4.11.08

O CLÃ ÚNICO


O Público em papel traz uma nota acerca de um estudo universitário que trata do "perfil psicológico do jornalista português". A conclusão mais interessante (ou evidente o que vai dar ao mesmo) é que o acesso à carreira se faz fundamentalmente através da "cunha". Uma "entrevistada jovem", de um total de quarenta e um, quando lhe perguntaram como é que se arranja "trabalho nos jornais de Lisboa", respondeu com "ingenuidade":«é com cunhas, nomes de família, amizades com figuras públicas, pertença a clãs jornalísticos.» Esta moça, no mínimo, já devia ser directora de informação ou comentadora na galáxia SIC. Mas há mais. A cama, a família ou a afinidade também contam: «dois irmãos jornalistas, filhos de um casal de jornalistas (...) um jornalista filho e sobrinho de jornalistas, primo de jornalistas e casados com [uma] jornalista.» Confesso que o que mais me enterneceu foi a referência aos "clãs jornalísticos" feita pela jovem candidata a profissional. Por aqui se percebe que não há "filtro" que nos salve das "verdades" que os jornais, as rádios e, sobretudo, as televisões nos "revelam". Ai daquele que não pertença a um "clã" e tente ser (vou tentar escrever isto sem sorrir) independente. O mundo, ao contrário do que o amável sr. Gore andou a papaguear, aprecia as "verdades convenientes". Os jornalistas são geralmente "formatados" para as transmitir e, para isso, precisam estar bem "inseridos" e de "directores espirituais" como, por cá e por exemplo, o dr. Santos Silva. A "língua de pau" que prevalece por aí não é fruto do acaso. O clã é um só.

8 comentários:

Anónimo disse...

Os clãs não funcionam apenas no jornalismo... hoje em dia é comum as pessoas perguntarem "em que rede é que te moves" para ficarem a saber como chegaram ao lugar X ou Y. A cunha é uma instituição nacional e não há volta a dar-lhe. A jovem que disse isso não deve ter nada de ingénua...

Pedro disse...

Olha! Então não é que está ali O Pedro Marques Lopes (acho que é o nome do boi) na Sic Notícias. Não há coincidências, já dizia uma grande escritora.

Anónimo disse...

Há tempos, 'critiquei' o 'chorudo' salário que o sr. Constâncio auferia, num país onde a sobrevivência é, quase, um acto heróico.

A justificar a 'enormidade' da injustiça, citava o ordenado do presidente da reserva federal dos EUA, muito inferior ao 'vencimento' do governador do BdP.

De seguida, alguém, num texto de palavras transformadas em 'pauladas', 'atira-se' ao que opinei, com o 'incontestado' argumento de que "as competências, deste país, têm que ser bem remuneradas" e, portanto, o salário do sr. Constâncio - e dos demais Constâncios - era 'justíssimo'.

Perante o 'caso' entre a (des)fiscalização do BPN, por parte do responsável do BdP, nada se me oferece dizer, pois que os factos são, por si, reveladores da 'competência' do representante do património mais valioso da Nação : o que lamento, é que 'essa' personalidade avalie a competência de alguém, como de facto acontece.

Por último, para os 'serventes' dos senhores feudais, que ajudam a defender o poder e o lugar dos Clãs, deixo, se me permitem, um alerta : nem sempre é bom estar do lado mais forte, quando este começa a apodrecer.

Anónimo disse...

É verdade, sou jornalista e confirmo. Basta ver as linhagens nas chefias de jornais, rádios, tv´s etc. Desde os directores aos editores, a norma é que sejam amigos de longa ou enriquecida curta data. Mas isso não me parece assim tão mau. É normal que os directores queiram gente da sua confiança na estrutura hierárquica que encabeçam. O problema é quando a competência não corresponde ao cargo. É assim em todo o lado, E então??!! Então nada! Ou se legisla no sentido de as chefias(órgãos públicos, para dar o exemplo) são eleitas pelas redacções ou mais vale enfiar a bota e ir caminhando sempre atento para que não nos venha um qualquer cão mijar nela(a bota). Agora, a grande merda é que esta realidade afecta directamente coisas como as promoções, as viagens ao estrangeiro, a escolha para os melhores trabalhos... e aqui a competência anda distante do primeiro requisito para a decisão. Enfim... ser jornalista já nada tem de nobre como ainda tinha há menos de 20 anos. É uma maltrapilhice.

Anónimo disse...

Não é preciso ser-se jornalista para perceber a situação. É por isso que não compro nem jornais nem revistas.
Pagaria de bom grado para ter acesso a informação INDEPENDENTE, de CONFIANÇA e de QUALIDADE, que me permitisse formar as minhas próprias opiniões. Recuso-me a sustentar a mediocridade e pagar por "verdades reveladas e convenientes", de acordo com o(s) interesse(s) do(s) clã(s) e pela opinião "oferecida" por muitos opinadores aos quais se poderia aplicar o texto do "post" anterior do Miguel Castelo-Branco sobre o dr. Soares.
Todos perdemos com esta forma de encher papel com letras e fotos, a começar pelos donos dos jornais. Querem ter o triplo da tiragem actual? Acabem com a fantochada!

Anónimo disse...

O que eu acho engracadissimo é o facto dos inúmeros blogs constituídos por jornalistas da praça - alguns até conhecidos por V. Exa. - e nenhum emitir qualquer comentário.

Espero ter-me enganado e não ter investigado bem a questão!

fado alexandrino. disse...

É cada vez mais relativa a importância dos jornalistas e dos jornais.
A verdadeira informação procura-se nos blogs.
Este, por exemplo, é de leitura diária assim como outros que considero de referência.
E onde tenho aprendido muito mais do que nos jornais.

Anónimo disse...

Idem, idem... aspas, aspas...