12.2.10

AUTO-RETRATO E O RETRATO

1. «O pensamento totalitário é aquele que define o mundo em função de certo e errado e aglutina tudo em função dessas categorias.» É tipicamente o seu, Fernanda Câncio, ou precisa de explicador? Mas, não vá dar-se o caso de não querer perceber apesar de se auto-intitular "jornalista", aí vai:
2. «Esta estratégia de controlo pelo dinheiro ficou absolutamente clara na declaração de Sócrates a José António Saraiva por este agora revelada (i, 10/2): "Isto de a gente tentar comprar jornalistas é um disparate, porque a melhor forma de controlar a imprensa é controlar os patrões." Esta frase é lapidar como exemplo negativo; deve entrar directamente para os manuais de ciência política. Retrata exactamente parte do que tem sucedido em Portugal. Controlando os patrões, condiciona-se as empresas por inteiro. A imprensa é livre, mas os jornalistas não. Precisam de salário ao fim do mês, como toda a gente. Contrariar o Governo, por interposto patrão, pode significar perder o emprego, promoções, etc. As boas pessoas entram em processo de autocensura; algumas más pessoas entregam-se ao poder político. Com empresas de media e jornalistas fragilizados, o Governo pôde e pode fazer uma barreira de fogo de imposição de notícias, de agenda e de soundbites através de telefonemas, do próprio Sócrates ou de assessores governamentais. Acresce o controlo governamental político e financeiro da Lusa e da RTP. Na TV do Estado acumulam-se diariamente os casos de condicionamento da livre actividade jornalística. O caso do Telejornal é escandaloso, mas o Jornal da Tarde, feito a partir do Porto, é explosivamente escandaloso no servilismo à estratégia comunicacional do Governo até ao mais mínimo detalhe. O caso mais recente ocorreu no dia das primeiras revelações do Sol, 05/2, criando um "motim" na redacção (CM, 10/2). Desde 2005, há também o controlo da ERC, peça fundamental para atacar o jornalismo independente e abrir caminho à estratégia do Governo. Último episódio: o presidente da "reguladora" não quis analisar o caso TVI (não interessava ao Governo). Ele e a alma gémea, Estrela Serrano, puseram-se à parte desse inquérito, num acto de sedição dentro da própria instituição. No conjunto destas acções directas ou indirectas resulta uma estratégia de condicionamento geral, de anestesia, com semelhanças à de Putin na Rússia (aí com recurso à violência): uma democracia formal, com as liberdades de informar e opinar intactas - mas com condicionamento das vozes críticas e das notícias inconvenientes. A estratégia da aranha completou-se com o controlo do topo do aparelho judicial, a paralisação do funcionamento dos tribunais, as tentativas de condicionar os juízes e o desesperado recurso, ontem, por um homem de mão de Sócrates, de usar uma providência cautelar para impedir o Sol de noticiar o "esquema". Com audições anódinas, o Parlamento contribuirá para denunciar o Governo, mas não tomará medidas importantes para desbloquear Portugal. Quanto ao Presidente da República, o Governo conseguiu condicionar-lhe a palavra no momento crítico pré-eleitoral e neste momento Cavaco Silva revela considerar mais importante o controlo das finanças do que promover uma solução para o bloqueio político-institucional que varre a sociedade portuguesa de alto a baixo, apesar de esse bloqueio também contribuir para o agravamento da situação financeira. O círculo do "esquema" fecha-se e gira sem cessar e sem solução. É a isso que se chama "pântano", metáfora do bloqueio generalizado do sistema político. Enquanto a Justiça, o Presidente, o Parlamento e o PS democrático - todos nadando no "pântano", alguns contra vontade - não se livram deste primeiro-ministro nefasto para a democracia e o país, mais não resta do que continuar a denunciar o bloqueio, os abusos, as ilegalidades e os condicionamentos da livre actividade de informar, opinar e manifestar usando as liberdades formais. Eu estou com os autores dos blogues que dizem que preferiam escrever sobre outras coisas, em vez de termos de nos preocupar sistematicamente com a política e os perigos para o exercício da liberdade. Mas desde 2005 que me sinto obrigado por dever ético de cidadania a descrever e criticar o caso Sócrates, que é outro nome para o pântano. A resistência democrática e republicana a este Governo nefasto calha melhor neste ano de centenário do que os elogios ao regime de Afonso Costa, esse José Sócrates de há um século que levou a República à ruína e à ditadura.» (Eduardo Cintra Torres, Público).

4 comentários:

Anónimo disse...

tudo o que for retórica hoje só amacia o problema material, não é tempo de falar, é tempo de agir...
como as coisas estão, dizer que o sócrates é um potencial ditador só conduz a amaciar a tradução para a palavra ditador...

Anónimo disse...

«apesar de esse bloqueio também contribuir para o agravamento da situação financeira.»
Também não percebo que isto não seja uma evidência para o Presidente!

Anónimo disse...

O Presidente é homem de actuar, mas não seguirá o calendário dos blogues,partidos e da reeleilação. De momento há muita poeira, tem de assentar, depois temos de esperar a actuação do Parlamento e só no fim tomará decisões. O Prof Cavaco Silva é um formalista e sabe que como o Dr Jorge Sampaio a sua decisão abrirá um precedente constituicional, pelo que a demissão ou convocação de eleições tem de ter o apoio do eleitorado, isto é busca o mesmo resultado final que teve Jorge Sampaio ao despedir o Dr Pedro Santana Lopes. Por fim, sendo um Professor de Economia, está preocupado que qualquer sinal ou decisão sua sejam uma desculpa para novos ataques especulativos à nossa economia. Infelizmente ou felizmente (só o futuro e a história dirá) o seu tempo não é o nosso tempo.

Anónimo disse...

Quem feio ama, bonito lhe parece.