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29.10.11

A BOA TENDÊNCIA DE QUERER DIZER A VERDADE


Segundo julgo saber, o jornal Público vai dispensar a colaboração de Eduardo Cintra Torres, Helena Matos e Luís Campos e Cunha nas suas colunas de opinião. Não deixa de ser irónico. Qualquer deles distinguiu-se por evitar cair na tentação, dolosa ou ingénua, da "redacção única" que predomina, independentemente dos poderes do momento, nas matérias que trataram. Sobretudo nos derradeiros anos. Estou certo que outros media os saberão aproveitar nem que seja para desenjoar da mesmice predominante, alguma dela com acesso a praticamente todos os meios de comunicação social disponíveis e, a outra, apenas analfabeta, cretina ou irrelevante. Este blogue deve uns quantos dos seus posts ao Eduardo Cintra Torres ao reproduzir, com admiração e amizade, textos seus, ou parte deles, a partir do Público. Assim acontece desta vez que, seguramente, não será a última.

«Escrevi sempre com frontalidade, que é característica dos independentes. Não usei a crítica para recados ou subentendidos. Fui a direito. Ser frontal e independente, porém, tem um preço enorme em Portugal. É-se alvo de despedimentos, ataques e de insultos; muitas pessoas não entendem, ou não têm a educação para entender, que a frontalidade é, por natureza, bem educada; a frontalidade não dá "tachos", ao contrário do que tantas vezes li a meu respeito, antes rouba oportunidades e traz dissabores, incluindo processos judiciais e a interrupção de colaborações mediáticas, como me sucedeu há anos. Sempre considerei que o poder político não apreciava o meu trabalho nesta coluna, dado que os independentes, ao contrário dos lambe-botas, dos intolerantes e dos medrosos, são imprevisíveis e têm tendência a querer dizer a verdade, mesmo que sofram as consequências disso.»


Adenda: Ouço na antena1, rádio pública, duas criaturas (uma em Lisboa e a outra no Porto onde existe quase uma outra RTP) congratularem-se e rirem-se alarvemente com o fim da crónica semanal de Cintra Torres no Público. Mais. Um deles estava superiormente satisfeito por ter podido ir a tribunal testemunhar contra Cintra Torres. E o outro sugeria que o papel onde vinha impressa a crónica de CT nem para outros propósitos serviria. Não revelo nenhum segredo (vem nos relatórios e contas que são públicos) que a componente "rádio" da RTP custa presentemente à volta de 40 milhões de euros aos contribuintes. Para, entre outras coisas, exercícios de autocomplacência como estes?

6.10.11

SUGESTÃO DE LEITURA


Foram hoje conhecidos os novos nomes que os dois maiores partidos com representação parlamentar indicam para o conselho regulador da ERC. A ERC é uma imposição constitucional pelo que apenas uma futura revisão da constituição poderá ponderar o seu fim. Enquanto cidadão sou inequivocamente favorável à não existência de uma entidade reguladora para a comunicação social. A experiência da ERC, aliás, não se pode considerar propriamente feliz numa sociedade ainda demasiado longe de ser "aberta". Uso um termo de José Manuel Fernandes no livrinho da foto, Liberdade e Informação. As páginas sobre a ERC são eloquentes a respeito da referida infelicidade. Não diria melhor.

28.8.11

O SILÊNCIO ELOQUENTE

Aos pífios nostálgicos do "regime" derrubado no voto de 5 de Junho - que reúne uma amálgama de analfabetos simples e funcionais apesar do epíteto de "intelectual" conferido pelos primeiros a alguns apoderados dos segundos - não interessa um átomo a situação ilegal e amoral a que esteve sujeito um jornalista (e quantos mais cidadãos não terão estado na mesma?) entre Julho e Agosto do ano passado. Na realidade, a estes depostos arautos da auto-denominada "esquerda moderna" apenas a quadrilhice rasteira importa mesmo que funcione num raio de oito quilómetros quadrados. Nunca, na verdade, quiseram saber do país para nada. Mas esse país que o deslumbramento parolo e o instinto rapace praticamente destruiram, está a evidenciar-se a cada dia que passa. Podem enganar-se alegremente uns aos outros e a meia dúzia de idiotas úteis. Ao país é que já não enganam mais.

Adenda: É evidente que António José Seguro - que se distingue desta estrumeira porque é um homem decente - já condenou em público e de viva voz esta miséria política.

24.6.11

«LIBERDADES NA BERLINDA»*

«Na Madeira, Alberto João Jardim proibiu os dirigentes do PSD-M de escreverem artigos de opinião no Diário de Notícias local, jornal privado que o chefe do governo regional vê como principal força da oposição. Todos os dirigentes, à excepção de um, obedeceram. Jardim visa beneficiar o diário que o governo regional financia com dinheiros públicos e alimentar a ideia de que o Diário de Notícias só representa os sectores não-governamentais da opinião.
Em Lisboa, o presidente da República anuiu com um processo sugerido pelo procurador-geral contra o director da Sábado por uma frase que exprime uma opinião — dura para com Cavaco Silva, mas uma opinião. Tendo o presidente feito um primeiro mandato irrepreensível no domínio da defesa da liberdade de expressão e opinião, é infeliz esta anuência ao processo sugerido por Pinto Monteiro. Este caso motivou alguns genuínos defensores das liberdades, mas também gente de “esquerda” que só as defende quando concorda com os textos alvos dos ataques. São já tantos os casos em que esta “esquerda” se limita a defender a sua própria opinião que temos de ver no conjunto um padrão extremamente enviesado das liberdades. Correcto será defender, em primeiro lugar, os direitos de quem exprime opiniões para nós detestáveis ou factos para nós desagradáveis. Esta “esquerda” que nos saiu na rifa silenciou, por exemplo, o processo da ERC contra Sinel de Cordes, autor de humor negro na SICR. Só se indigna, o que é fácil, com o processo retrógrado de familiares do director da PIDE Silva Pais aos dramaturgos da peça A Filha Rebelde, processo que, aliás, parte de particulares e não de quem ocupa cargos públicos. É muito feio silenciar alguns casos de ataques às liberdades e fazer parangonas de outros. Esta esquerda ou não é verdadeira ou defende, como os governos de Sócrates, mais liberdades para si do que para os outros.»

*Eduardo Cintra Torres, Público

15.2.11

É MESMO ASSIM


Algumas reverências da "direita" viram há tempos em Luís Amado uma "hipótese" para o lugar de Sócrates. Amado, cuja perspicácia política é praticamente nula, levou-as a sério e, pior do que isso, levou-se a si próprio a sério. Cada frase sua era vista como um oráculo (o que diz tudo acerca das elites políticas caseiras) e, sobretudo, como um putativo ataque a Sócrates. Como lhe competia, Sócrates não permitiu que o sapateiro fosse além da chinela. E Amado ficará para a pequena história como um esquecível MNE, mero burocrata executante de mandatos superiores. Ora o nosso Amado esteve presente num Conselho de MNE's da União Europeia no qual foi apresentada uma moção de condenação às perseguições religiosas. Os representantes dos vinte e sete estados-membros apenas "mantiveram uma troca de pontos de vista sobre a liberdade de religião e de crença porque cinco países membros, entre os quais Portugal, vetaram a moção. Há matérias acerca das quais a correcção política deixa de o ser para passar a alarvidade política. Levar a laicidade ao extremo de "igualizar" coisas que não são, de todo e historicamente, equivalentes, limitando a liberdade religiosa por omissão, fica mal a qualquer pessoa de bem. Mas a um pusilânime não fica nem bem nem mal. É mesmo assim.

7.12.10

A CICUTA CHEGA POR IPAD


Aquela coisa do sr. Assange (parece que é assim que ele se chama) não deveria perturbar ninguém. Aliás, é ridículo "apanhar" o homem de cernelha, à conta de alegados crimes de assédio. Como de costume, "corta-se" a fonte para não perturbar a substância. Nunca abri aquele link nem tenciono fazê-lo porque nada do que lá vem me interessa particularmente. Deixo isso para os Rogeiros, para as Anas Gomes e para os Pachecos, apenas para citar três nobres exemplares lusos "vocacionados" para a taumaturgia estratégica, nacional e internacional, e para os "perigos". Porque o que tem mais piada neste desvario é vermos os grandes adeptos da globalização, dos ipads, ipods e do "tempo real" muito preocupados com meras "revelações" da hipocrisia humana, diplomática ou outra, tão bem glosada pelos antigos que levavam, sobre os "espertos", a vantagem da cicuta.

10.11.10

FASCISMO CONTEMPORÂNEO


A liberdade religiosa está cada vez mais ameaçada na Espanha do senhor Zapatero, pífio epígono da "república das bananas" que deu azo à sangrenta guerra civil tão bem descrita no livro indispensável de Hugh Thomas. Agora é a Igreja do Vale dos Caídos. Desde o dia 3 de Novembro, os monges beneditinos e os paroquianos são obrigados a celebrar missa num pinhal fora do complexo. O vice-presidente do sr. Zapatero, um tal Rubalcaba, enviou a Guardia Civil para impedir o acesso à basílica. Não dá para ir até lá dar uns beijinhos na boca, como em Barcelona?

10.8.10

O FASCISMO "ROSA-CHOQUE"

Os fascistas "rosa-choque" querem à viva força catar a carteira profissional a José António Cerejo, jornalista do Público que se tem ocupado do agora público "caso Freeport". É só ler os blogues da especialidade.

Adenda: É mais isto que escreveu um leitor. Sei-o, aliás, por experiência própria. E digo-o com mágoa. «Não lhes chamaria fascistas mas sim que o PS sempre foi (não é de agora) e salvo algumas muito raras excepções um partido de gente intolerante (que nunca aceita opiniões contraditórias), gente arrogante, genericamente incompetente, praticante do tráfico de influências e do compadrio, pseudo-democratas, etc. só que agora muito mais requintados (a experiência tem vantagens).»

30.7.10

QUATRO A ZERO


O artigo que se se segue é de Eduardo Cintra Torres e está hoje publicado no jornal Público. É, em certo sentido, edificante. Comprova-se que o poder - na altura absoluto, da "esquerda moderna", protagonizado em "Deus Nosso Senhor" ou o "Está em Toda a Parte" Sócrates - fez o que pôde para silenciar quem o chateava com essa coisa horrorosa que é a verdade. Depois, evidencia-se que a ERC é uma aberração que deve, à semelhança de tantas outras, ser pura e simplesmente removida (como um tumor maligno) da constituição porque, pelos vistos, nem sequer se preocupa excessivamente em a cumprir. Finalmente, lamenta-se que colegas de profissão do "réu" (recordo que Cintra Torres quase que foi obrigado, um dia, a mostrar a sua carteira profissional na tv a instâncias de um dos citados no texto, salvo erro) se tivessem prestado a actos da mais reles vassalagem e do mais cobarde temor reverencial contra jornalistas. Só prova que não têm nem respeito por eles mesmos nem tão pouco pela profissão que escolheram. E que se comportam, para se manterem à tona da "respeitabilidade", como ténias e não como homens livres que deviam ser.

«No dia 20 de Julho, o Tribunal Criminal de Lisboa absolveu-me num dos processos que a RTP e a sua Direcção de Informação me moveram por causa do artigo "Como se Faz Censura em Portugal" (PÚBLICO, 20/8/06). A sentença, que abaixo cito, é uma excelente peça a favor da liberdade e do dever de informar e criticar e um aviso aos que pretendem usar a justiça para calar a opinião livre e a investigação independente dos factos. Entre 2006 e 2007, o aparelho de Estado processou-me quatro vezes: a RTP três e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) uma. Hoje, como então, considero que se tratou de uma acção do interesse do Governo, destinada a intimidar-me e a calar-me. O Governo estava num prolongado "estado de graça" proporcionado pela opinião pública e pela opinião publicada. A imprensa incensava o primeiro-ministro como um génio de extraordinárias qualidades nacionais e internacionais. Por isso, quando analisei naquele artigo a cobertura dos incêndios no Telejornal da RTP1 de 12 de Agosto de 2006, o Governo temeu a abertura de uma pequena brecha no consenso de que beneficiava. O artigo afirmava: "As informações de que disponho indicam que o gabinete do primeiro-ministro deu instruções directas à RTP para se fazer censura à cobertura dos incêndios: são ordens directas do gabinete de Sócrates." Era preciso calar-me, e depressa. O presidente da ERC, José Alberto Lopes, no dia seguinte ao artigo, antes de reunir a ERC, condenou-o e condenou-me. No mesmo dia, a RTP fez um comunicado sobre o meu artigo, o que é raríssimo, se não único, anunciando um processo judicial. A imprensa dedicou páginas ao "caso Cintra Torres". Deveria ter-se dedicado à acção ilegítima do Governo nos media, mas só o veio a fazer três anos depois. E o Parlamento quatro anos depois. O processo da ERC originou a sua primeira deliberação (1-I/2006) e a Recomendação 7/2006, documentos que ficarão como página negra na história da liberdade de imprensa. Além do absurdo de dedicarem mais de 200 páginas à demolição de um artigo de opinião (prática a que nunca mais recorreram), os reguladores tomaram uma decisão que os envergonhará para sempre: declararam que o director do PÚBLICO deveria ter censurado o meu artigo. O processo da ERC visava constranger-me e ao PÚBLICO e absolver a RTP e o Governo de qualquer interferência nos canais do Estado. Quatro anos depois, aqui fica o resumo do estado em que estão os quatro processos movidos pelo Estado contra mim. Processo ERC: O Tribunal Fiscal e Administrativo, única instância que pode apreciar juridicamente as decisões da ERC, anulou em Maio a Deliberação e a Recomendação, por ausência de audição prévia dos visados (PÚBLICO e eu). A ERC recorreu da sentença. Processo incêndios n.º 1: a administração da RTP, de Almerindo Marques e Luís Marques, e a Direcção de Informação - Luís Marinho, J. Alberto Carvalho, Carlos Daniel, J. Manuel Portugal e Miguel Barroso - apresentaram queixa-crime contra mim, o PÚBLICO e o seu director por causa do referido artigo. A 1.ª instância arquivou em 2007. A RTP recorreu. A Relação achou que o caso deveria ser julgado, mas apenas contra mim. O julgamento terminou com a minha absolvição. Assiste à RTP o direito de recorrer. O juiz escreveu: "A crítica à RTP não pode ser considerada ilícita por se referir à permeabilidade à pressão governamental a que se mostra recorrente" na sua história; no artigo, exprimi "uma opinião absolutamente legítima", tanto mais que é "notório" ser "sistematicamente" referida a "governamentalização da informação da RTP"; as afirmações que escrevi não foram ofensivas e foram "justificadas", pois procurei "criticar uma cobertura jornalística e uma interferência sempre recorrente do poder governamental no serviço público" de TV; cumpri o dever de informar, e actuei "no âmbito do interesse legítimo de informar, de criticar e de ter fundamento para, em boa-fé, reputar verdadeiras as informações veiculadas". O tribunal considerou ainda "totalmente improcedente" o pedido de indemnização que a RTP e os cinco directores de Informação me exigiam, de 180 mil euros. Processo incêndios n.º 2: a RTP e os mesmos indivíduos apresentaram queixa-crime contra mim por ter reiterado o teor do artigo num programa da RTP, a convite da RTP e para debater na RTP o artigo com um membro da ERC e outro convidado. O juiz arquivou. A RTP recorreu. A Relação confirmou o arquivamento. Processo governamentalização na RTP-Porto: a RTP e J.M. Portugal apresentaram queixa-crime por ter escrito que a ida de J.M. Portugal para a RTP-Porto visava "partir a espinha" à independência de que gozava o Jornal da Tarde, feito a partir dali. O processo foi arquivado. A RTP, como sempre, usando dinheiro público e uma sociedade de advogados privada, recorreu. A Relação confirmou o arquivamento. Em resumo: todas as decisões dos tribunais foram favoráveis às liberdades de expressão, de informação e de opinião. Quatro a zero a favor da liberdade e da nossa maturidade democrática.»

4.7.10

PORTUGAL DOS PEQUENINOS


«Em Março de 2006, soube pelo jornal Expresso que ia ser, como se diz, "processado". A queixosa, uma jornalista da casa, parecia implacável. Durante 40 anos, sempre tinha escrito sobre toda a gente nesta terra com franqueza e brutalidade e nunca tinha sido "processado" por ninguém; e sempre toda a gente tinha escrito sobre mim com franqueza e brutalidade, sem nunca me ocorrer "processar" ninguém e, sobretudo, um jornalista. De qualquer maneira, desta vez, não havia nada a fazer. Passaram meses, já não me lembro, ao certo, quantos. Mas, lá por Maio ou Junho, fui acordado por um oficial de diligências (muito amável), que me apresentou um papel. Por efeito de uma "denúncia" (palavras dele), era, de facto, oficialmente, um réu. A história começou aí e não começou bem. Primeiro, tive de me apresentar na polícia, que me tratou como um criminoso e se interessou pelo meu cadastro (inexistente), pelo meu estado civil e mesmo, como de resto é compreensível, pelos meus rendimentos, porque a ofendida me pedira 100.000 euros de indemnização para me punir e, presumo, restaurar a sua honra ofendida. Depois disto, fui mandado para casa. Veio, a seguir, um tempo, inquietante e largo, até que uma juíza de instrução, "acompanhada" pelo Ministério Público, resolveu que o meu "crime", ou alegado "crime", merecia julgamento. As minhas "testemunhas", como João Bénard da Costa, não a convenceram. Fiquei assim à espera de um tribunal, com 100.000 euros pendentes sobre a minha pobre cabeça e a minha vida paralisada. Vivi um tempo duvidoso e angustiado, antes de chegar a tribunal em 2009. No tribunal, o réu é tratado como um leproso. A lei reserva para ele uma espécie de capoeira, que o separa da gente presumivelmente honesta. Ainda por cima, só pode falar em pé, enquanto a acusação e os magistradas falam sentados, com a dignidade que sem dúvida merecem. A simples posição no espaço nega infelizmente ao réu a presunção de inocência, que a lei lhe atribui, e confirma tacitamente sua culpa. O vexame é pesado. Sucede que, apesar disto, o tribunal, com a concorrência do Ministério Público, me absolveu. Acabara a história? Não. A queixosa recorreu para a Relação, e quando a Relação sustentou a sentença, recorreu para a "conferência" ou "plenário" da Relação (não sei o termo exacto), que decidiu finalmente, em 2010, pôr um ponto final no episódio. Entretanto, perdi cinco anos de vida: cinco anos de humilhação, de insegurança e de angústia. A justiça não é má. A lei, essa, é intolerável

Vasco Pulido Valente, Público

Adenda: O texto que deu origem à "denúncia" é o que se segue e a "denunciante" é a dra. (sem aspas porque é, primeiro, do curso de direito de Santana, Barroso e outros, em Lisboa, e, depois, do de Coimbra, tomado à letra o primeiro texto do livro A Pluma Caprichosa) Clara Ferreira Alves.

«A hipotética "dra." Clara Ferreira Alves (chegou com dificuldade ao actual 12º ano), crítica literária que leu (jura ela) "os clássicos", especialista do último escritor inglês com quem almoçou, autora de um romance anunciado em 1984 e nunca até agora publicado, dona de uma coluna ilegível (e bem escondida) na "revista" do Expresso, foi um dia arvorada directora da "Casa-Museu Fernando Pessoa" pela conhecida irresponsabilidade de Pedro Santana Lopes, de quem ela tinha sido uma entusiástica partidária. Daí em diante, a importantíssima Ferreira Alves e o "Pedro", como ela dizia, ficaram muito amigos. Tão amigos que a "dra." Clara apareceu um dia presuntiva directora do "Diário de Notícias", coisa que me levou a sair antes que ela entrasse. Felizmente, não entrou, porque teve medo de cair na rua entre o "Expresso" e o DN, com a reputação de uma "santanete" obediente. Agora, morto o seu patrono, não perde uma para o maltratar, supondo que demonstra "independência". Ontem, a propósito de um "Audi", que o homem comprou, despejou em cima da cabeça dele todo o lixo do mundo. Santana não aprendeu que a certa espécie de pessoas não se fazem favores. Se a "dra." Clara me quiser responder, sugiro que me responda em inglês e não meta na conversa a sua célebre descrição do pôr-do-sol no Cairo. Muito obrigado.»

20.4.10

COMO NÃO DEVEMOS SER


O inconfundível prof. Lopes da ERC foi à patética "comissão de ética" afirmar que "não se pode dizer que a liberdade de expressão esteja em risco". Já se percebeu que o desfile de "personalidades" perante a dita comissão e a outra, a de inquérito ao "negócio tvi-pt", vai recordar-nos, em mau, os saudosos programas de folclore português desse grande poeta que foi Pedro Homem de Mello. Por uma vez concordo com Sócrates - distância daquela gente toda e por escrito. O prof. Lopes é, aliás, a prova viva do que afirmou. A circulação de tantos como ele - tão sábios e seguros da respectiva "ciência" mas que acabam por vetar o jornalista a ou b para o entrevistar - é um bálsamo para a liberdade de expressão. Para, justamente, termos uma boa noção de como não devemos ser.

Adenda: Este pormenor da pastilha elástica também contribui para o "prestígio". Um qualquer porque é uma palavra cara às gentes do regime como o que lá a colocou. Lembra pormenor idêntico, só que passado, se a memória não me trai, numa varanda. O filme era O Último Tango em Paris, de Bertolucci, e o Lino da varanda era Marlon Brando. Pelo caminho da coisa, a "comissão" ainda chega à parte da manteiga.

14.3.10

UMA VERGONHA


O "kim-il-sunguismo" que varreu, com maior ou menor sucesso, os partidos portugueses "com representação parlamentar", chegou agora ao PSD. Aqueles democráticos delegados de Mafra aprovaram uma alteração estatutária que consagra o delito de opinião. Quem, dois meses antes de uma eleição nacional, disser que o reu vai nu ou que o líder é uma solene besta, será exemplarmente punido. É uma mancha nas alterações aos estatutos propostas por Santana - as razoáveis foram chumbadas e esta albanesa foi aprovada com palminhas - e um retrocesso cívico que deslustra o busto de Sá Carneiro presente na sala. Qualquer um dos três putativos presidentes do PSD já o percebeu e a coisa durará pouco. Durará, porém, o suficiente para ser uma vergonha.

8.2.10

«ORA DADA A ESCASSEZ»



«Ora dada a escassez de homens de génio, os que, sob qualquer pretexto — quase invariavelmente estúpido — que seja, procedem de modo que afectem, ou possam afectar, o prestígio interno ou externo da sua pátria, ou são tipos inferiores e animais do homem, arrastados — pois a sua personalidade, que é nula, espontaneamente nos pode conduzir a isso — por pseudo-ideias ou pseudo-ideais que tenham um apelo directo à sua animalidade; ou são degenerados mentais (loucos e semiloucos) ou morais (criminosos ou quase).»

Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução e organização de Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1980


Assine e divulgue.

1.2.10

CRÓNICA DE UMA CRÓNICA CENSURADA

"Vendo" isto como me "venderam" a mim. Uma crónica de Mário Crespo que devia ter saído no folheto Jornal de Notícias - uma espécie de "diário da manhã" do actual PS - aparentemente não saiu porque o jornal invocou que "contém matéria noticiosa que carece de investigação, terminando assim uma colaboração de dois anos de crónicas.» Fica aqui para quem a quiser ler até porque sou insuspeito de "adular" Mário Crespo. Então, menos de vinte quatro horas depois do início oficial do "centenário", já se anda a copiar o pior PRP, o tal "reformista" e prenhe de "ética"? E os blogues "fracturantes", da esquerda caviar dos idiotas úteis, não dizem nada?

«Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.»


21.12.09

JOCOSO E SARCÁSTICO


Mais uma pequena e simbólica vitória da liberdade de expressão sobre o pretenso delito de opinião, de vez em quando inventado pela língua de pau em vigor para sobreviver no seu inner circle. «Palavras jocosas e sarcásticas não têm potencialidade para difamar.»

13.11.09

É PRECISO SAIR DAQUI?


Tomás Vasques cita Gallimard, o editor, a propósito de uma questão concreta que envolve e escritor Tabucchi e o presidente do senado italiano, um horrível "berlusconiano":

«As democracias necessitam de individuos livres, valentes, indisciplinados, criativos. Que se atrevam, que provoquem, que incomodem. A liberdade de expressão é indissociável da ideia de democracia. De Voltaire e Hugo a Camus e Sartre, passando por Zola e Mauriac, a França e as suas liberdades sabem o que devem ao livre exercício do direito de opinião e ao dever de alertar contra a opacidade, as mentiras e as imposturas do poder

De acordo. Mas será só no aparentemente concentracionário mundo "berlusconiano" que existe "opacidade", "mentiras" e "imposturas do poder"? É preciso sair daqui?

8.9.09

LIBERDADE OU OPORTUNIDADE DE EXPRESSÃO?

Como certa marca de carros, aos poucos - e os poucos são quatro anos e meio disto - o PS "socrático" mostra a sua "raça". Segundo o Correio da Manhã, «o PS alertou para a necessidade de não se discutir temas políticos à beira da campanha oficial.» Isto a propósito de os outros quererem agendar o tema "Moura Guedes" para um destes dias. E nós a pensarmos que a "casa da democracia" (não é assim que, quando dá jeito, se referem a esse extraordinário monumento à inutilidade pública que é a A. R. em regime absolutista?) servia precisamente para discutir temas políticos independentemente da oportunidade. Acresce que, na mesma peça, se escreve que Manuela Moura Guedes quer ser ouvida pela ERC. Com amizade, Manuela, não descortino utilidade no propósito. Era melhor ir ter directamente com Santos Silva. Se tem o "original", para quê perder tempo com a fotocópias? Como diz o nosso povo, em casa de enforcado, não se fala em cordas.