27.2.11

O ESTADO DA ARTE


«As conversas no Parlamento entre os chefes de partido são de uma absoluta futilidade. As declarações da gente que nos governa não convencem ninguém. Os jornais acabaram por se tornar num repositório de faits-divers. Nos noticiários da televisão não há notícias. Parece que Portugal se tornou uma província particularmente tranquila, que a Europa esqueceu. Mas todos nós sabemos que não é assim. Porquê, então, esta paz podre? Por uma razão muito simples: porque, do Presidente da República ao último militante, o país político anda cheio de medo - medo de ser, por erro ou por acaso, o responsável final pela crise e de atrair sobre si a ira dormente dos portugueses. Remédio para isto? Não abrir a boca sob pretexto algum ou só a abrir para não dizer rigorosamente nada. O dr. Cavaco, que não gosta e despreza Sócrates, gostava de o ver a ele e ao PS pelas costas. Mas tem medo que uma eleição, como explicou sábado no Expresso o dr. Ricardo Salgado, torne as coisas piores (como sucedeu, por exemplo, na Irlanda). E tem medo que o PSD ou o PSD e o CDS não ganhem a maioria absoluta e que a esquerda (incluindo Sócrates) fique ainda em posição de bloquear o presuntivo primeiro-ministro (Pedro Passos Coelho?). E o Presidente também tem medo da velha loucura do PSD, com que não se entende (mesmo desprestigiado e nulo, Pedro Santana Lopes já sugeriu ontem que se trocasse Passos Coelho por Rui Rio). E não tem menos medo que uma desilusão eleitoral se vire contra ele, se ele a convocar sem uma desculpa inatacável e protegido por um eleitorado unânime. Mas se o Presidente está à beira de um ataque de nervos, Sócrates não está melhor. Ele não ignora que uma grande derrota (de resto, mais do que provável) liquidaria o PS por uma geração e que, ele, pessoalmente, deixaria de existir. Não admira que tenha medo de Cavaco, que tenha medo de eleições, que tenha medo de um imbróglio qualquer, dentro ou fora do PS, que o faça tropeçar. Uma soma de medos que se resumem a um: sair daquela cadeira, onde ele duvida que se volte a sentar. E Pedro Passos Coelho? Tem medo que o julguem apressado e medo que o julguem indiferente. Tem medo de avançar e tem medo de continuar parado, deitando pelos povos pérolas de sabedoria. Tem medo do CDS e tem medo de precisar do CDS. E tem principalmente medo que os génios que arranjou não cheguem para endireitar Portugal. O medo vai de ponta a ponta, de Cavaco ao PSD. O medo paralisa. E o medo mete medo.»

Vasco Pulido Valente, Público

8 comentários:

Anónimo disse...

Era muito justo que o PS desaparecesse por uma geração. Ou mesmo duas, que é o tempo razoável para esquecer estas miseráveis elites que nos f... e aos nossos filhos.

Anónimo disse...

Parece que agora vai a TAP. E a seguir ? Teremos saldos com baloes e musica antes do MFI ? Que carnaval antecipado...

Anónimo disse...

Este "medo" deriva da falta de cérebro que grande parte destes eleitores têm, bem aconchegadinhos por jornalistas ignorantes e da mesma cepa. Se assim não fosse, o dito cujo já era passado. Se, de facto fose um "povo sábio" nunca o dito cujo teria sido sequer ministro. Portanto, o "medo" vem dest enorme incerteza de se lidar com gente que quer tudo e não quer nada que não sabe o que quer a não ser endossar aos outros a responsabilidade pelos fracassos que lhes acontecem.

A mim é que não me apanham nisto, não. Querem pais e mães, arranjem-nos. Mas que é urgente correr o dito cujo (mas com estrondo, para o fdp não voltar a levantar-se), isso é!

PC

Anónimo disse...

O socialismo é o cancro de Portugal, mas o socialismo é mais que o PS. Está em todo o lado. Desde o empresário que não quer concorrência até ao professor que julgava que ser um pau mandado desde que tenha emprego garantido era bom.

lucklucky

Anónimo disse...

Boa Gonças genero Plinio. Laoconte que foi o unico a presentir o perigo.
Socrates enviou-lhe duas serpentes para o calar enquanto oposição.Bela ilustração.Pena os filhos...portugueses...não se safarem. A vida em metaforas é só para alguns...

floribundus disse...

Laoconte, sacerdote de Apolo, era contrárioà introdução do cavalo de pau em Tróia.
uma serpente marinha esmagou-o.

para nós é símbólico este conjunto escultórico do >Museu Vaticano

Anónimo disse...

Oh fluribunds foste ler a wikipedia? Ou pensas que estas no quem quer ser milionario?

Anónimo disse...

Ao menos a pretalhada não tem medo.Ou a gente continua a pagar ou os autocarros vão à vida...