Grande parte da cultura disponibilizada pelos organismos públicos é gratuita. Nos museus, nos palácios, nos teatros, no bailado, são mais os que entram sem pagar bilhete do que os que pagam, "noticia" o jornal Público.
Eu, uma vez, perguntei, com ironia discreta, a uma pessoa do métier se achava que as salas cheias queriam dizer alguma coisa. Responderam-me que sim, aquilo era mesmo lucro e interesse das pessoas pela cultura, um óptimo trabalho de divulgação e não, não eram mesmo amigos dos amigos dos amigos. Lá agora, que disparate! Calei-me, está bom de ver, e sorri. Pela minha parte, só sei que nunca paguei para ir ao São Carlos porque chegaram-me sempre convites, que já entrei uma data de vezes sem pagar em museus, que tenho, basta querer, livros de borla ou com mega-descontos que, ao teatro, também já fui umas vezes a custo zero e que tive uma assinatura de "amigo da Companhia Nacional de Bailado" absolutamente gratuita. De resto, não adianta fazer das pessoas parvas. Há muito boa gente a trabalhar na Cultura que precisa de viver mas há muitas outras a trabalhar fora e que, pura e simplesmente, não estão para pagar um produto que, em Portugal, é caríssimo e nem sempre bom. Na Europa, vai-se à ópera por €5 e sem os provincianos jogos sociais portugueses e vêem-se coisas óptimas. E também não adianta andar a dizer que, de repente, existiu uma sensibilização para a Cultura quando nada disso equivale à existência de mais e melhores meios de produção. Pelo contrário, Portugal só teve Ministério da Cultura em 1996 que, dada irrelevância para que está virado agora, deve estar quase a acabar e, entretanto, vai tendo cada vez menos dinheiro. Não perceber que a Cultura é um factor de dinamização económica através da criação de emprego num País é não perceber nada. Como é que uma ministra que nem sequer consegue resolver concursos básicos de subsidiação consegue resolver o que quer que seja? Ao menos tenha a coragem para acabar com eles de vez. Quanto mais borlas forem dadas, e não adianta querer que elas não sejam aceites porque há pouca gente que, não tendo o bilhete pago, continua a ir ver ou visitar qualquer coisa, mais salas esgotadas existem sem que isso corresponda a dinheiro e menos possibilidade há de receber pessoas dispostas a pagar. Além disso, querer-se que um pai de família dê dinheiro para ir a um museu ou ao teatro (ver alguma coisa de jeito e não a "Conversa da Treta" ou o La Féria) em vez de ir à bola, é um processo que só é possível de acreditar com muita propaganda. Não está nos genes de um latino.
7 comentários:
Este post que o João escreve é para as dezenas de paineleiros que todos os dias dizem na televisão que o Estado não tem por onde cortar sem ser nos salários. Isto é a regra há muitos anos pelo país fora. Esperem pela reginalização e vão ver que no fim é preciso construir mais cinco salas por cada uma existente. É a cultura do Estado para o Estado e para as pessoas das entidades que organizam.
basta ouvir o pm para se verificar o tipo de cul-tura das é-lites.
as telenovelas e os purga-mas da manhã e da tarde com o "gado"
para se avaliar por baixo.
no meio ficam os borlistas dos teatros finos.
e os apreciadores que frequentam o "pontapé nas costas" do coliseu
O texto é de ALM.
Um sonoro 'Bravo', de pé!!..
Radigrafia perfeita.
Houve um Ministro da Cultura, em tempo. Um governante muito completo, que por acaso era arrogante, mas perdoava-se-lhe o mal pelo bem que fazia.
Agora, apesar da dignidade orgânica, voltámos ao tempo das secretarias de estado, meras despachantes dos clientes e das seitas do costume (na cultura são sempre os mesmos, não há nada que enganar).
Ministério da Cultura? Isso é uma invenção sem sentido. Nenhum ministério faz cultura. Nem o dinheiro. O problema é vender e entrar nas condições de mercado. É disso que estamos a falar. Mais nada. O ministério serve para criar linhas de orientação. Mas essas linhas não têm nada a ver com cultura. Se alguém sente a inquietude da vida e a quer expressar não tem outro remédio senão fazê-lo ou então espetar um tiro nos cornos.
Enfim, você pôs a render a ideia de que é cultoe por isso, vai de borla onde todos pagam. O costume.
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