7.2.10

ENTRADAS À PALA


Grande parte da cultura disponibilizada pelos organismos públicos é gratuita. Nos museus, nos palácios, nos teatros, no bailado, são mais os que entram sem pagar bilhete do que os que pagam, "noticia" o jornal Público.


Eu, uma vez, perguntei, com ironia discreta, a uma pessoa do métier se achava que as salas cheias queriam dizer alguma coisa. Responderam-me que sim, aquilo era mesmo lucro e interesse das pessoas pela cultura, um óptimo trabalho de divulgação e não, não eram mesmo amigos dos amigos dos amigos. Lá agora, que disparate! Calei-me, está bom de ver, e sorri. Pela minha parte, só sei que nunca paguei para ir ao São Carlos porque chegaram-me sempre convites, que já entrei uma data de vezes sem pagar em museus, que tenho, basta querer, livros de borla ou com mega-descontos que, ao teatro, também já fui umas vezes a custo zero e que tive uma assinatura de "amigo da Companhia Nacional de Bailado" absolutamente gratuita. De resto, não adianta fazer das pessoas parvas. Há muito boa gente a trabalhar na Cultura que precisa de viver mas há muitas outras a trabalhar fora e que, pura e simplesmente, não estão para pagar um produto que, em Portugal, é caríssimo e nem sempre bom. Na Europa, vai-se à ópera por €5 e sem os provincianos jogos sociais portugueses e vêem-se coisas óptimas. E também não adianta andar a dizer que, de repente, existiu uma sensibilização para a Cultura quando nada disso equivale à existência de mais e melhores meios de produção. Pelo contrário, Portugal só teve Ministério da Cultura em 1996 que, dada irrelevância para que está virado agora, deve estar quase a acabar e, entretanto, vai tendo cada vez menos dinheiro. Não perceber que a Cultura é um factor de dinamização económica através da criação de emprego num País é não perceber nada. Como é que uma ministra que nem sequer consegue resolver concursos básicos de subsidiação consegue resolver o que quer que seja? Ao menos tenha a coragem para acabar com eles de vez. Quanto mais borlas forem dadas, e não adianta querer que elas não sejam aceites porque há pouca gente que, não tendo o bilhete pago, continua a ir ver ou visitar qualquer coisa, mais salas esgotadas existem sem que isso corresponda a dinheiro e menos possibilidade há de receber pessoas dispostas a pagar. Além disso, querer-se que um pai de família dê dinheiro para ir a um museu ou ao teatro (ver alguma coisa de jeito e não a "Conversa da Treta" ou o La Féria) em vez de ir à bola, é um processo que só é possível de acreditar com muita propaganda. Não está nos genes de um latino.

7 comentários:

Anónimo disse...

Este post que o João escreve é para as dezenas de paineleiros que todos os dias dizem na televisão que o Estado não tem por onde cortar sem ser nos salários. Isto é a regra há muitos anos pelo país fora. Esperem pela reginalização e vão ver que no fim é preciso construir mais cinco salas por cada uma existente. É a cultura do Estado para o Estado e para as pessoas das entidades que organizam.

radical livre disse...

basta ouvir o pm para se verificar o tipo de cul-tura das é-lites.

as telenovelas e os purga-mas da manhã e da tarde com o "gado"
para se avaliar por baixo.

no meio ficam os borlistas dos teatros finos.
e os apreciadores que frequentam o "pontapé nas costas" do coliseu

João Gonçalves disse...

O texto é de ALM.

Gustavo A. B. disse...

Um sonoro 'Bravo', de pé!!..

Chloé disse...

Radigrafia perfeita.
Houve um Ministro da Cultura, em tempo. Um governante muito completo, que por acaso era arrogante, mas perdoava-se-lhe o mal pelo bem que fazia.
Agora, apesar da dignidade orgânica, voltámos ao tempo das secretarias de estado, meras despachantes dos clientes e das seitas do costume (na cultura são sempre os mesmos, não há nada que enganar).

Anónimo disse...

Ministério da Cultura? Isso é uma invenção sem sentido. Nenhum ministério faz cultura. Nem o dinheiro. O problema é vender e entrar nas condições de mercado. É disso que estamos a falar. Mais nada. O ministério serve para criar linhas de orientação. Mas essas linhas não têm nada a ver com cultura. Se alguém sente a inquietude da vida e a quer expressar não tem outro remédio senão fazê-lo ou então espetar um tiro nos cornos.

Anónimo disse...

Enfim, você pôs a render a ideia de que é cultoe por isso, vai de borla onde todos pagam. O costume.