22.9.10

A ARMA DE ARREMESSO


Consta que vão ser entregues às escolas mais três mil Magalhães. O Magalhães, ou outro computador qualquer, só devia entrar numa sala de aula pela mão do professor e não pela mão das criancinhas. Para as criancinhas, o Magalhães é apenas mais um brinquedo. Para o professor, é mais um passo para a sua desautorização dentro de uma sala de aula. Por isso, o Magalhães funciona como dupla arma de arremesso. Contra a qualificação e contra a figura tutelar e indispensável do professor. A insistência na "quantidade" - vejam lá, seus retrógados, mais 3 mil representações do "progresso" e do que é hoje Portugal na "visão" do querido líder - demonstra o propósito que, desde o início, presidiu à "ideia". Mil ou milhões de computadores não resolvem um átomo de nada se não forem antecedidos pela aprendizagem e pela educação nos sentidos mais nobres denotados pelos termos. Por natureza, burros e estúpidos, por muito que andem acompanhados deles, ficam na mesma. À propaganda do regime isto não importa. À sociedade, aos pais e à escola, devia importar. Mas isto já é uma conversa demasiado sofisticada para rebater a "quantidade" e o deslumbramento parolo do Portugalório socrático-tecnológico. Há, aliás, quem faça de ambos um modo de vida. Bom proveito.

13 comentários:

Paulo Nobre disse...

Sem computador, como vendias tu, o teu peixe?

Mani Pulite disse...

UM MILHÃO DE CAGALHÃES SERÃO SUFICIENTES PARA ENTERRAR AS MENTIRAS DO SUPREMO MENTIROSO?

Isabel disse...

A desautorização dos professores há muito que vem decapitando as escolas.Os melhores professores, aqueles que desprezam o eduquês e se regozijam com cada avanço dos alunos no sentido da liberdade que só a cultura confere, esses vão-se reformando em catadupas, ignorando penalizações monetárias. Preguiçosos? Corporativistas? Deles foi traçada essa imagem pelo miserável poder político e pela miserável imprensa que o promove.Vão ficando os jovens, assustados pela sua situação precária, os acomodados/serventuários do dito poder, transformados em "his master´s voice" e, como todos os capatazes, ainda mais agressivos do que a voz que os comanda. Restam os amargos, consumidos por um "supremíssimo, íssimo, cansaço".Depois do "Magalhães", é agora a altura de avançar em força para os "quadros interactivos" e foi já ordenado que TODOS os professores frequentem acções de formação nesse âmbito. Entretanto, eu, que de forma fundamentada sustento há décadas que a civilização da imagem tende a destruir a civilização do livro, gostaria de publicar uma lista exaustiva das obras literárias e dos autores que foram sendo retirados dos programas de Português.De Fernão Lopes a Mário de Sá-Carneiro, há de tudo...Penso que todos os professores que considero dignos desse nome ficarão gratos ao Professor Manuel Maria Carrilho pela clareza e frontalidade com que desmontou este tenebroso mito do "tecnológico". Há demissões que devem ser encaradas como honrarias e esta foi uma delas. E citando um comentador"mais não digo, que o nojo é muito".

Garganta Funda... disse...

Ainda hoje, no «dia europeu sem carros» ( mais uma palhaçada a que já habituámos nesta Europa macaca!), o Sócrates desdobrou-se em vários eventos onde vai divulgando e propagandeando o «admirável novo socrático», recheado de «tecnologias» e parafernálias...

O homem está sempre onde está o «pugresso».

As notícias das dívidas e dos calotes é com o desgastado Prof. Teixeira...

Até nisto, ele «enrola», usa e abusa da paciência dos outros membros do governo.

joshua disse...

Tudo ao contrário: triplicação do TGV. Máquinas nas mãos lúdicas dos putos. Professores que passam fome, sede e outras sevícias para vender as suas aulas comprimidos até à nulidade humana e profissional.

Anónimo disse...

De facto somos mesmo portugueses; modestos, periféricos, de rasgo pouco duradouro, de escândalo pequeno como a alcovitice nas aldeias. Até os líderes ridículos cá são mais pequeninos: a Itália, ainda assim, tem Berlusconi, as suas putas maiores e menores, o seu capachinho Gucci, os seus fatos de seda e de alpaca feitos por medida em Milão, os seus carros de luxo, as suas casas novas-riqíssimas, as suas estações de televisão, as suas emendas estratégicas e abertamente gangsters à lei, os seus guarda-costas, os cidadãos que lhe esfregam maquetes de catedrais no focinho, o seu sorriso de boneco-de-loja mas com o charme dos mafiosos etc; e tudo num País fabuloso de história, cultura, arte, povo, tradição.
Nós cá temos pinto-de-sousa: sabe-se onde roubou os seus milhõezitos e a quem em concreto (a nós); sabe-se que vive num prédio, que teve uma empresa de pneus com o doutor-dos-robalos e a velha edite. E que gosta de coisas com ecrans e duns fatitos de pronto-a-vestir com um largo emblema de fábrica, com umas asas. Pobreza.

Ass.: Besta Imunda

floribundus disse...

nas manhãs de terças e sábados estão à venda na Feira da Ladra a partir de 50€.
um dos meninos contemplados só estava interessado em 'pernografia', ou seja ver pernas e regiões limítrofes.

Anónimo disse...

Com as dificuldades financeiras com que se debatem a maioria das famílias portugueses, estou em crer que a maior parte dos cagalhães irão parar à feira da ladra!...

joshua disse...

Homenageio a Isabel. Grande e certeiro comentário.

Anónimo disse...

Gostaria de saber até que ponto a empresa Couto dos computadores, abrirá os cordões à bolsa, para premiar o seu mais completo e profícuo, comissionista Pinto de Sousa.
Creio que já era tempo de uma investigaçãozinha, por parte da Polícia Judiciária à contabilidade da empresa.

Cps
Scaramouche

Isabel disse...

Agradeço ao Joshua a simpatia do comentário, bem como a simpatia que demonstra pelos meus colegas.E, não tenha dúvidas, nunca o sofrimento foi tanto. Por nós, é certo, mas sobretudo por aquilo a que costumo chamar " genocídio cultural da nossa juventude". Os jovens são frequentemente vistos como imbecis e, de facto, nunca me lembro de o seu vocabulário ser tão pobre, nunca me lembro de os ver tão formatados e desalentados. Contudo, não existiu certamente qualquer mutação genética a atingi-los, nestas últimas duas ou três décadas. O seu mal é, a meu ver, a ausência de contacto com os clássicos, aqueles que o tempo consagrou. Quando não temos a felicidade de conviver com pessoas excepcionais, só a cultura, designadamente a literária, no-los pode apresentar.No entanto, alguma luminária decidiu que, até ao nono ano de escolaridade, os textos estudados deverão ser "actuais", reflectir a realidade vivida pelos alunos. Pobre realidade!!!Por outro lado, enquanto os conteúdos literários vão sendo suprimidos, existirá certamente um poderoso lobby de linguistas que vai bombardeando as crianças com "nova terminologia" onde avultam deliciosos vocábulos como "perlocutório","deícticos","holónimos" e outras preciosidades sem as quais teremos todos sido, antes da "revelação", pobres ignorantes.

Isabel disse...

Agradeço ao Joshua a simpatia do comentário, bem como a simpatia demonstrada pelos meus colegas. E pode crer que nunca o sofrimento foi tanto. Por nós, é certo, mas sobretudo por aquilo a que costumo chamar "genocídio cultural da nossa juventude". De facto,nunca os jovens, hoje genericamente vistos como ignorantes,tiveram um vocabulário tão pobre, nunca foram tão formatados ideologicamente, pelo menos desde que me recordo. Contudo, nenhuma mutação genética poderá ser responsabilizada por esse crescendo de ignorância. Interroguemo-nos sim sobre a "razão" de serem, até ao nono ano de escolaridade, privados do convívio escolar com os clássicos.Questionemos, ainda, a lógica de quem os bombardeia com "nova terminologia", que inclui preciosidades como"perlocutório", deíctico"ou "holónimo" desde ainda tenra idade.Teremos nós todos sido um bando de ignorantes durante as décadas em que vivemos felizes, sem lobbies de linguistas que nos atormentassem,mas sabendo, já na quarta classe, o que era o Adamastor e achando-lhe graça porque era um gigante infeliz e sem amor?

joshua disse...

Inteiramente de acordo, caríssima Isabel.

Assumo até à suprema raiva da paixão a defesa ostensiva dos clássicos nacionais consagrados por uma memória colectiva até há pouco suficientemente exigente e grata aos seus doutos mortos sublimes. Mas temos de ser mais a praticar isto com tenaz ferocidade.

Permita-me, uma vez mais, que lhe subscreva cada palavra.