23.1.08

AS BENEVOLENTES - 2

«Hoje em dia, é nos crentes que certos princípios fundamentais para a nossa liberdade encontram a voz mais desassombrada. Por exemplo, a ideia da dignidade e da autonomia da pessoa como limite para experiências políticas e sociais. Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites. O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades. Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida. O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda. No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos
mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto.»



Rui Ramos, in Público

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves

Excelente artigo do historiador Rui Ramos, um dos poucos cronistas que escreve com objectividade e inteligência. Este artigo devia ser lido 200 vezes (no mínimo) seguidas a muitos parôlos que poluem os jornais diariamente com o fundamentalismo laicista.
Congratulo-me, também, por este blogge ser um portal para outros artigos e cronistas.
Continue assim, Caro João Gonçalves.

João Amorim

João Gante disse...

Falando do fundamentalismo que o João tanto despreza...que tal a frequência com que coloca no blog ataques a tudo o que é laico? Eu sou ateu, desprezo profundamente as religiões organizadas - melhor dizendo, as organizações religiosas - e nem por isso retiro a quem pertence ou acredita nessas organizações capacidades intelectuais. Sim, Ratzinger é inteligente, Policarpo é inteligente - apesar da sua homilia de natal indiciar uma estadia demasiado longa no monte das oliveiras. É como ORGANIZAÇÃO politicamente influente - mais do que o comum cidadão e por meios pouco claros ou injustos (temer a deus, por exemplo) que as religiões devem ser balanceadas (porque é impossível, na prática, mudá-las). As igrejas têm 100% de direito à sua opinião, seja ela fascista, tolerante (seria refrescante), etc. O que não deve acontecer é um político decidir com base em crenças religiosas - que NÃO são o mesmo que crenças morais ou éticas, nem são impossíveis de escamotear no acto de decisão - e portanto demasiado subjectivas. Não há provas de que deus despreze os homossexuais, ache que as mãos de bandidos devam ser amputadas, recuse ver a face de uma mulher ou matasse todos os ateus. Dizer que a religião estabeleceu todas as bases para uma boa sociedade é profundamente ignorante, principalmente vindo de um historiador, e é ignorar que o "valor" da intolerância tem um cunho religioso enorme, bem como grande parte das guerras. Os fundamentos para uma sociedade melhor estão nos tolerantes de qualquer credo ou de nenhum. E ser tolerante não é amarmo-nos uns aos outros - e muito menos pregá-lo sem o fazer - é discordar, repudiar e detestar. Mas, como dizia o outro, bater-se pelo direito de o outro o dizer. Se realmente quer combater o "estado de crise moral", João, reconheça os erros nas facções que apoia. Não seja mais um adepto ferrenho

Anónimo disse...

Caro Gant

Não percebi bem o sentido global do seu texto.
Eu, sou crente e desprezo todas as seitas organizadas, digo seitas protestantes e as seitas laicas e também "não retiro a quem pertence ou acredita nessas organizações capacidades intelectuais"(!) Contudo sou apologista de se ser muito, mesmo muito tolerante que o Gant. Só não posso seguir a sua tese senão passaria a vida a discordar muito, dar porrada e a odiar!!

João Gante disse...

Caro jb

Eu passo realmente a vida a discordar muito e, como todos, tenho ódios de estimação. O sentido do meu texto é o do direito a odiar e a ser odiado sem cair em verdadeiros excessos (i.e. tentativas de "abafamento", silenciamento, etc.). E, especialmente, a moderação do "amor à camisola" religioso e a capacidade de assumir os erros das "facções" em que cada um se insere. Considero-me tolerante a partir do momento em que defendo incondicionalmente o direito à opinião de quem não gosto. No geral, acho que estamos na mesma linha de pensamento, aparte as crenças. Quanto ao seu realce às "capacidades intelectuais", ignorar as dos adversários é a atitude de quem não possui argumentos ou crenças fortes, ou simplesmente não reconhece aos outros direito à opinião. Aparentemente, e este o caso dos Srs. Sapienza