15.12.09

OS COMPLEXOS


Nas eleições presidenciais no Chile, o candidato da "direita" ficou à frente mas é necessário uma segunda volta. Por cá, comentava-se isto como a primeira vez que a direita, depois de Pinochet, ganhava uma eleição. Dupla imbecilidade. Pinochet é atípico da direita. Foi CEMFA desse desgraçado herói das esquerdas, o sr. Allende, que derrubou da forma violenta que se conhece. Instaurou um regime para-militar que mereceu o apoio dos EUA. Seguiu políticas económicas liberais - daquelas que os nossos "liberais" amam desmesuradamente - e recuperou, robustecendo-a, a economia chilena. O que lhe sobrou em "liberalismo económico" faltou-lhe em liberalismo político. Condicionou a sua substituição o e foi "o" regime praticamente até morrer. Ou seja, não deixou sucessores. A direita que ganhou no domingo é outra coisa. Por consequência, o epíteto de "direita" com que os media pretenderam descrever uma continuidade em relação a Pinochet faz tanto sentido como os nossos pobres socialistas se referirem à direita portuguesa como se ser de direita fosse lepra e eles, esses navegadores oportunistas tipicamente "centralões" e negocistas, representassem "a" esquerda ou outra coisa qualquer.

17 comentários:

Anónimo disse...

Esta confusão conceptual é das coisas que mais me indignam na política portuguesa e uma das mais perniciosas. Pretende-se, acima de tudo, baralhar a mente das pessoas para daí retirar dividendos políticos. Como se tem visto, para nossa desgraça.

Garganta Funda... disse...

Que eu saiba o Pinochet chegou a ser nomeado pelo próprio Allende.

Todos os totalitarismos têm uma génese socialista.

Considerar o Pinochet de Direita é o mesmo que dizer que o Refulgente é de Esquerda...

rui a. disse...

Caro João,

O Pinochet não instalou um estado totalitário, porque deixou livre a economia. O que ele fez foi instalar uma ditadura, isto é, um estado de supressão de direitos políticos, com forte repressão militar e policial, que foi progressivamente abrandando até admitir referendar-se, de resto, num referendo do qual saiu derrotada. Pinochet aceitou os resultados da consulta popular e retirou-se. Pode tê-lo feito contrariado, pode ter pensado em resistir e invalidar os resultados, mas o facto é que acabou por se afastar. Não conheço nenhuma outra ditadura que tenha deixado referendar a sua continuação, nem nenhum ditador que tenha sufragado democraticamente o seu poder. Se houver algum termo de comparação, podemos dizer que Pinochet foi o Franco da América Latina.

Saudações,

radical livre disse...

que saiba Pinochet era socialista
e tinha sido escolhido por allende para o cargo que ocupava antes do golpe.

allende conhecia-o tão bem que preferiu suicidar-se.

na altura a imprensa internacional falou da orientação politica de vários militares chilenos anticomunistas que apoiaram Pinochet.

comunistas ou sociais-fascistas, fascistas, são todos socialista «mas uns mais que outros»

na rtp um cretino chamou-lhe pichonet

José Carlos Silva disse...

Pinochet é um assassino. Espero que as coisas mais horrendas e malignas do além atormentem a sua alma. Não há perdão para um "cão", como ele foi.A sua maldade é comparável há do Hitler.

João Gonçalves disse...

Silva... "há do Hitler"... então o que é que há do Hitler, diga lá?

Toninho disse...

ehehe...

Meu caro Dr. João Gonçalves, não se amofine.

Se comentar numa caixa na blogosfera não é para qualquer um ainda para mais em espaços de referência como o seu, reconheça-se pelo menos a coragem do "Silva" nas "novas oportunidades" da política opinativa.

Até porque o espírito da época convida ao perdão.

Cumprimentos.

Nuno Castelo-Branco disse...

Já agora, o Chile beneficia de uma conjuntura económica e social que decorreu de quê? Do regime de Allende? Não, sabemos que a receita de Pinochet deu nisto, no referendo onde vencido, optou por se retirar. Para quem gosta de maniqueísmo, pode começar por compara os resultados da ditadura de Pinochet, com o regime "democrático e popular" de Fidel. Comparem o número de vítimas (mortos), de presos, de policias per capita e de resultados económicos e sociais. É uma contabilidade surpreendente e perigosa. Aliás, sem Allende e a sua rápida deriva pró-moscovita, Pinochet não teria acontecido, dada a tradição liberal chilena.
Outra idiotia é a colagem da direita ao pinochetismo. Assim sendo, vamos colar o soarismo ao castrismo? O guterrismo ao machelismo? O sampaísmo ao mugabismo? O socratismo ao ceausesquismo?
Dentro da Direita, existem muitas direitas. Dentro da Esquerda, muitas há, desde Estaline/Lenine, até Brandt, Palme, Soares, Zapatero, Hitler ou José Eduardo dos Santos. Para rir.

Anónimo disse...

"Sem Allende e a sua rápida deriva pró-moscovita, Pinochet não teria acontecido". Estou igualmente convencido disso mesmo. Aliás, sem o internacional-socialismo creio que não teria existido o nacional-socialismo, isto é, sem Lenine e Estaline, Hitler não existiria.

João Costa disse...

"...a primeira vez que a direita, depois de Pinochet, ganhava uma eleição."

Está correcta esta afirmação. Nada nesta frase coloca Pinochet como representante da direita, apenas relata um facto cronológico.

Já agora, sim seria uma imbecilidade estabelecer qualquer relação entre a direita chilena actual e Pinochet.

Anónimo disse...

Lá como cá. A direita, depois do PREC é salazarismo, ditadura, ligada aos grandes interesses económicos etc e tal. Já não não há saco para este basismo da esquerda, feito de banalidades e de lugares comuns mas que ainda influencia as gerações mais velhas. As consequências é um PPD que teve de travestir-se de PSD em vez de se assumir como um partido de direita e a direita, fora o CDS, continua orfã com complexos de culpa, procurando o politicamente correcto. Não há pachorra.

Amado Estriga disse...

Você é danado para caçar a ortografia dos analfabetos!...)))

Unknown disse...

O efeito Doppler no Portugal dos Pequeninos chega a ser assustador. É de tal ordem que até Hitler aparece à esquerda, claramente desviado para o vermelho.
ASENSIO

Nuno Castelo-Branco disse...

Para o C3H8

Hitler é de facto, um fenómeno típico de esquerda: massas nas ruas, o culto da personalidade, a intervenção coerciva do Estado na economia, policia política. Acredita que gente como Churchill, Tatcher ou Adenauer partilhariam este tipo de figurino? Não lhe parece estranhamente idêntico ao do sr. Estaline?

Unknown disse...

Caro Nuno:
Alguns figurinos que refere apenas se mostram comuns entre ditadores, como o culto de personalidade ou a polícia política. O totalitarismo é comum entre Estaline e Hitler, não é por isso que se pode classificar Hitler de esquerda. Churchill, Tatcher ou Adenauer podem ser considerados muito mais à direita do que Hitler (apenas não totalitaristas), mas este está claramente à direita do espectro político.
ASENSIO

Anónimo disse...

A subtileza de pairar leve, levemente sobre a ditadura de Pinochet tem razões fundamentadas na ideologia do autor. Óbvia simpatia pelo facínora. Que se repercute no completo desrespeito pela vidas que se perderam.
Não deixa de surpreender também o branqueamento dos autos de fé com os livros, objecto tão querido do autor do blogue.

João Gonçalves disse...

Veja lá, anónimo, se não o mando fuzilar preventivamente já que sou tão mauzinho. Tenha juízo.