Escreve Cintra Torres, a propósito da coisa "Meu Amor", emitida pela tvi, que «Meu Amor ganhou contra uma novela argentina e outra filipina.» Coisas tropicais a afins, portanto, onde continuamos a campear. Mas diz mais, no Público. Mais no sentido latino-americano em vigor. «As televisões cultas da Europa assinalaram o centenário da morte de Tolstoi passando adaptações dos seus romances e documentários sobre os seus livros, o seu retiro, a sua vida, a sua filosofia. Por cá não notei nada. Nem ao menos a presença de Tolstoi em Portugal. Nada sobre a influência, que não foi pequena, do “anarquismo cristão” de Tolstoi, quer em movimentos políticos por volta de 1900, quer na obra de autores como Raul Brandão e Afonso Lopes Vieira. Nada. Só há cultura se houver memória, e na televisão portuguesa não há memória culta, há apenas passado como faits divers. Por exemplo, a última reportagem que vi sobre o centenário da República na RTP1 referia-se durante uma hora a dois ou três padres que fizeram o seu coming out republicano depois de 1910. As relações entre o regime maçónico e a Igreja foram quase um estado de guerra, mas a RTP conseguiu resumi-las a três padres republicanos. A reportagem estava bem documentada e valeu por si, mas faltou o quadro geral da realidade. No cômputo do centenário televisivo, contribuiu indirectamente para o branqueamento e a mitificação da 1ª República.» Vá, Eduardo, contente-se com o Meu Amor (e com os republicanos seios de uma das actrizes) sob o alto patrocínio do regime todo e já goza.
10 comentários:
Não sei que televisões anda Cintra Torres a ver, mas garanto que a holandesa não passou nada sobre Tolstói. Verdade que não é exemplo para ninguém (foi onde nasceu a nojenta Endemol com os seus Big Brothers), mas é um caso que foge ao que ECT diz ter sucedido. Nos canais alemães que tenho (não são muitos, mas enfim), também não vi nada. O mesmo nos três canais belgas. Pode ter-me escapado, mas costumo verificar os guias desses canais para ver se há algo que mereça ser visto.
O problema relativamente a Tólstoi não é a televisão portuguesa, mas antes a ignorância (especialmente na Europa ocidental) das obras dos autores russos. Mandam-se os nomes para o ar, mas não se lê uma linha dos autores. Lêem-se os autores nacionais nas escolas, mas prestar atenção aos universais, isso é que não, não pode ser. Realidades diferentes, pensarão os "programadores educativos". Sê-lo-ão, mas por não os lerem perdem noção que a obra não é sobre uma sociedade, mas sobre a natureza humana.
Memória!!!
Um memorioso Funes equilibrado neste país seria tragédia garantida. Para ele.
Menos sofisticado: se houvesse memória não teriamos chegado até este precioso momento da nossa história.
Rita
Por falar em memória.
Alguns dos parasitas que parasitaram muitos dos altos cargos governamentais, tem a mínima ideia da última década do nosso século XIX?
Não seriam agora apanhados desprevenidos com a banca rota.
Mas que memórias teria a gloriosa sucessão das últimas décadas: Guterres - Barroso - Santana - Sócrates & Cia?
Quanto à 'nossa' RTP (que pagamos), aguardo pela confirmação do afirmado por Passos Coelho: privatize-se o 'coio'.
JB
RTP Radio Televisão Privatizada Já:
Estamos fartos de pagar para ouvir o que eles querem dizer, de ver o que nos querem mostrar, e de pagar , pagar, pagar por tudo isso.
"Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.” (Lev Tolstói)
O "seu" Cavaco fez questão de dar os parabéns à telenovela "Meu Amor" através de uma mensagem no site da Presidência. Diz muito do Presidente que temos.
Pedro Marques
Criminoso não haver nada que releve este monstro do romance. Bravo, ECT!
Pedro Marques: A liberdade é uma maluca e a popularidade tem um preço: Mesmo se o Tony Carreira ganhasse um Grammy, o Presidente tinha a honra de cumprimentar o galardoado, da mesma forma se o Manuel de Oliveira ganhar um Oscar para melhor filme estrangeiro. Decerto terá feito o mesmo pelo Nobel de Saramago, ou pelo Alver Alto de Siza.
São portugueses que se distinguem no estrangeiro e, já o Francisco de Holanda dizia: Quem consegue ser artista em Portugal, consegue-o em qualquer parte do mundo.
aj
Acho que metade daquele Emmy foi pelo decote da Rita Pereira.
Acaso alguém soube que o CCB dedicou as tardes de 20 e 21 de Novembro a Tolstoi? E que um dos oradores, José Milhazes, disse que nem na Russia se tem comemorado o escritor? E que a maior livraria electrónica russa - ozon - tem menos de cem títulos, enquanto a amazona.com, en inglês, tem mais de cinco mil títulos do escritor ? Comparado com isto, em Portugal até se honrou bem a memória de um grande escritor, espécie essa sim em vias de extinção. (ah, esquecia-me, tivemos o prémio francês para um ''grande '' escritor esta semana....)
http://darussia.blogspot.com/2010/11/lev-tolstoi-um-profeta-de-utopias.html
Luísa Barbosa
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