22.1.11

REFLEXÕES

«O chamado "dia de reflexão" antes da realização de qualquer acto eleitoral não pode ser entendido como um convite a uma espécie de luto espiritual, qual sexta-feira santa em termos cívicos. É impossível evacuar por decreto toda a carga da agenda política em vigor. Vamos então aproveitar este sábado para reflectir sobre algumas características das campanhas presidenciais. Em primeiro lugar, são campanhas essencialmente personalizadas, sem programa, assentes no carácter e demais qualidades do pretendente a titular de um órgão de soberania uni-pessoal, eleito por voto livre, universal e directo dos cidadãos desde há 35 anos. A estabilidade deste órgão de soberania atesta a bondade do processo: todos os presidentes assim eleitos cumpriram os seus mandatos, contrariamente aos presidentes da República eleitos pelo Congresso. Basta recordar que só António José de Almeida o completou para se perceber o mérito da eleição directa do PR. Não é só uma questão de competências, é também uma questão de independência do jogo parlamentar. Em segundo lugar, as eleições presidenciais são tratadas com filtros diversos pelos partidos. Já serviram por vezes para uma espécie de "Adeus português" aos candidatos. Se por um lado estas eleições servem aos candidatos para se emanciparem dos seus partidos de origem, por outro também permitem aos partidos desembaraçarem-se de certos líderes e reorganizarem-se à volta de outras hierarquias e de outros grupos de interesse. Em terceiro lugar, com a excepção da eleição de 1976, as campanhas presidenciais desenrolam-se em pleno Inverno, o que não deixa de ter as suas consequências, nomeadamente na mobilização que provocam, e no possível estímulo climático à abstenção. Acresce que a própria quadra natalícia interrompe o ritmo político da campanha, introduz as institucionais mensagens de Natal e de Ano Novo, que podem confundir os planos e os discursos. Mais, vistas as imagens do estrangeiro, hão-de pensar que Portugal é um país de sobretudos e cachecóis… Ora este mau calendário das presidenciais deveria ser corrigido pelo próximo PR, já que é este que marca o dia das eleições para o cargo. Porque não experimentar um período mais primaveril? Por exemplo, o feriado do 25 de Abril. Seria uma maneira de assegurar maior aquecimento nas campanhas, além de mudar a forma de comemoração da data de cinco em cinco anos.»

José Medeiros Ferreira, CM

8 comentários:

Anónimo disse...

Já ninguém comemora o 25 de Abril e não é com os paninhos quentes das presidenciais que se evitará o completo alheamento da turba multa.
O regime pode até não estar "no fim", mas está com a ahorta muito entupida ...

Anónimo disse...

A esquerda tem pessoas como esta, com cultura, com conhecimento profundo de política internacional (um bem precioso nos próximos cinco anos), que sabe o que é essencial e acessório, que até teria boa aceitação em parte do PSD, no PS centro, bem como no ala mais à esquerda do PS, (penso que mesmo ao PC e ao BE iria buscar votos) e "convidam" para seu representante um, como chamar-lhe?!?, um alegrete.
Carlos Rodrigues

Anónimo disse...

Segundo a CdR, Artigo 128º, a duração do mandato do Presidente da República é de cinco anos.

Como raio poderia convocar eleições para o dia 25 de Abril?

Anónimo disse...

A propósito do conhecimento da "coisa pública", ouvi o Prof. Braga de Macedo (na TV) dizer esta coisa extraordinária :
- «Portugal pode inclusivamente comprar a sua própria dívida soberana».
Como me falta muitos conhecimentos (sem ironia)fiquei com esta corrosiva dúvida : - o homem falava mesmo a sério ou estava na reinação ?

amsf disse...

As elites nacionais vão receber o meu cartão vermelho da mão do candidato José Manuel COELHO!

Ainda acredito numa 2ª volta que depende dos portugueses e não das empresas de sondagens...

Cáustico disse...

Já reflecti há muito. E a conclusão a que cheguei é a seguinte: o país precisa de mudar de Constituição, fazendo desaparecer tudo o que nela cheire a socialismo ou a qualquer outro odor político, e precisa, como de pão para a boca, de acabar com os bandos de políticos.
Na Assembleia da República será suficiente metade do actual número de deputados, escolhidos, não pelos chefes dos bandos, mas directamente pelo povo.
Sá assim os deputados serão os representantes do povo.

joshua disse...

Fantástico este Medeiros.

Anónimo disse...

Eleições a 25A era porreiro, pá.

O pessoal fazia a ponte da praxe e a abstenção ainda subiria mais.