrigues nãoe steve "alegadamente" envolvidos em associações de turvos contornos. Ah... aquela madeixinha à gremlin-chefe...
A última coisa que o Partido Socialista deseja, nesta altura, é a realização de uma comissão de inquérito sobre o negócio dos submarinos e das contrapartidas.
Tal como não haverá qualquer resolução do contrato de compra dos dois submarinos.
O tal Rodrigues teve entrada de leão e depois fez a triste figura de tipificar a eventual comissão com todos os detalhes, em que enumera selectivamente e com grande cuidado os partidos e os políticos envolvidos no escândalo, como se já estivesse tudo apurado. O mais interessante é que ele esqueceu-se de incluir, imagine-se, todas as pessoas PS que queriam à viva força comparar 3 e não 2. É curioso que as imagens do lançamento dos submarinos com a participação da senhora Barroso e da esposa do Presidente da AR só agora tenham aparecido. Na altura foram escondidas dos noticiários, sabe-se lá porquê.
Inteiramente de acordo com VPV. Se não é para atirar abaixo com o nojento dito cujo (em nome do "interesse nacional", deve estar tudo bêbado, até o Cavaco), deixem lá os assuntos dos escândalos. Peguem-lhe pela enorme competência em por esta m***a de pantanas! Ele e a capanga dele (incluindo o eleito pior "menistro" da zona euro).
PC
Para o senhor e para VPV o que vou escrever é, talvez, uma surpresa desagradável.
Enquanto o Benfica for ganhando (Deus queira que por muitos séculos) e houver de vez em quando uma visita Papal, os políticos podem fazer o que quiserem.
Se não acreditam, façam o favor de ir almoçar a uma tasquinha no momento do telejornal.
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