19.1.08

O "ALOJAMENTO LOCAL"


Na sua incessante fúria "reguladora" e "regulamentadora", o governo vai acabar com as pensões, motéis e quejandos para os transformar nuns insossos "alojamentos locais". As pensões e os motéis são lugares indispensáveis ao equilíbrio social. Porventura como fumar, para quem fuma. São locais onde se pode fugir por instantes às conveniências sociais e sexuais, pequenos e furtivos espaços onde os amantes sem abrigo constroem, em minutos, um paraíso à medida do tempo disponível. São espaços sem a fartura ou o fausto indiscretos de um hotel nos quais se pode apaixonadamente "comerciar" um amor qualquer sem compromissos e um compromisso qualquer sem amor. O governo do eng. Sócrates prefere "a vírgula maníaca/ do modo funcionário de viver", o "dia sórdido/canino/policial, o "dia que não vem da promessa/ puríssima da madrugada/ mas da miséria de uma noite gerada/ por um dia igual." O governo teme a "cidade aventureira", a "cidade onde o amor encontra as suas ruas/ e o cemitério ardente/ da sua morte." O governo gere, com método e a aprovação de meia dúzia de zelotas, toda esta "roda de náusea em que giramos/até à idiotia/esta pequena morte/e o seu minucioso e porco ritual/esta nossa razão absurda de ser."

(Nota: os extractos são do poema "Um Adeus Português" de Alexandre O'Neill.)

12 comentários:

Anónimo disse...

Parabens pelas acertadas escolhas do O'Neil e pela temática do texto.Mas o afã ético-regulador será só culpa deste governo que V. tanto odeia? Ou não será tambem o "espirito do tempo"? (Não ponho Zeitgeist porque os seus jovens comentadores só gostam de inglês...) Em Paris o ambiente dos cafés com um vago perfume de Gauloises ou Gitanes foi-se, e os Moteis das auto-estradas americanas já se devem estar a preparar para as inspecções do Sr.Huckabee. Voltamos à sabedoria popular que bem sabe resumir: o que é bom ou faz mal ou é pecado.

Rui Vasco Neto disse...

joão,
Post não bom: excelente. Estou em crer que O'Neil escreveria as mesmas palavras, mas de propósito para aqui.

nónimo,
...ou engorda, não esquecer.

Anónimo disse...

Isto é, vai haver hotéis bem mais mais sórdidos do que agora.
Oiça: http://www.youtube.com/watch?v=KmzIlfCptrQ
Chambre d'hotel...
Mas esta gente, que cretinice possidónia.

Anónimo disse...

Ginginha em copos de plástico. Que coisa linda. Que falta de inteligência. Era preciso trocar os copos?

Anónimo disse...

Eu não páro de me perguntar: mas que diabos fizemos de tão errado para receber tamanho castigo, o de levar com estes iluminados que, de vassoura iluminista na mão, varrem tudo o que apanham pela frente que não cheire a alumínio ou aço inox.
O trabalhão e a despesa que vai ser repôr tudo como estava, no dia a seguir a estes bandalhos serem reenviados junto da senhora que os pôs no mundo.
Temos o que merecemos, dizem alguns. Talvez. Somos mansos, esse é que é o problema. E "eles" sabem disso. Vivem-se dias negros em Portugal.

VANGUARDISTA disse...

E...
Já agora;
artº 1º
Os "Alojamentos locais" não podem conter na sua designação, ou exibir de quelquer forma, expressões, alusões, designações ou imagens religiosas.
Artº. 2º
Os “Alojamentos locais" não poderão facultar bíblias aos seus clientes.
Artº. 3º
Nos “Alojamentos locais” é proibido;
a) – fumar.
b) - Dizer mal do governo.
c) - Fazer insinuações malévolas ou jocosas à licenciatura do 1º Ministro.
d) - Ficar doente e exigir a sua remoção para um serviço de urgência hospitalar próximo.

Anónimo disse...

Não me admira que depois do encerramento dos espaços públicos consagrados às indispensabilidades sanitárias, do desaparecimento dos velhos cinemas de reprise, da coarctação das antigas alamedas de tílias, chegue a vez da extinção das modestas e lír(a)icas pensões que tão relevantes serviços prestaram aos cidadãos (e à Pátria, porque não dizê-lo?) ao longo de muitos e viçosos anos de laboração.

Como António Barreto e Vasco Pulido Valente (entre outros) já referiram, a margem das liberdades individuais (da LIBERDADE) está a estreitar-se.

Não só em Portugal, mas na Europa e pelo mundo. De facto, existe uma progressiva obsessão pelo controle da vida privada, com a invocação das razões mais diversas, nomeadamente do terrorismo. Esta paranóia securitária, com origem nos Estados Unidos da América (pelos motivos mais obscuros, disfarçados com o 9/11) alastrou à Europa (pela mão dos condottieri da UE) e espalhou-se pelo mundo. Nada será mais como dantes. Por isso, para defender o pouco que resta, mobilizemo-nos: Portugueses, ainda um esforço! Para não sermos controlados 24 h por dia por uma câmara de imagem e som...

MINA

Anónimo disse...

Ainda sobre a hipocrisia de um “mundo clean” que nos querem impingir, foi perfeita a escolha da entrada de O’ Neill neste postal, West Coast adentro via Portugal dos Pequeninos.

António de Almeida disse...

-A fúria reguladora deste governo não pára, é ver o pacote que querem impôr aos ginásios, na sequência da baixa do IVA. Este país necessita mais trabalho e menos socialismo regulador!

Unknown disse...

Portugal WC da Europa?
Ná ,é mais a atirar para o penico...

Anónimo disse...

Se há decisões estapafúrdias esta é uma delas. Estapafúrdias, não: estúpidas, mesmo.
Qual o sentido disto? Quem beneficia com esta mudança, tirando o amunense de serviço que teve a "brilhante" ideia, porque é a isso é obrigado - a apresentar uma ideia legislativa modernaça, prafrentax e simplex, por mês, ao chefe? Os hoteleiros não são certamente. Nós, portugueses, também não. E o país turístico, esse então, dispensa bem estes malabarismos.
Há um cheiro pestilento a alumínios e aço inox em tudo isto. Começa a ser demais.

Nuno Castelo-Branco disse...

Ninguém percebeu bem a coisa. Na verdade, algum dos nossos donos deve ter comprado o dvd do "Segredo de Bareback (desculpem, Brockeback) Mountain e assim, remeterá todos os devassos a um "despacho" no Alto do Monsanto ou debaixo de um dólmen algures na serra de Sintra. E digam lá se não é uma medida de saúde pública! Aquele ar fresquinho, as folhas verdinhas a servir de clinex, urtigas à farta para quem gosta de variantes... Burros! Somos todos uns burrancas.