27.12.09

AS COISAS SÃO O QUE SÃO


«São multidões de solitários. Fogem de qualquer luta, afrouxam-se em submissões, aceitam não ser donos deles mesmos. Nem sequer sabem que estão sós porque a solidão desliza sobre eles sem deixar vestígios como a água na pena dos cisnes. Todos nós somos convidados para entrar num castelo, diariamente, vá lá saber-se por quem. Pode o castelo estar cheio de esplendores e de multidão ruidosa que não deixará de acabar em sepulcro, mais depressa do que seria de esperar, se não desconfiarmos dessa exaltação de fraquezas e se, quando ficarmos sem fôlego, não soubermos que esse é o momento de nos reencontrarmos, reconquistando a dignidade e a personalidade. O castelo é um inferno onde cada instante é um milagre. Agarrar esses instantes, que formam o tempo, escapar da ladainha dos que mergulharam no ruído, viver como um desafio, ter a honra de não se submeter a quem não merece submissão e de depender do amor de quem merece essa dependência, é o que deveria ser - se pensássemos. Mas só quando se está cansado de nunca estar só é possível vencer a violência da solidão e pensar no que vale a pena. As coisas são o que são.»

Victor Cunha Rego

6 comentários:

Anónimo disse...

Execelente texto, que não conhecia, do Victor Cunha Rego. Embora escrito num estilo que não tenho, revejo-me em quase todas as palavras. Obrigado, João, pela divulgação.

PC

Nuno Oliveira disse...

Só posso dizer que não sou carneiro...
Também não sou pastor porque não tenho nem quero ter rebanho...
Mas também não sou lobo...
Talvez seja a ovelha negra...

radical livre disse...

depois da leitura de Natal
bei Hitlers zimmersmädechen Anas erinnerungen
criada de quarto em Bergof (Öbersalzberg)
e perante a actual situação. o führer Adolf era um aprendiz de feiticeiro

são todos socialistas mas uns mais que outros

Anónimo disse...

A solidão e o isolamento são dois grandes obstáculos à mudança e à transcendência individual e colectiva.Oportuna a divulgação deste texto.

www.angeloochoa.net disse...

Ser cristão…
O Espírito, com inenarráveis gemidos, por nós intercede.
De acordo com a jesuítica promessa de que, após Ele dos deixar pelo Pai, não ficaríamos órfãos, mas selados com selo de adopção.
É Ele, O Espírito, que nos defende e nos coloca, do coração para a boca, a precisa palavra da nossa defesa e da Sua vitória.
Por ele geme e anseia a criação inteira em dores de parto com vista à Parusia, na expressão paulina.
É esse mesmo Espírito, que fala em nós quando clamamos Abba, Paizinho.
Segundo esse mesmo Espírito, proclamamos Jesus Rei de Paz Salvador Nosso de Deus.
Nenhuma boca jamais disse «Jesus, Senhor», senão por acção do Espírito Santo de Deus!
Somos a partir de agora natos de novo, não da carne, nem da morte, mas da Vida Sem Fim! Libérrimos Filhos de Deus! Já conhecemos a Verdade, já por Ela nos libertámos.
Nenhum de nós pergunta: «Que saber?»
Que Ele nos revelou neste último tempo todo o saber!
Falta só que Deus seja tudo em todos.
Falta o cumprimento efectivo da promessa a nossos pais, grande desígnio é o nosso, Amigo João, porque Um Deus nos libertou com o preço incalculável do Sangue da Água do Espírito.
A que «Dios nos baste» -- na expressão da Doutora da Igreja Teresa de Ávila.
E…
Quem ama afasta, de si, todo o temor.
…Porém os Novos Céus e a Nova Terra só até nós vêm por Maria, a «causa da nossa alegria…»
A plenificada do Espírito Santo, Maria, é a Sabedoria anterior, e terna, do mesmo Espírito consoladora!

Manuel Brás disse...

Castelos esplendorosos
com multidões solitárias
de ideais indecorosos
e de farsas libertárias.

A liberdade conquistada
após desprezível submissão,
deixa a mente libertada
de tão indigna humilhação.

Reconquistada a dignidade
e a liberdade de discursar,
eleva-se a humanidade
que nos engrandecerá o pensar.