28.11.09

UM PORTUGAL DE PEQUENINOS

«Os deputados são eleitos pelo povo e, em boa teoria, só o povo os pode punir e de uma única maneira - não votando neles na eleição seguinte. A liberdade é essencial ao cumprimento do seu mandato e à dignidade da sua posição soberana. Sucede que nunca ninguém respeitou os deputados portugueses. Suponho que em parte pela sua origem. Escolhidos pelo chefe ou pelo "aparelho" não devem nada, ou quase nada, a si próprios. Podem, por isso, ser tratados sem cerimónia como pessoal menor. Por outras palavras, com arrogância e com desprezo. (...) No tempo em que os frequentei, estes "pais da Pátria" tinham um grande interesse: explorar até ao fim os pequenos privilégios, que o Parlamento lhes dava: viagens (com, ou sem, o chamado "desdobramento"), faltas justificadas por uma alegação inverificável e ambígua, duplo emprego e misérias do género. Havia faltas, claro - como já não havia, por exemplo, na universidade. Mas só formalmente. Com a consumada desvergonha indígena, bastava assinar um livro, guardado por uma secretária ou um contínuo, para estabelecer a presença, em princípio obrigatória, a qualquer sessão. A seguir, cada um ia à sua vida ou, se ficava em S. Bento, ficava a fazer horas pelas bancadas, lendo ou conversando. Tudo aquilo funcionava como funcionaria uma escola secundária indisciplinada e barata. (...) Votar como lhe mandam não ofende a deputação do país. Prescindir da hipocrisia, da trapalhada e da borla não admite. A história é triste. É Portugal por uma pena.»

Vasco Pulido Valente, Público


«A quantidade de opinião no cabo não tem paralelo com qualquer período anterior da TV ou da imprensa. Há programas de comentadores generalistas, sobre economia, política, desporto, sobre tudo e nada, comentadores de notícias, de notícias sobre notícias, de decisões judiciais, de notícias sobre decisões judiciais, comentadores de comentadores, uf! As talking heads transbordaram para os generalistas: os directores da SIC, por exemplo, já comentam nos seus próprios noticiários, juntando-se aos comentadores históricos e aos recorrentes. Haver tanta opinião é excelente, se for plural, mas o excesso poderá cansar os espectadores. Noto, também, que alguns programas com jornalistas tendem, infelizmente, ou a seguir a "onda" de opinião vigente ou a voz da central de S. Bento. Tentando fugir à opinião óbvia, Mário Crespo reúne agora semanalmente três especialistas, três vozes desafinadas com o "sistema" dos bem-comportados: Medina Carreira, João Duque e Nuno Crato (Plano Inclinado, SICN, 2ª). O "sistema" no poder logo disse mal do programa: muito repetitivo - como se diversos outros programas não fossem repetições de repetições de repetições das opiniões próprias, dos colegas, camaradas, patrões, banqueiros e do poder. A repetição é inevitável a quem se expõe com regularidade no espaço público. Mas as repetições de quem está fora do sistema da "opinião habitual" não são piores do que as outras, pelo contrário, são mais raras e mais originais. O Plano Inclinado tem essa originalidade. Nesta altura, há no cabo programas de debate que ajudam a compreender melhor a realidade nacional e internacional, como Quadratura do Círculo, Plano Inclinado, Sociedade das Nações, na SICN, e, na TVI24, A Torto e a Direito e Roda Livre. Neste, Vasco Pulido Valente foi infelizmente substituído por um comentador, Pedro Adão Silva, completamente preso a posições partidárias. (...)

«Desde que o PS voltou a ficar em primeiro nas legislativas, o director de Informação da RTP, José Alberto Carvalho, anda mais atrevidote. Participou inopinadamente num Prós e Contras destinado a tramar o director do Expresso e o então director do PÚBLICO. Deu entrevistas falando com um autoritarismo antes escondido, semelhante ao do Governo. Numa conferência pública, co-organizada pela RTP, desceu ao mais baixo nível do insulto e de negação do debate na esfera pública democrática, chamando ao autor de uma crítica "doente" mental. Na semana passada, Carvalho inventou umas regras para os jornalistas da RTP1 seguirem em actividades da sua esfera privada, em blogues e em redes sociais, como o FaceBook ou o Twitter. As "recomendações" de Carvalho ofendem os mais básicos princípios da liberdade de expressão e das liberdades individuais em geral. Diz que os jornalistas da RTP "nunca" devem escrever on-line o que não pudessem dizer numa notícia. Quer dizer, fora das horas de serviço e em actividades individuais não poderiam opinar sobre o mundo, a vida, as pessoas. Diz também que os jornalistas devem escorraçar amigos no Facebook se isso desequilibrar o que ele, Carvalho, julga ser a "imparcialidade" nas relações humanas: um jornalista da RTP não poderia, por exemplo, apresentar no Facebook "demasiados" amigos do BE, do CDS ou doutra organização das "áreas" que Carvalho condena. As nove metediças "recomendações", divulgadas no 24 Horas (26.11), parecem-me um festival de controleirismo militante à la ex-directora regional de Educação do Norte, bem típico da era socretista. Seriam apenas ridículas se não constituíssem um enxovalho, mais um, para os jornalistas da RTP, com as sugestões de autocensura e de vigilância politicamente - socretistamente - correcta.Os jornalistas da RTP1 ouvidos pelo 24 Horas tentaram esquivar-se, ou disseram o óbvio - que o comportamento das pessoas em rede deve reger-se pelo bom senso, o que tornaria as "recomendações" inúteis -, ou concordaram, revelando tristemente já funcionarem dentro do esquema que o actual Governo sempre desejou: que se portem bem. Se não, levam. Perdem regalias ou o emprego.»

Eduardo Cintra Torres, idem

4 comentários:

radical livre disse...

estou cansado de viver
neste gulag psiquiártico
dirigido por ratazanas

o avô do pedro deve rebolar-se de tristeza no oriente eterno

Anónimo disse...

Completamente inimputável esse Cintra Torres.
O homem é doentiamente louco.

Anónimo disse...

é preciso ser muito sonso para vir dizer que Medina Carreira, nuno crato e João duque não pertencem ao sistema. Falácias como as do pacheco, come quem quer.

Anónimo disse...

O Carvalho é o protótipo do lambe-kus da "comunicação". E sempre foi um bocado axuxalhado... Há alguns contrastes perto dele...

PC