22.2.11

O MITO DA RUA


Prepara-se para 12 de Março uma "manifestação" - aliás, duas em uma - com "pólos" em muitas cidades do país, continente e ilhas. A "ideia" partiu do facebook (podia lá ser de outro lado) e pretende juntar os indignados da "geração parva" com os permanentemente parvos indignados que imaginam poder juntar um milhão de criaturas "contra a classe política". Ver demasiada televisão dá nisto. Não juntarão, com alguma sorte, mais de cem pessoas. Em Portugal, há muito que as manifestações se assemelham a corsos carnavalescos sem o menor efeito prático. Houve a Alameda em 1975 mas isso tinha um propósito político devidamente orientado em torno de uma figura partidária que, a partir daí, emergiu como nacional: Mário Soares. E tinha, de Soares para a direita, praticamente toda a gente. A do primeiro 1º de Maio foi, por assim dizer, a única expontânea e eminentemente jubilatória. Por aqui vigora o princípio da maioria silenciosa. É ela que, no quentinho das urnas, dita os destinos da pastorícia. Vera Lagoa desfilou vezes sem conta, na Avenida da Liberdade, contra Eanes e os militares do Conselho da Revolução. Mas foi o quentinho parlamentar de 1982/83 que acabou com o segundo e retirou poderes ao primeiro. Não foi a rua. O mesmo se diga acerca das "conquistas de Abril" (nacionalizações et al) ou da abertura de sectores nunca dantes navegados à "iniciativa" dita privada. E por aí fora. O fenómeno do Entroncamento em curso no Médio-Oriente não é transponível para Portugal. Nem as "massas" lusas experimentaram alguma vez a penúria e o lamber literal do pó da vida dessas populações, nem tão pouco a nossa "cultura" tipicamente pequeno burguesa é arregimentável para derrubar o que quer que seja. Aqui o que se pretende sempre é não perder. Até num local tão improvável como a Arrentela. Lá berra-se para ganhar qualquer coisa nem que seja a morte, algo perfeitamente estranho a parvos e a candidatos a parvos domésticos. Tenham, pois, juízo.

11 comentários:

Justiniano disse...

Caríssimo J. Gonçalves, sem mais e sem dúvida!!

joshua disse...

Nunca se deve subestimar a "Rua". Não temos cá "Rua" nem pouco mais ou menos, mas pode sempre eclodir como um acidente português.

Anónimo disse...

Por cá, nem rua nem voto. É levar no pacote.

Anónimo disse...

É por haver rua que você pode escrever as barbaridades que lhe vêm à cabeça sem qualqer mal maior que não seja aturar o seu crónico azedume.

Se não fosse a rua, ainda estariamos na idade média.....

Bastonário da Ordem dos Otários disse...

Ainda vou ver esses jovens da Geração Parva, estúpidos como portas, com coca-cola e telemóveis na mão nesse dia da «grande manifestação».

Só mudarei de opinião se esses jovens da geração parva sitiarem Belém e S.Bento!

fado alexandrino. disse...

Eu vou.
É da "esquerda" facebook? então vai haver resmas de gajas boas.

Anónimo disse...

Um milhão, em Portugal, é um devaneio, mas apenas 100 é um exagero. Entre 1.000 e 10.000 não estará mal que a malta é jovem e arranja pretexto para se distrair.

Em Madrid conseguem reunir mais de um milhão de pessoas para conderar a lei abortista do Zapatero. Em Lisboa, umas centenas...

José Domingos disse...

Excelente texto. A bovinidade, não sai do curral.
O problema, agora, é o preço do litro de gasolina, e a situação do sporting, o resto é treta.

Gallião Pequeno disse...

Neste país predomina a injustiça, a traição, a vigarice, a imoralidade, a corrupção, o clientelismo, e muito mais porcaria que deixa qualquer um indignado.
Claro (ou talvez não) que não cabe aqui o levantamento popular porque somos um povo civilizado. Mas agora pergunto, civilizado ou subjugado por uma corja de vigaristas da esquerda à direita e vice-versa?
Não se espera um D. Sebastião mas fazia jeito uma nevoazinha para fazer desaparecer toda esta classe politiqueira que só olha para o próprio umbigo e o país que fod....

jojoratazana disse...

Fado só pensas na malandrice, la vais passar uns corredores a pano.

Anónimo disse...

E eu que fazia o fado reformado...vai por lá apertar uns bejons...é escolher entre as 100 que vão,desocupadas à procura de aperto, militantes de causas perdidas.