3.1.08

OS PREDESTINADOS


Sem o ter afirmado expressamente, Cavaco Silva considera imorais os vencimentos auferidos por muitos gestores públicos e privados. Alguns - e isto abona a favor de Cavaco - são parvenus que "nasceram" com o "cavaquismo" e que continuaram, em lógica "centralona", a ser apascentados pelo PS. Outros brotaram de "geração expontânea", "recomendados" pelo amplo tráfico de influências de que vive o regime. E outros, ainda, foram "compensados" por terem desempenhado fugazmente um cargo político, constituindo a gestão, pública ou privada, uma espécie de "subsídio de desemprego" só que em bom. As universidades e os MBA jorram milhares de "gestores" académicos que não têm a mínima hipótese de concorrer com o pessoal do regime. Veja-se, por exemplo, o caso de Pina Moura, cujo currículo ainda não há muitos anos consistia em ser membro do comité central do PC, e que uma rápida conversão ao "guterrismo", seguida de exercício governativo, conduziu a gestor de fama e proveito internacionais. Ou de Couto dos Santos, uma inexplicável escolha de Cavaco para a educação no princípio dos anos noventa, que até já foi gestor da "Casa da Música" e é agora "patrão de patrões" numa associação qualquer do norte. Há "mérito" nisto? Haverá, sobretudo o mérito de "saber viver". Não discuto valores a não ser éticos. Esta gente toda, do Banco de Portugal aos bancos, das "grandes empresas" para-públicas às outras, merece o que ganha? Talvez. A questão não é essa. Antes de considerar imoral o que eles auferem, é preciso avaliar como é que chegaram ao ponto de poder auferir o que auferem. A ética, ou a sua ausência, está no caminho, não naquilo que se paga pelo resultado. É evidente que, num país que empobrece a olhos vistos, a emergência destes "predestinados" que se repoduzem como malmequeres, cria problemas de consciência a quem manda. Foi esse o sentido do desabafo presidencial. Cavaco sabe que a democracia comporta efeitos perversos. Ele pode mencioná-los mas não os pode combater. Qualquer tentativa para eliminar a nudez do rei seria imediatamente apontada a dedo pelas carpideiras do saloio liberalismo nacional e pelos defensores de um mercado que só existe na cabeça deles. A democracia e o regime, diriam eles, não sobreviveriam sem estes semoventes de luxo. Se calhar têm razão.

6 comentários:

Anónimo disse...

O que aponta não é um efeito colateral necessário da democracia enquanto regime. Existe na democracia portuguesa, canhestra e subdesenvolvida, eis tudo. Podia não existir.

Anónimo disse...

A P O I A D O !!!! Pena muitos outros nao escreverem assim ou o Cavaco nao ter lido isto na TV...

Anónimo disse...

Poderei não estar de acordo com o discurso e a opinião do Cavaco mas não compreendo, NUNCA compreenderei que no país mais pobre da europa haja alguém com vencimentos de luxo.

Só poderia entender se essa NATA (dá para rir) de economistas, gestores, administradores e etc. pusessem o país no caminho do desenvolvimento.

Gestores e demais gente de topo de empresas como a CGD, Telecom, Águas, EDP, Ren e etc. não provam absolutamente nada de excepcional.

São empresas que geram biliões e que, mais milhão, menos milhão ... que importância tem?

Gostava de vê-los a gerir uma empresa em formação e fazer dela um colosso ! O que fazem é aumentar o custo do produto e, se não atingir o nível desejado ... pessoal p´ra rua.

É que assim ... também eu !

Numa observação mais atenta podemos concluir que os Bancos são mais "ricos" nos países mais pobres (de África) e não deixa de ser ESCANDALOSO o lucro dos bancos deste país, à custa do povo ... e, o MAIS ESCANDALOSO é ninguém pôr termo a isso.

nuno ivo disse...

As carpideiras do saloio liberalismo nacional e defensores do mercado foram ontem Pacheco Pereira -o calimero da blogosfera, conhecido por mandar trabalhar os outros e defender uma ética do trabalho embora não desenvolva nenhuma actividade social relevante -, Lobo Xavier e Jorge Coelho, cultor do nacional-porreirismo e do polvo "socialista". Durante toda a tarde, a SIC-N fez-nos o favor de passar os três caramelos criticando as afirmações de cavaco, que sugeriram serem demagógicas. Tiro pesado contra as evidências. Talvez que por muito se repetir que os ordenados são muito bem pagos - e que varas, cardonas, cadilhes, pinas mouras bem merecem - o poviléu acredite.

JFR disse...

Excelente artigo. Obrigado.

VANGUARDISTA disse...

Na próxima oportunidade, não se esqueçam, votem neles.
ah! e já agora não se esqueçam de reeleger o Sr. Prof. Contabilista Cavaco.
O povo parece gostar desta "democracia" desenhada pela oligarquia agora, toda ela, neo-liberal (ex-tudo e qualquer coisa desde o PC ao PP).