28.11.06

NOI SIAMO FORTI


Vinha no carro e surge-me a voz desse peculiar bispo das Forças Armadas que é D. Januário Torgal Ferreira. Bento XVI acabara de aterrar em Ancara. D. Januário referia-se à "coragem" do Papa - dando a entender que, se fosse ele, ficava quietinho - e rematou com esta pérola: se o Papa fosse "assassinado, morria no seu posto". D. Januário não entende - nem os freis Bento Domingues desta vida - que Joseph Ratzinger não vai à Turquia para se exibir ou penitenciar. Não é da sua índole nem uma coisa nem a outra. A sua visita é política e é religiosa, e destina-se a marcar uma fronteira inquebrantável. O seu encontro com a hiper-minoria católica turca tem um significado extraordinário e representa a consagração prática da doutrina do "grão de mostarda" que guia Bento XVI. O Papa é avesso às multidões mas não as evita. Prefere que a fé e a palavra de Cristo se espalhem a partir de pequenos núcleos, sobretudo no meio da hostilidade ignorante e da intelectualidade desonesta. Basta ver, por exemplo, como os media se referem sempre às "chamas ateadas pelo Papa" numa subserviência patética perante a "correcção" política e o "multiculturalismo". Ratzinger apenas não se curva perante a intolerância irracional. Por definição, todos aqueles que o agredirem pelo verbo ou o tentarem pela força, são homens abençoados pelo Papa. A esperança é mais forte que o rancor. E a fé moldada pela razão também. "Nós somos fortes", como lembrou Ratzinger em Setembro. Boa viagem.

8 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pela lucidez. A tolerância com os radicalismos por parte dos media que falam de barriga cheia é chocante e preocupante.

Anónimo disse...

É uma leitura muito bonita. Bem imaginada.
É sabido que a viagem papal não tinha previsto nenhum encontro com a minoria católica; apenas uma reunião com os bispos. Foi o protesto dos leigos que obrigou à alteração do programa, concretamente à extensão da visita por mais um dia.
A razão da viagem é outra: encontrar Bartolomeu I em sua casa; e abrir caminho para fazer o mesmo com Alexis II. Ou seja: fazer o que o antecessor não fez (não pôde, não conseguiu fazer). Tudo o resto é paisagem.

M Isabel G disse...

Um excelente texto, João.

Anónimo disse...

Gostei.Nostempos de hoje tudo é colocado em dúvida, mesmo por aqueles que nunca deviam renegar.O galo de Barcelos já se fartou de cantar enquanto alguns quadros da igreja portuguesa falam...

Anónimo disse...

nós , quem?
fortes, para e por quê?

Anónimo disse...

Texto inspirado e inspirador.
Contra a intolerância, só nos resta ser... intolerantes!

www.odivademaquiavel.blogspot.com

João Pedro disse...

Não percebo é o que é que D. Januário disse de tão grave que justifique este início de post. Desde há uns tempos que é moda atirar-se a ele por dá cá aquela palha (e o Frei Bento apanha por tabela). Só po isso é que não gabo o post.

Anónimo disse...

D. Januário referia-se à "coragem" do Papa - dando a entender que, se fosse ele, ficava quietinho - e rematou com esta pérola: se o Papa fosse "assassinado, morria no seu posto"
Dizer que o Papa é corajoso dá a entender que D. Januário não é?
Isso sim é uma pèrola...
Manuel Alegre diz num poema seu que, aquando do seu aniversário, se encontrava na cadeia "...estava no meu posto..." mas é diferente, claro que é diferente.