27.11.09

MELO ANTUNES

Decorreu - ou está a decorrer - um «colóquio» acerca daquele que ficou conhecido como o ideólogo do MFA, Melo Antunes. O MFA era o «movimento das forças armadas», aquela coisa enfeitada a cravos que, no dia 25 de Abril de 1974, "derrubou o fascismo". Reza a história que começou a ser preparado em 1973 mais como uma revolta corporativa do que como movimento especificamente político. Mesmo assim, a Melo Antunes sempre foram imputadas duas ou três menções "ideológicas" no meio do deserto intelectual dos "generosos" capitães. De facto, Melo Antunes distinguiu-se dos outros por isso. Só que ninguém se deu ao trabalho de "esmiuçar" aquelas menções porque Antunes fazia a "ponte" com a esquerda e o regime sempre se sentiu bem em ser referenciado como de "esquerda". Até Sócrates, que não é ideologicamente coisa alguma, é da "esquerda moderna". Melo Antunes nunca se deu bem com o "desvio" social-democrata que se seguiu ao PREC. Era fundamentalmente um marxista "iluminista" que, no jargão da época, queria dizer "terceiro-mundista" e que hoje se poderia traduzir por multiculturalista. O seu apoio político a extravagâncias como Lurdes Pintasilgo - ou a ambiguidades como Jorge Sampaio - provam-no. Dos três ex-PR's, só este último verdadeiramente seria "melo-antunista" já que não é verosímil que possa existir algo chamado "sampaísmo". A presença do velho coronel "ideólogo" no conselho de Estado de Sampaio, a instâncias deste, sossegava-o. Soares e Eanes estarão mais gratos circunstancialmente ao militar político do que outra coisa qualquer. Dito isto, Cavaco dificilmente encaixa neste friso jubilatório. Melo Antunes jamais poderia conceber um Chefe de Estado oriundo da "direita" e, muito menos, que o primeiro fosse justamente Cavaco. Não faria, pois, qualquer sentido ir agora hipocritamente homenageá-lo.

7 comentários:

radical livre disse...

quem o conhecia bem desde os açores era um falecido amigo (Pedro da Silveira), redactor da seara nova, que sobre ele escreveu num jornal diário.
depois de lembrar a história da caixa do violino
comparou-o aos cagarros, aves que apenas fazem barulho.
quiz processar o Pedro mas foi desaconselhado porque alguém lhe disse que este sabia demais.

a um conhecido deputado do pcp disse o Pedro.esqueceu-se da aspas porque o texto não é seu. o sr. escreve português com as patas

que descanse em paz

Anónimo disse...

Definitivamente, Cavaco não é hipócrita. E não é "de direita"... é aceitável para "a direita".

PC

Eduardo Freitas disse...

Cavaco Silva é um social-democrata se por tal entendermos uma doutrina que, sem questionar o espaço fundamental de liberdade do indivíduo e da sociedade, entende que a política económica a cargo do Estado permite pilotar (não dirigir) a Economia de um país na direcção certa assim se utilizem os instrumentos adequados face às circunstâncias num dado momento do tempo.

Basta ter sido aluno dele ou conhecer a sua tese de doutouramento para perceber que, pelo menos desde a idade adulta, ele não é um homem de "direita".

Só por idiotia ou troca-tintice se pode pensar dele outra coisa.

Garganta Funda... disse...

O actual PR lida muito mal com a história recente de Portugal e com alguns dos seus protogonistas.

De facto Melo Antunes foi o ideólogo do 25 de Abril e do 25 de Novembro.

Óbviamente que foi sempre um homem de esquerda; uma esquerda sui generis, não alinhada com a esquerda totalitária nem com a esquerda laica e republicana.

Foi um homem injustiçado, principalmente pelos beneficiários directos do 25 de Abril e do 25 Novembro.

Morreu amargurado com a politica portuguesa e com toda a pouca vergonha que se instalou nas instituições.

(Melo Antunes tinha ligações familiares, afectivas e profissionais com os Açores, e foi a partir daqui, com Vasco Lourenço e outros oficiais, que planearam o 25 de Abril.
Ainda veremos novamente a partir dos Açores um novo «movimento de libertação» para libertar o rectângulo da opressão chucha e da corrupção que invade todos os corpos da sociedade portuguesa.
Não seria a primeira vez que os Açores libertam Portugal e julgo que não será a última...)

Anónimo disse...

muitas vezes penso que é inteligente, pela qualidade da análise (algumas mesmo "na mouche")outras por intuição. Fiquei surpreendido pela sua opinião de Melo Antunes.
o que seria sem ele? Otelo ou Jaime Neves?
Você está enganado.
Por favor veja melhor...

Carlos Sério disse...

"foi sempre um homem de esquerda; uma esquerda sui generis, não alinhada com a esquerda totalitária nem com a esquerda laica e republicana."

Sem duvida. Convivi 6 meses com ele diariamente,almoçávamos e jantavamos juntos, discutiamos política e jogavamos xadrez. No Norte de Angola, ele como capitão eu como alferes, em 1969. Era um militar, obediente à disciplina militar mas aberto aos ideais democráticos.Com uma cultura para além do que era comum entre os militares de carreira. Um bom homem, com posterior acção decisiva no 25 de Abril.

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois sim, tudo isto é muito bonito, mas o que eu jamais percebi foi a legitimidade dessa gente em alcandroar-se a decisores do porvir nacional. Mas quem pensava o Melo Antunes que era? Algum Fontes Pereira de Melo? Um Herculano? Nem um Oliveira Martins, quanto mais...
daqui a cem anos, de 1974-75 só sobejará um facto: a "descolonização exemplar".