Os puristas não devem gostar de Hereafter, de Clint Eastwood (na foto com um dos protagonistas em Londres). Videntes que "falam" com mortos, vivos que procuram falar com mortos não "cola", de facto, à primeira vista com a sobriedade iconoclasta de Eastwood. Mas isso é o que menos importa no filme. Na realidade, Hereafter pode perfeitamente ser encarado como uma espécie de ensaio acerca da literatura. Não apenas pela obsessiva presença de Charles Dickens - dito pela extraordinária voz de Derek Jacobi, ao vivo e no silêncio dos quartos em gravação ouvida a título de Lexotan - mas porque as personagens passam o tempo a interrogar, a interrogar-se e a interrogar a morte que é aquilo de que a literatura, se for feita de alguma coisa, é feita. Às tantas, o rapazinho da foto pergunta ao vidente/Matt Damon se, depois de tantas "sessões", ele já sabe o que é que está no "lado de lá". "Ainda não", respondeu o incrédulo vidente a fazer lembrar a Alice de Carroll. É neste "ainda não" que a literatura "vive" a sua morte - «dying around us every day» (Dickens, Bleak House).
8 comentários:
neste fascismo de mortos-vivos
só há vida para além da morte.
'a minha alma está caída no pavimento adhesit pavimento anima mea' Salmo 18
«a ambição é o último refúigio dos fracassados» Óscar Wilde
Por falar com mortos o Clint podia fazer um filme sobre a Federação P. Futebol, do morto e reposto Madail do secretario de estado, a quem chamam teimoso, mas não há um teimoso sozinho...A FPF não é mesmo pertinho do largo do rato?
Não são mortos . Sao sombras dos futuros ministros que a remodelação está perto.
VIDENTES QUE FALAM COM VIVOS
disso já há menos
A fome e a miséria Living among us every day
Miserere
Parabéns pelo blogue. Portugal vai dar a conhecer os seus talentos. Já conhecem o novo programa da Sic estreia já hoje. Visitem o Blog
Portugal tem Talento
Cumprimentos
Este filme não vou perder!
Já o viu JG.?
Se não tivesse visto, como é que queria que escrevesse isto, Karocha?
A questão da (i)mortalidade nunca me atormentou, ou se calhar, fiz sempre o possível por me arredar pelo irremediável sofrimento que acarreta para alguém que perdeu a fé e, por isso, deixou de acreditar no transcendente. Depois de ver o filme, entrei numa espécie de catarse momentânea e só consigo atribuir isso à genialidade de Eastwood.
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