23.7.10

A OBRA


«A nosso ver, há, neste encerramento [dos serviços de leitura da Biblioteca Nacional], um total desprezo pelos leitores. A BN nem sequer projectou a criação de uma sala provisória, de acesso condicionado, que pudesse dar acolhimento aos pedidos de quem tem prazos académicos, financiamentos de projectos aprovados a cumprir ou livros que têm de entregar a editoras. Recordamos apenas que espaço existe: na antiga sala dos periódicos e no espaço da antiga livraria, ambos desactivados. Se a BN sabe que os pisos com mais pedidos são o 3.º, 4.º e 5.º, porque não foi previsto, para estes, um fecho por um período mais curto? Mais, se já se sabia, pelos vistos há anos, que iria ocorrer um longo encerramento (a obra foi adjudicada em 2008), porque não intensificou a digitalização de obras fundamentais? Na década de 1990, quando o Arquivo Nacional da Torre do Tombo mudou do Parlamento para o Campo Grande, ouviu, antes, os seus leitores, pelo que tudo correu de uma forma aceitável. Quando a BN mudou de São Francisco para o Campo Grande, em 1969, a transferência demorou seis meses e não houve atrasos. Também eram milhões de livros. Veremos o que se irá passar. A BN não estudou uma alternativa razoável, porque a sua direcção não tem peso político, porque ninguém quer saber do que se passa nas bibliotecas e porque, o que é quase certo, o Ministério da Cultura não previu as necessárias verbas. Não havendo dinheiro, não tendo recursos, a BN teve de planear a obra da forma mais barata, pensando que os leitores - que, pela sua natureza, não se conhecem nem se reúnem em manifestações - não seriam capazes de contestar. Enganaram-se.»

Maria de Fátima Bonifácio e Maria Filomena Mónica, Público

7 comentários:

CCz disse...

Umberto Eco deliraria com esta cena tão ao estilo de

http://obviousmag.org/archives/2006/10/a_biblioteca.html

M. Abrantes disse...

É bom ouvir Fátima Bonifácio salientar a validade das acções de protesto, por via da necessidade. Esta última aguça coisas que estão para além do vulgar engenho.

Também no ensino as pessoas têm protestado por necessidade.

Anónimo disse...

Se for necessário - tecnicamente - fecha-se o edifício. Já aconteceu em Paris e em Moscovo; durante meses. É necessário fazer a obra, preservando livros, documentos, jornais etc. Se o dinheiro é pouco, o resultado só pode ser desagradável e ficar aquém das espectativas. Da gestão de calendários e espectativas nada sei (nem quero saber). O que sei é que "criar salas alternativas e mudar assim primeiro e mudar assado depois" é o tipo de coisa queixinhas de quem, de facto, não admite um mínimo de contrariedade no seu mundinho. Que se lixem os livros e o futuro edifício; "o que nós queremos é o nosso conforto".
É exactamente como aqueles que, vendo tudo à sua volta em crise, quando isso lhes toca ficam espantados e revoltados; e reivindicam, intorrogando tudo e todos: Porquê?!?! - e a resposta: por isso é que se chama crise". Neste caso "fecha-se uma parte e reduz-se o funcionamento" por causa das obras. Por isso é que se chamam obras!

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

A BN é o apoio e a base a investigações academicas de todas, repito, todas as areas do saber. Não há mestrado do cócó nem doutoramento de xixi, que não tenha que "lember" uns quantos livros da BN.
Pára a investigação académica? Bem feito , tambem ninguem os lê a não ser os outros academicos.
Bem feito tb, que têm depois que devolver as Bolsas, por o trabalho não estar feito e pedir outras Bolsas à FCT.
E estará no seguro a BN? Se à sombra das obras lhe tocassemos um fogo? Ahh, grandes labaredas de conhecimento...
ass: Piromano Gazeado

Anónimo disse...

Você é um libertino porcalhão libertário, meu bom Pirómano Gazeado - o que é excelente; e também boa-praça. E pedagogo de finura sem igual! No fundo, tal como você, sinto-me por vezes intelectualmente só, e a puxar sem ajuda pela cultura do país. Como o meu amigo, considero os critérios da FCT, para atribuição de bolsas, um verdadeiro escândalo. O Teólogo Rosas rosnava na SIC-N acerca de outras bolsas: dizia ele que com os apertos-de-cinto "perto de 20.000 estudantes não cumprirão para o ano os critérios para receber a bolsa". A mim, apesar de chocado - trata-se de muita gente sem recursos, assaltou-me logo outra angústia: quantos, para além dos 20.000, estão a receber bolsas?!? Quando eu era jovem-besta e os meus cornos ainda eram pequenos e duma alvura de marfim-novo, os bolseiros eram uma reduzida minoria (lá está, daí ter de haver bolsa...). Sinto que agora são um vasto exército secreto e negro, numeroso como as legiões de Julius Caius Caeser. Ou seja, assalariados. Um modo de vida, como lavar carros ou apanhar berbigão.

Ass.: Besta Imunda

Unknown disse...

A cultura segue dentro de momentos.

A

Rui

PS. Para quê esbanjar tanto quando se pode ter tudo no Largo do Rato.

Anónimo disse...

Se a BN precisasse de clientes para sobreviver nada disto teria acontecido.
É precisamente ao contrário do que as meninas dizem. A BN tem muito poder político, só assim é que consegue fechar.

lucklucky