19.11.08

SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO -2

1. «Em termos puramente economicistas, há uma lógica de continuidade no propósito de acabar com a Colóquio/Letras depois do fim dado à Colóquio/Artes, à Colóquio/Ciências e ao Ballet Gulbenkian. Actualmente, com o serviço de edições parado, por enquanto não extinto mas parado, a Gulbenkian vê-se reduzida à programação de concertos clássicos, ao museu da colecção do patrono, à episódica realização de exposições temporárias — culminando nesse monumento ao cabotinismo que dá pelo nome de Weltliteratur —, a um Centro de Arte Moderna entretanto desvirtuado da sua função original (e hoje paralisado) e, last but not least, ao serviço de bolsas.» O Eduardo Pitta escreve isto no contexto da putativa e parva remoção de Joana Moraes Varela da direcção da Colóquio-Letras para "adequar" o produto à correcção dos "novos tempos".

2. Sucede que, antes, o Eduardo decidiu alinhar por aquela "tese" peregrina de que a Dra. Ferreira Leite - porque se exprime mal e não tem graça alguma - esconde o fascismo na malinha de mão. O Eduardo fala numa fantástica "tese do cordão sanitário" que, não fosse o caso de sermos amigos, lhe valeria, desde já, um directíssimo bardamerda. Aliás, a foto que ilustra o post nem sequer lembraria ao zelota Santos Silva. Podemos gostar - é um direito, digamos, natural - de Sócrates, da sua sua ficção e, até, da sua notável propaganda tão diligentemente encaixada nos meios tradicionais e não tradicionais de "comunicação social e cultural". O que não devemos é ser desonestos intelectualmente. Talvez na "socrolândia" já valha tudo e eu é que estou desfocado como o personagem de Woody Allen. Talvez.

6 comentários:

Anónimo disse...

Sem renegar as nossas paixões e aquilo em que acreditamos, acho que temos a obrigação de ver e analisar o que nos rodeia de forma tão racional e imparcial quanto possível. Todo o Conhecimento Humano deve-se a essa atitude. Penso que é uma das lições importantes que recebemos em herança dos nossos antepassados. Por exemplo, hoje, olhando para o passado, não gostaria de estar nem na pele de Galileu nem na dos seus acusadores.

joshua disse...

Já por aqui assenti na ideia de que o Eduardo, o lisível e interessantíssimo Eduardo, um dos meus primeiros a ler a cada dia desde que iniciei o meu próprio caminho na bloga, tem o triste limite de alinhar em absoluto com o agora-é-que-é socratinesco em qualquer plano, em todas as dimensões, em todas as derivas.

Não o coloco no grupo dos delambidamente bajuladores disto que governa, como um Emídio Rangel, um José Miguel Júdice ou outros tristes plumitivos Faustos, porque fundamenta o que defende de uma forma robusta, tensa, contida, com exemplos e contrastes [violentando os contextos, é certo] com o passado de outros governos.

Por isso foi pena ter ele admitido a Manuela nada mais ter dito que o que circula-voz-em-surdina nesses meios betos de pseudo-iluminados: que o que conviria era ditatorialmente o dobrar literal de estas corporações profissionais que agora se rebelam contra uma realidade que, vista de perto, é rigorosamente um inferno servido a frio.

Já o João Paulo Sousa, aos olhos do Eduardo, sofrerá porventura de excesso de realidade, de excesso de contacto com o Kafka que se forceja implantar grotescamente no Portugal Minúsculo das Escolas e do pensar pequenino porque em indicadores e números, esses novos filhos da puta como outrora os da Raça Ariana, da estatura, do olho azul e perfil teutónico.

Pode o Eduardo socratinar quanto quiser, sempre gostarei de lhe ler sinopsese, ensaios e leituras, mas um pouco de independência ficar-lhe-ia a matar.

João Manuel Vicente disse...

Por que razão é ainda, neste momento, Presidente do P.S.D. a Dr.ª Manuela Ferreira Leite?

Eu respondo, ela já não é nem está como Presidente; ou melhor, está, mas apenas "interinamente" até que daqui a poucas semanas se solenize o que, englobadamente, já resultou à saciedade: que o tempo não voltará para trás e que o seu momento afinal não era seu, por demérito próprio.

Como alguém escrevia ontem, não basta PARECER séria (ou credível, ou minimamente ilustrada, etc...), importa SÊ-LO.

Acabou.

éf disse...

«O que não devemos é ser desonestos intelectualmente. Talvez na "socrolândia" já valha tudo e eu é que estou desfocado como o personagem de Woody Allen. Talvez.»

Então somos muitos, os desfocados.

do comentário acima: «Pode o Eduardo socratinar quanto quiser, sempre gostarei de lhe ler sinopses, ensaios e leituras, mas um pouco de independência ficar-lhe-ia a matar.»

Concordo em absoluto.

Artur Corvelo disse...

bingo

Anónimo disse...

A Manuela e o Magalhães, para além do "M", têm uma coisa em comum: a sua absoluta irrelevância.

De tantas focinhadas que já levou o conceito "democracia", se é que alguém se lembra ou sabe o que é na verdade isso, esta não esteve sequer perto de figurar no ranking.

De qualquer forma, tudo isto me faz lembrar um pouco um cartoon do Quino, uma sequência em especial que me marcou a infância:

Estava a Mafalda a consultar o dicionário para ver o significado da palavra "democracia". Dizia "modo de organização política em que quem ordena é o povo".

As três vinhetas a seguir representam a família da Mafalda com ar preocupado, a olhar para ela, enquanto ela se ria às bandeiras despregadas, enquanto comia sopa, enquanto tomava banho e quando já estava na cama.

Não sendo aplicável nem pretendendo tirar moral alguma disto para o caso em questão, diria que tem, de facto, imensa piada.