O senhor ministro sem pasta - sem, aliás, quase tudo -, Passos Coelho, recomendou que não haja greve geral por causa da salvação patriótica em que ele se empenhou (nos empenhou) com Sócrates. Tem, diz ele, receio que a "instabilidade social" agrave o que já está agravado pela natureza das coisas. Com tantas cautelas, e apesar da inutilidade previamente anunciada da dita, é caso para nos interrogarmos se Passos não terá aconselhado Mota Amaral a, na prática, parar com a pachecal comissão de inquérito para a salvaguarda da estabilidade, em geral, e da indiferença, em particular, que obrigam a manter em funções, aqui ou ali, pessoas com relações tortuosas com a verdade. Marcelo também firmou esta doutrina que, no antigo regime, se designava burocraticamente pelo famoso "a bem da nação". Em pouco tempo, Passos assimilou todos os vícios que, um dia, farão dele um digno representante - mais um - do estado a que isto chegou. Chapeau.
11 comentários:
...e assim se confirma que um lider jovem não tem necessàriamente um pensamento jovem.
Mas será que Pedro Passos Coelho, não tem mais nada a dizer ao País, do que banalidades?
Em Portugal está tudo a bater muito certinho. Há estabilidade política, sustentação do governo, cooperação estratégica, um ministro das finanças bem visto no exterior, menorização de questões fracturantes para estabilizar, uma santa campanha presidencial que une, reformas várias, o maior crescimento da Europa, boas exportações repentinas, etc. Faz lembrar os passarinhos a cantar por cima do silêncio da guerra, antes da emboscada.
A indiferença indiferente
Tivemos ocasião de assistir, nos últimos dias, ao desenvolvimento de seríssimos assuntos na SIC; daquelas incontornáveis notícias que, nestes tempos de vagos e distantes problemas, tomam naturalmente a prioridade no “alinhamento” das estações de televisão, segundo éticos critérios redactoriais:
1- Uma coisa chamada “Meia maratona do Douro vinhateiro” teve honras de problema nacional quando foi anunciada, com estrondo, a deficiente distribuição de água aos concorrentes ao longo da prova, por parte de uma organização má, que no sentir das massas, parecia desejar a perdição dos atletas – todos de primeira ordem e candidatos aos louros olímpicos.
2- O fim-de-semana balnear na Costa produziu, só no Sábado, 3 mortos por afogamento; e mais 2 espalhados pelo vasto território nacional – pérfida armadilha preparada para incautos veraneantes de todas as idades: a SIC atribuiu classificações e idades variáveis às vítimas - a mais velha, de idade variável entre os 33 e os 36 anos (também referidos 34) conforme a hora e o jornalista, foi então “um homem”, mas com afogamento em local incerto, praia do Traquínio ou praia do Tarquínio. Depois, a mais estável, foi então um menino de 11 anos (este manteve a idade e o género, mas o local do sinistro também mudou de nome); depois “uma criança” entre os 16 e os 18 anos, também por vezes com 17 e designado, conforme a hora, como “rapaz”, “adolescente”, “jovem”, “vítima do sexo masculino” e outras. Há ainda a lamentar a morte de “um jovem” ou “miúdo” de 12 anos (ou menos?) em Odivelas, assim como o “desaparecimento” ou “óbito” de uma menina de 15 anos, esta em local a definir. Tudo isto espalhou a consternação no país, porque inteiramente novo, imprevisível e completamente diferente da guerra colonial rodoviária que temos em curso desde que existem estatísticas e que produzem uns burocráticos 3 a 4 mortos por dia – que já enjoam e não arrepiam os rijos lombos dos ouvintes.
3- Os Globos-de-Ouro, ansiado certame de vaidades e crassas superficialidades, organizado pela SIC para a SIC e para os seus funcionários e foliculários: um espectáculo marciano com criaturas encadernadas em vestidos esvoaçantes e entaladas em fatos da moda, com gel na pinha. Auto-elogiando-se; auto-atribuindo-se prémios e distinções, supostamente votados pelo país expectante e papalvo, e revelados com surpresa e lágrimas sinceras. Óptima paródia, numa redução em pequenino, da insuportável cerimónia dos óscares. O luso noticiário da lusa SIC dedicou-lhe minutos infindos, como a um difícil e invejado exclusivo mundial.
4- Um treino da selecção nacional, nessa metrópole europeia do conhecimento que dá pelo nome de Covilhã. Queiroz e os seus rapazes deram “xou-dji-bóla” só durante cerca de 30 minutos, quando a assistência ávida tinha esperado horas a pé firme por bilhetes e planeado com a antecedência de dias aquele glorioso acontecimento. A rapaziada entrou, sentou, esperou, viu, e mal as estrelas recolheram ao repouso das play-stations e da internet, romperam a indignação e o escândalo: a turba sovaqueira, de cornadura enfeitada por lenços, bonés, cartolas e as beiças cravadas em vuvuzelas escarlates, desata na gritaria ofendida de quem queria mais e a mais tinha direito. Foi a espontânea e genuína revolta numa questão tão importante, que eclipsa dívida pública, desemprego, crescimento económico, financiamento difícil – tudo coisas menores que não afectam a malta.
5- Da extrema importância do Rock-in-Rio, por todos badalado com entusiasmo patriota, nem falarei.
Deus nos acompanhe...
Ass.: Besta Imunda
Era assim mesmo, João, "a bem da Nação". Todos a trabalhar para o mesmo fim.
Neste caso é evidente que o fim não tem nada de patriótico, não tem nada a ver com a defesa da nossa soberania, não tem nada a ver com o povo que supostamente representam.
Magnífica síntese da nossa infeliz situação actual.
Ana
SEM PASTA,SEM CHETA,SEM MASSA,SEM CABEÇA,SEM NEXO,SEM CHAMA,SEM GLÓRIA,SEM ARCABOIÇO,SEM CREDIBILIDADE,SEM PALAVRA,SEM TÊ-LOS NO SÍTIO,SEM NADA...
Está-me a parecer que não, que o sujeito jamais passará do estado em que presentemente se encontra e que é o de valet de chambre do falso engenheiro.
E andaram os psd's tão anchos na luta pela entronização de tal nulidade. Merecem todos os elogios que estão a receber do PS...
Também, de uma angélica coelheira infestada de motamarais e quejandos, podia esperar-se o quê?
"O patriotismo é o último refúgio de um canalha" Samuel Johnson
Besta Imunda
Luigi Barzini, no seu livro “Os Italianos”, tentou explicar a razão por que a Itália tem produzido os grandes génios artísticos, políticos e científicos e no entanto nunca foram uma grande potência mundial. Por que são os italianos comerciantes tão astutos como indivíduos e, não obstante, capitalistas tão ineficientes como nação? Barzini diz: “Os italianos toleram a hedionda incompetência de generais, presidentes, ditadores, professores.... cozinheiros, alfaites.... Neste mundo de desordem e catástrofe só a beleza é confiável. Só a excelência artística é incorruptível. “
Quem sabe se Portugal vai pelo mesmo caminho...
A mesma interrogação me assalta. Claro que se tivesse a certeza não ficaria "assaltado" e talvez, quiçá, "assaltasse" um alguém bem determinado.
João, aborrece-me imenso dizer mal de alguém em quem posso vir a ter de votar para sacudir o tal «líder mundial vagamente espanholizado» de cena. Mas começo, realmente, a não compreender a estratégia de oposição de Passos Coelho. Se ele não se sente preparado para assumir o poder, não seria melhor que guardasse algum recato? ;-)
P.S.: Julgo que Mota Amaral não terá precisado dos conselhos de Passos Coelho. É tão visível a sua descrença no interesse e na «dignidade política» desta comissão, que não percebo por que é que o escolheram para a coordenar.
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