«Uma parte essencial da saloiice indígena é a mania do prestígio. Ontem o DN falava da cimeira da NATO, notando com grande satisfação que ela nos trazia grande prestígio. E porquê? Porque Portugal recebia os "chefes" (e que "chefes") dos 28 Estados membros, mais duas dezenas de "representantes" de outros desgraçados países, desde o afegão Karzai ao russo Medvedev. Esta festarola já tornou Lisboa num inferno e provocou o governo a dar o presente do costume ao grosso do funcionalismo: a sempre abençoada e nunca verdadeiramente merecida "tolerância de ponto". Mas parece - dizem os peritos - que o mundo pasma com a nossa "capacidade" de organização, ainda por cima de um "evento" que "mudará o futuro próximo da humanidade". Para dona-de-casa não estamos mal. A Expo-98 e o Europeu de Futebol de 2004, embora sem "mudar o futuro próximo da humanidade", o que foi uma pena, tinham a seu tempo mostrado essa nossa extraordinária vocação. E mesmo hoje Portugal continua ardorosamente à procura de um espectáculo qualquer que reforce e alargue a sua enorme fama de "receber bem", necessária como pão para a boca a um país que se preze. Consta, por exemplo, que vem aí o Mundial de Futebol e até, suponho que em homenagem à Comporta, a Ryder Cup (uma espécie de campeonato de golfe). Só falta agora o pingue-pongue e o ténis, que se escondeu, talvez por modéstia, no Estoril. A única coisa que espanta neste fulgurante currículo é que Portugal não use a sua "capacidade de organização" para se organizar a si próprio, uma coisa por que ninguém certamente o criticaria. De resto, há por aí gente, como a sra. Merkel, que é muitíssimo capaz de preferir Portugal com uma dívida externa mais pequena, um défice razoável e uma economia em crescimento. Sabemos que essa gente é mesquinha e má. E que nada paga a íntima alegria de ver Obama e os seus duzentos guarda-costas nas ruas de Lisboa. O brilho de uma boa "cimeira" não substitui a mediocridade de uma vida honesta e de uma sociedade um pouco menos miserável e caótica. Os pobres - é uma velha verdade - gostam de se roçar (figurativamente) pelos ricos. Como a insignificância gosta de se roçar pela grandeza e discutir a sério o "futuro próximo da humanidade", em especial do Afeganistão em que o interesse de Portugal é óbvio. Mas, de quando em quando, convinha que o governo descesse à realidade de que teoricamente se devia ocupar.»Vasco Pulido Valente, Público
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
20.11.10
O GLORIOSO PAÍS DE EVENTOS
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7 comentários:
Descer à realidade é pedir de mais aos nefelibatismo socratinesco.
VPV no seu melhor!
O sonho desta parolada toda, onde pontifica o já gastíssimo dito cujo, é ser "tiá de Cascais", sócia-gerente de uma empresa de catering unipessoal, limitada.
PC
Quando houver outra cimeira da NATO todo este espectáculo do nacional parolismo jornalístico deslumbrado se resumirá a uns rodapés que passarão durante as reportagens sobre os treinos do benfica ou da selecção nacional, como quase sempre. Ainda não vi ninguém perguntar quanto nos custou esta aventura.
O PRÓXIMO GRANDE EVENTO VAI SER A RECEPÇÃO AO BORGES DO FMI NA PORTELA.PASSADEIRA VERMELHA E 21 TIROS DE CANHÃO.
«O programa da manhã... demonstração equestre em frente ao Mosteiro dos Jerónimos que captou a atenção de alguns curiosos»
Com um programa mais que suficiente para as ladies, ainda tinha de incluir esta demonstração de pobretes e alegretes.
A imaginação e desenrasca dos indígenas, como habitual.
Um grande tabuleiro frente a uma tribuna de honra, frente aos Jerónimos, para as mulheres dos chefes índios.
Depois de almoço, lá estavam alguns proletários a recolher as areias. A a seguramente que alguma trampa que ficou.
"Eventos, Portugal SA"
Uma nova indústria e Oportunidade para o futuro.
JB
«que o governo descesse à realidade»
Impossível, absolutamente.
Quando uma classe política, se destacou pelo entusiasmo, pela grandiosidade e pelo sucesso dos 10 (dez) estádios do Euro 2004, não há salvação.
Um deles era o agora PM, bem acompanhado pelo PS e restantes clubes políticos das oposições de faz de conta.
Idealmente, teriam construído em estádio 'novo' em cada distrito (18), mostrando a sua simpatia para com a plebe e autarcas do regime.
O 'subversivo' VPV, deve ter sido o primeiro e dos poucos, a denunciar a estupidez. Numa coluna no DN de 2003 ou 2004, alvitrando seis estádios.
Portanto, nada de novo na frente.
Da banca rota em curso (BRC)
JB
Parece que não foi caro:Pagámos a nato em natas. Portugal deu os pasteis de nata, uns portos e uns pateis de bacalhau. O resto foi por conta da propria nato.
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