4.9.10

AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NÃO SÃO EM MARTE


«As declarações (meia dúzia de palavras) com que [Cavaco] liquidou o episódio, provocado pelo discurso do Pontal e pela reacção de Sócrates mostram que ganhou uma autoridade incomparável à de qualquer outro Presidente. Visto pela maioria do país como o responsável máximo da economia (e, nessa matéria, como o único homem de confiança), nada o impede de ditar as condições políticas que acha desejáveis para "combater a crise": os partidos têm de se entender sobre o Orçamento e não pode haver agitação interna de espécie alguma. Por este caminho, a eleição presidencial não irá passar de uma formalidade. Nem os partidos querem carregar as culpas de um novo "soluço" financeiro, numa situação já periclitante; nem Manuel Alegre, supondo que alguém o seguirá, se atreveria a qualquer gesto verdadeiramente perturbador. Precisava para isso de um plano alternativo (como coisa distinta da demagogia habitual na esquerda) e da aprovação da "Europa", que obviamente não lhe permitiria o mais leve desvio da ortodoxia em vigor. O próprio dr. Soares já veio dizer, e com toda a clareza, que chegou o momento de pôr a Pátria acima de tudo, sendo que a Pátria é hoje o Prof. Cavaco e o eng. Sócrates, devidamente abençoados por Pedro Passos Coelho. A julgar pelo tom geral da televisão e dos jornais, quem sair disto está perdido. A liberdade ficou para a irrelevância. O que o Bloco e o PC fazem ou não fazem não interessa e, portanto, não assusta ninguém. E até Alegre, apesar do seu milhão de votos, começa a desaparecer no limbo da inutilidade. O desemprego, a fragilidade financeira e os compromissos com a "Europa" impedem uma vitória da esquerda e, principalmente, de uma esquerda lunática como a nossa. Os portugueses percebem isto muito bem e poucos se meterão numa aventura com Louçã e a franja radical do PS. Só resta saber se a franja radical do PS arriscará o seu futuro por uma fantasia que não leva a nada. Alegre corre o perigo de, no fim, ficar sozinho num país que tende dia a dia para a "união nacional" ou, se preferirem, para a "salvação nacional".»

Vasco Pulido Valente, Público

5 comentários:

Anónimo disse...

Por outras palavras - e se não me engano - o que VPV diz é que se substituíssemos a Igreja e as Forças Armadas que foram os pilares da "velha" União Nacional, pelo PSD e pelo PS, obteríamos - como de facto obtemos - uma «Nova União Nacional», com mais umas quantas liberdades formais e um serviço de informações de defesa do regime. Isto é, Portugal é o PS e o PSD e o que lá estiver dentro.
For ever. Não gosto.

Anónimo disse...

Com muito menos palavras, Jerónimo de Sousa foi muito mais rigoroso e conciso:
Dois partidos iguais, abençoados por Cavaco Silva.

Garganta Funda... disse...

Citando um conhecido ensaísta e comentador conotado com a extrema-direita intelectual só restam (e cada vez menos, como se nota...) três «instituições» que são pilares da coesão e identidade nacionais: a Igreja, as Forças Armadas e curiosamente, o Partido Comunista.

Tudo o resto, segundo o referido ensaísta, é refugo, espuma do tempo, trupes estrangeiradas, carnaval psico-mediático,etc.

Anónimo disse...

Certeiro, mas armadilhado - ou melhor, "demasiado subjectivo". VPV nunca gostou do Prof. Cavaco Silva (aqui, dou-lhe a designação genérica). Se não me falha a memória, VPV apoiou soares nas últimas presidenciais. A VPV a escolha era simples; cedo deixou a deputadice social-democrata, entediado; e desde essa altura que se "despartidarizou" (medida salutar); também apoiou soares contra Freitas em 86; conhece soares há demasiado tempo, logo apoiando soares pregava uma dupla partida a dois tipos que nunca "estimou": a Cavaco, que ele considera analfabeto-cultural e anti-estadista; e a Alegre (2005-2006) que ele considera um vácuo político e literário. Ou seja: também gosta de resvalar para a culpabilização fácil de Cavaco atribuindo-lhe culpas na aflitiva situação financeira e económica do País. Pois se as tem, isso deve-se apenas a ter prolongado a farsa da "cooperação estratégica" por demasiado tempo. Não porque Cavaco tenha responsabilidades de executivo, que nunca teve nem poderia ter como presidente. Agora está talvez chateado porque é possível que o "povo" (eleitor) também ilibe Cavaco. Tal como no futebol (tema caro ao Dr. Gonçalves) não podem perder os dois.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

"...num país que tende dia a dia para a "união nacional" ou, se preferirem, para a "salvação nacional."

"Isto" não tende para nada disso. Já está! Na merda! Uma imensa ETAR. Os que, por circunstâncias inultrapassáveis. tiverem que se manter por aqui tentam desesperadamente manter-se nas margens, para não "perderem o pé" nesta esterqueira.

Portanto, é preferível mudar de moscas. Pode ser que as seguintes sejam menos pegajosas. É por isso que digo: castigue-se o Cavaco por estes anos de complacência (com um valente susto, não com o já caquético poeta) e venha o Passos e a respectiva tropa... Se o Portas tivesse hipóteses, apesar de alguma azia, lá teria que ser.

PC