«Em 1742, um músico alemão, que vivera quatro anos em Itália, estreou em Dublin uma obra em inglês sobre uma história passada em Jerusalém e partilhada por todo o continente. A obra, a que o letrista chamou "entretenimento", teve grande êxito junto de "instruídos e iletrados", escreveu alguém que assistiu à estreia. O autor apresentou-a depois em Londres 36 vezes. Passados 268 anos, o Messias, de Handel, faz parte do quotidiano e de sempre. Vem de um tempo em que existia uma Europa cultural e até política, dividida, mas una. Hoje, reduzida às couves de Bruxelas e ao entusiasmo norueguês pelo Festival da Canção, a Europa definha. Bento XVI tem razão.» O Eduardo Cintra Torres escreve isto a propósito de uma merda qualquer, servida às postas pela RTP durante a semana. Mas serve-me para, da música de que ele fala (a séria e não a grunhida, pelos vistos, na Noruega) passar para os livros. "Instruídos e iletrados", nos dias de hoje, mal se distinguem. Todas as infames bestas que conheço, acumulam e coincidem - são instruídos e iletrados. Ontem, ao fim da tarde, fui à Livraria Lácio buscar um livro esgotado nos centros comerciais da "especialidade". E fiquei à conversa com o Sr. André. A conversa passou por cá, pelo Brasil, por talhos que outrora foram editoras, por Vergílio Ferreira, pelos cinquenta anos da Presença, por Sena, por Fernando Guedes, por Manuel Brito, enquanto lá fora, no Campo Grande, passavam bandos de corvos agarrados aos copos de plástico com cerveja. Imagino que nem sequer dez dos milhares de "alunos" das universidades das redondezas terão entrado na Lácio ao longo de um ano lectivo. Aquilo não é sítio para putas, femininas ou masculinas, formadas ou deformadas. É um espaço de dignidade e de humanidade, de amor aos livros como poucos já existem, onde as vendas mal dão para pagar a luz. A luz da poltrona edp e não a «pequenina luz" do poema de Jorge de Sena que pessoas como o Sr. André teimam não deixar extinguir. Bem haja.
4 comentários:
O Dr. Miguel Castelo Branco chama aos estudantes tipo SandMan os militantes do "Nacional-Morceguismo". Bem apanhado.
Ass.: Besta Imunda
Ainda na 2a feira passada lá estive à conversa com o Sr. André. Falámos de Salazar, da Guerra Colonial e sobretudo dos Homens de outros tempos em comparação com os vermes dos nossos tempos.
Ainda vão havendo locais como o que descreve. Muitos deles com "Srs. André". Falamos, naturalmente, de muitos estabelecimentos de comércio tradicional.
Estes locais, onde a proximidade e a confiança faziam de todos nós humanos, são uma espécie em vias de extinção.
Muitos preferem, hoje, esses excepcionais locais de urbanidade e civismo como são os Centros Comerciais.
Sinais dos tempos e de como, em tão pouco tempo, fomos regredindo pensando que era evolução...
nem sabia o seu nome, apesar de lá passar tantas vezes e outras tantas me ter perdido a falar com ele...tem espinha dorsal, coisa quer vai faltando por aí.
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