19.11.06

O PROBLEMA DO ESTADO OU O JAZIGO DE FAMÍLIA

1. Em duas ou três frases do artigo semanal no Expresso - muito bonito e bem escrito, por sinal - Miguel Sousa Tavares coloca o "dedo na ferida" político-narcísica de Sócrates e, depois da entrevista encomiástica de Cavaco, do Presidente da República. O "sempre o mesmo querer e não querer o mesmo" (refiro-me ao Estado e ao seu "papel higiénico") relativamente quer ao "Estado social", quer à chamada "reforma da administração pública", quer ainda ao papel (também "higiénico") da "sociedade civil", resume-se a isto: "apesar da baixa do IRC, decretada por Durão Barroso, o investimento privado continua a cair pelo quinto ano consecutivo; só se investe quando se tem apoio financeiro ou fiscal do Estado ou então quando se consegue, do Estado ou das autarquias, um tratamento de excepção ou de favor". Como me dizia outro dia alguém com responsabilidades institucionais, o "problema do Estado" está muito para lá dos setecentos e tal mil funcionários cuja destrinça ninguém está interessado em fazer. Está sobretudo naqueles que, por via indirecta ou directíssima, acabam sendo mais dependentes do Estado do que aqueles que trabalham profissionalmente para ele, e que ninguém contabiliza porque, naturalmente, não interessa.
2. "(...) artigo de Graça Rosendo sobre o Tribunal de Contas (TC) publicado no semanário Sol. Revela a jornalista que, apesar das anunciadas restrições a novas contratações neste e noutros organismos do Estado, "só este ano já entraram no TC - por transferência ou requisição - 14 novos funcionários, três dos quais são técnicos administrativos". E vejam lá a coincidência: uma dessas requisições permitiu a entrada "da filha de um dos juízes-conselheiros do TC", que aqui permanecerá um ano, "renovável", para integrar o Departamento de Planeamento e Consultadoria do Tribunal de Contas. Revela ainda o Sol que a jovem licenciada em Direito "tem como única experiência profissional ser 'directora de serviços' na IPSS, de onde foi requisitada". Segue-se mais uma notável coincidência: esta última instituição "é presidida pela mãe, sendo o pai presidente da assembleia-geral". O pai da menina, contactado pelo jornal, desvaloriza o facto, assegurando que "outros conselheiros têm também familiares no TC". Ele próprio teve outra filha "a trabalhar no tribunal durante três ou quatro meses". Sempre por mero acaso: as coincidências sucedem-se nesta história (...) Parte de prosa do Pedro Correia, no Corta-Fitas. Em linguagem cifrada, chama-se a isto o "jazigo de família".

3 comentários:

Anónimo disse...

O seu "amigo" Medina Carreira já falou deste assunto "n" vezes.

A chamada Lapalissada...este post.

Pedro Correia disse...

Pois. Abraço, João.

Anónimo disse...

É caso para se dizer: eles falam, falam, falam......mas as "coincid~encias" continuam a proligerar!!! Ninguém lhes póe cobro!!!

Se calhar, muito poucos haverá que não tenham "jazigos de família"!!!

E os outros?? Os recém-formados que querem trabalhar?? Aqueles que não têm "onde cair mortos"....onde é que trabalham?? É que os há e muito inteligentes, cultos, competentes e com muita vontade de trabalhar, sabiam?????????????