17.2.11

AS AVENTESMAS E O PÂNTANO


«Um governo minoritário esgota-se no calculismo semanal, quando não diário, que visa sobretudo a sua sempre difícil sobrevivência. É a regra: em vez de se ocupar do país, um tal governo vive concentrado em si mesmo. E o pior é que se corre o risco, primeiro, de ele se habituar a viver na instabilidade. E, depois, de ele descobrir um modo de viver da própria instabilidade, fazendo dela o principal argumento da sua permanência no poder. Como escreveu Pessoa, numa inspirada fórmula publicitária, há coisas que primeiro se estranham, mas depois se entranham... Neste estado de coisas, a recente moção de censura do Bloco de Esquerda é natural. Como naturais serão todas as outras, que os demais partidos já anunciam, enquanto se demarcam desta. E assim continuará a ser, até ao fim desta imprudente experiência minoritária, que se espera que sirva de lição e abra caminho à inscrição constitucional da sua impossibilidade ou, no mínimo, à adopção da "moção de censura construtiva" que - como acontece em Espanha ou na Alemanha, por exemplo - obrigue quem a proponha a apresentar também uma solução de governo. A "colossal irresponsabilidade" que Sócrates apontou, e bem, nesta iniciativa do Bloco, começou, contudo, em Outubro de 2009, com a simulação de negociações em carrossel com todos os partidos. Todos ignoraram então que, como um dia sublinhou Ítalo Calvino, "a obstinação em que assenta o poder nunca é tão frágil como no momento do seu triunfo". Mas ao optarem por um tacticismo de ocasião que a todos parecia convir, estavam na realidade a criar de novo as condições do pântano, de que agora ninguém sabe como, nem quando, se consegue sair.»


3 comentários:

Manuel Brás disse...

... numa tv perto de si.

Depois da casa assaltada
por tão puro desleixamento,
qualquer vontade encantada
terá um abjecto saimento…

Depois de tantas fantasias
nestes anos desbaratados
restam-nos tais hipocrisias
de políticos enquistados.

Cáustico disse...

Os portugueses, numa manifestação de insanidade, puseram-nos no comando. Agora, num momento de lucidez, apeiem-nos.
Enquanto as eleições não chegam usem a acção directa para lhes fazer a vida negra. Não sejam comodistas. Ponham de lado, por absolutamente nocivo, o não-te-rales, o deixa correr.

Anónimo disse...

Se não viram, vejam o bilhete de hoje no DN, última página, Ferreira Fernandes.
O óbvio.
Medeiros Ferreira, os sábios, e (por dedução) o exemplar espírito democrata que preside nas seitas/direcções partidárias, no caso no PS.
JoseB