12.5.10

A CULTURA DO REGIME

De manhã, o padre Tolentino Mendonça organizou um encontro do chamado mundo da cultura lusa com Bento XVI. Mendonça escreveu há dias uma coisa razoável no Expresso sobre o Papa. De resto, dá ideia que impingiram a Tolentino - e ao Patriarca de Lisboa - uma catrefada de nomes que nem sequer por caridade cristã ali deviam estar. Banqueiros, o sr. Bava (esse mesmo), deputados, "tias e tios" da Caras, etc., etc. o que é que têm a ver com a cultura? E Oliveira Martins, esse "gigante" do regime, bem no palco, e que presentemente preside ao Tribunal de Contas, o que é que lá estava a fazer? Pelo CNC? É pouco. No fundo, o regime precisava do seu momento durante a visita papal e este era o derradeiro. Mil e quinhentas criaturas - algumas delas estimáveis e justificáveis por elas mesmas como Manoel de Oliveira - pouco mais representam do que elas mesmas. Por exemplo, no Público, uma eminência cultural emergente, Rui Tavares, insurge-se pela circunstância de Raztinger ter mencionado D. Manuel Gonçalves Cerejeira. Como não é estúpido - como tantos outros que, nestes dias e nos que os precederam, não perdem ocasião para evidenciar a sua exuberante estupidez - Tavares devia saber história daquela de que se reclama historiador. E que Cerejeira era um teólogo e um intelectual de primeiríssima água independentemente do tempo. Ou achará Tavares que muitos dos poltrões que se foram sentar no CCB em nome da cultura do regime (literalmente) são melhores do que ele foi? Como afirmou o Papa, «um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados.» É como estamos.

Adenda (do leitor Alves Pimenta): «Ontem à noite, na Rádio Renascença, ouvi o padre-poeta Tolentino dizer que leu "toda a poesia" (sic!!!) publicada em Portugal em 2009, pelo que estava, naturalmente, apto a seleccionar os "intelectuais" para o encontro com o Papa no CCB. Pareceu-me prosápia a mais. Mas deve ser ignorância minha, claro.» Talvez o leitor Alves Pimenta esteja esquecido do recente contributo de Tolentino, o poeta, para a divulgação dessa "poesia" e desses "poetas". Não se lembra? De certeza que estes compadres e estas comadres estiveram lá todos.

13 comentários:

Anónimo disse...

Eu pensava que o Oliveira Martins era da Opus Dei.

um matemático disse...

Alguém sabe quantos matemáticos estavam na audiência?

Só por curiosidade, ou não será este o país onde se está a dar a machadada final nos currículos matemáticos porque "a Matemática é um factor de exclusão social".

Caramba... Depois queixem-se dos invasores talibã.

Floribundus disse...

no centro deste labirinto está o minotauro.
as cornadas são aos milhares.

também nos dias de hoje a europa foi reptada por um touro que pasta nos países emergentes

90% não percebeu a mensagem.

Manuel de Oliveira foi o único que mereceu estar presente.
mas está lixado

Anónimo disse...

dar conselhos ao Tavares é mais inútil que pregar aos peixes ...

Anónimo disse...

Ouvir um convidado, a falar em Elvis como uma verborreia sem graça, um tal (?) Manuel João Vieira, musico, só por ser um ex-ena pá 2000 doi qualquer ouvido. Lá estava em peso uns tantos que tem desgraçado Portugal, a maçonaria relativista, uns chulos do regime e etc...
alice goes

Anónimo disse...

Não falando das que são públicas, reconheci algumas das carantonhas dos convidados. Estão lá porque, ou são católicos - a minha defunta avó também era e não foi exumada para a função - ou porque sem o serem, a tempo se insinuaram no meio ou a alguém que os tomou, por ignorância ou interesse, como material apresentável. Edificante.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

O tal Tavares já devia ter tirado há algum tempo a etiqueta de "historiador" com que ornamenta o seu nome nos artigos do "Público". Referir-se a Cerejeira como responsável de uma qualquer sintonia(sic) da Igreja com o regime anterior,é de chumbo no 1º ano de qualquer curso de História,ou deveria ser,supondo que havia cursos de História. Perguntar-se-ia ao menino Tavares:- Não leu a entrada de Salgado de Matos sobre o Cardeal no "Dicionário da História de Portugal" do Barreto e da Mónica"? Não leu o recente livro da insuspeita Irene Pimentel sobre o mesmo "Príncipe da Igreja"? A separação de caminhos,como até Franco Nogueira refere,dá-se logo no início das responsabilidades políticas de Salazar. Concordância e até apoio em alguns aspectos,certamente,era inevitável na época e nas circunstâncias,mas "sintonia",que é um termo que um historiador a sério deve pesar certamente que não.

Merkwürdigliebe disse...

Não fosse o Salazar, o Cardeal Cerejeira, o Benfica, os Católicos, as Aparições Marianas, a Amália e o Papa, e Portugal hoje até seria um membro do G7. Bardamerda de cretinos. São os filhos bastardos de Abril.
Bento XVI odiado, apupado e preso no labirinto, os Teseus sempre foram uns reais filhos da puta.

Cláudia [ACV] disse...

"Mil e quinhentas criaturas - algumas delas estimáveis e justificáveis por elas mesmas como Manoel de Oliveira - pouco mais representam do que elas mesmas."


João,
do meu lugar de segunda plateia não vi banqueiros nem socialites. Não descreio que alguns lá tenham estado. À minha volta vi sobretudo pessoas que não têm nem procuram ter protagonismo mediático, mas que por ofício conheço, e que vão trilhando há anos(em muitos casos décadas) estudos em Línguas Clássicas, História, Literatura, Economia, Direito. Vi também especialistas em conservação do património, músicos e musicólogos, teólogos de várias confissões, editores, etc.

Estas pessoas estiveram lá a título individual, sim. Mas muitas delas integram dinâmicas (não me ocorre palavra melhor) de trabalho (nuns casos científico, noutros artístico, religioso) solidário, tentando que ele aproveite a quem por ele se interesse. Desconsiderá-lo apodando-as de "figuras do regime" parece-me injusto.

saudações fraternas,
acv

fado alexandrino. disse...

Já havia uma bitola para notável, foi a vacina H1N1.
Agora passa a haver outra, ter ou não sido convidado.
Se conseguirem apurar quem tem as duas está encontrado o creme do creme tuga.

Karocha disse...

Também lá estiveram a Caneças e o Vieira?!

Anónimo disse...

Não sabia haver tanto intelectual em e gente de cultura em Portugal. Se o Santo Padre exibisse a Cruz muitos teriam deixado os sapatos e fugiriam.

Anónimo disse...

Estou certo de que naquela massa informe de "agentes da cultura portuguesa" se encontravam muitas criaturas indigentes culturais que, com a generalizada ignorância em iconografia, não saberiam distinguir uma anunciação dum cartaz de viagens para Punta Cana.

Ass.: Besta Imunda