15.11.06

O GLORIOSO CAMINHO DA MODERNIDADE


Por sete votos a favor e seis contra, os juízes do Tribunal Constitucional deram "luz verde" à abstrusa pergunta sobre o aborto que aparecerá nos boletins de voto. Dou de barato que, desta vez, o "sim" pode ganhar. Tal como escrevi outro dia a propósito da adesão de Agustina e Lídia Jorge à causa liberalizadora - a verdadeira questão consiste em concordar ou não com a liberalização total do aborto se praticado até às 10 semanas de gestação pela exclusiva vontade da mulher - essa vitória anunciada não muda a natureza das coisas. Não muda nem a natureza da vida, nem a natureza da morte enquanto parte essencial dessa mesma vida. Neste caso, porém, ao travar-se a gestação por um meio legal transformado num contraceptivo mais eficiente do que os habituais, para além do "direito à vida" é igualmente o direito a uma morte digna que desaparece. É evidente que subsiste a "consciência" - de quem a tem - e o crime quando o método ultrapassa o limite temporal ou não se encaixa nas excepções em vigor. De qualquer forma, foi dado mais um passo no nosso (português e do mundo) glorioso caminho para a "modernidade". Força.

11 comentários:

Anónimo disse...

"Neste caso, porém, ao travar-se a gestação por um meio legal transformado num contraceptivo mais eficiente do que os habituais,(...)".

"Contraceptivo" parece, por definição, pressupor o impedimento da concepção. Aqui, no aborto, já há concepção. E pratica-se, já que se anda no reino dos eufemismos, a cessação deliberada de uma vida.

Admita-se que casos há em que o aborto se justifica. Seja. Mas não se lhe chame "contracepção".

Isso é fazer um belíssimo frete de branqueamento do que é, na verdade, uma morte provocada por dolosa acção humana.

João Gonçalves disse...

Se puser o seu nome, respondo-lhe com direito a post.

Anónimo disse...

Desculpe-me. Costa. Rui Costa.

Anónimo disse...

Nota-se bem que os intervenientes nada percebem de períodos menstruais, falhas menstruais, ovulações, zigotos, embriões e fetos.
Limitam-se a filosofar canhestramente, do alto da burra, à velhos inquisidores e a falar TORPEMENTE em "vida".

Vida, meus caros -mais as pobres e mentecaptas pamóias, que vos apoiam - é a que habita uma MENTE e um corpo feminino, que não pode mais, HOJE, deixar de tomar o leme do seu próprio projecto reprodutivo.

Como diz o Mário Cesariny e uma vez que este é um blog muito literário:

"Já cansa a cona"

Anónimo disse...

Calma, por favor... Afinal só tive a ousadia de achar que o aborto não era um contraceptivo. Pela prosaica razão de actuar sobre algo já concebido, sendo que por contracepção se entenderá (dos dicionários) o acto ou efeito de evitar a concepção.

Coisa, presumo, que nenhum "projecto reprodutivo" negará.

Claro que me entristece saber que por uma questão de género (saí macho, por culpa do meu pai, de acordo com a ciência - outro macho, pois claro! - que fazer?) não sou dotado de vida, pois que esta "habita uma mente e um corpo feminino".

Mas enfim...

Rui

João Gonçalves disse...

Rui... não estou a branquear nada e muito menos a fazer fretes a pessoas que pensam com a parte de baixo. Acontece que, para mim, o recurso ao aborto, fora dos casos previstos na lei, é um método anti-conceptivo como os outros, com a diferença que V. explicou e que é objecto de discussões em que não me apetece entrar. Chama-lhe o que quiser, mas não deixa de ser aquilo. Eu sou favorável à legislação em vigor, o que me distingue de quem é radicalmente anti-aborto e de quem é radicalmente abortista.

Anónimo disse...

Algo então que temos em comum.

JRP disse...

já somos três.
Esta defesa do homem que por aqui se tem travado, parece-me nova e com pernas para andar se for bem explorada.
Não me recordo de a ver explorada aquando do primeiro referendo.
Porque na verdade a questão é simples:
A mulher e o homem são responsáveis pelo feto, logo, devem responder os dois pelo seu futuro.
No limito, proponho este caso para reflexão:
Um homem engravida uma mulher. Ele tem escassez de espermatozoides (como cada vez mais acontece, como sabemos) e por isso aquela gravidez foi uma sorte num milhão de tentativas.
Ela decide abortar (ok, interromper voluntariamente a gravidez), por razões que não interessam, sejam elas compreensíveis ou não.
Não deveria o homem (pai) ter a possibilidade de participar nessa escolha?
Julgo que neste momento, por razões que poderão estar nos séculos de opressão feminina, tudo se justifica para fazer o inverso, ou seja, a mulher tem todo o domínio da situação e o homem nada pode fazer.

Anónimo disse...

Se vivessemos num país civilizado, esta questão já estaria ultrapassada há muito.

Anónimo disse...

Já não estamos no tempo da "Severa". Não venham falar em paizinhos e mãezinhas, que não é disso que se trata.
Somos seres racionais ou servos de "santas fecundações"?
Como são inteligentes para tanta coisa e uma espécie de lobotimizados para esta questão?
E onde está um comentário com bom senso, onde se punha o dedo na ferida?
"Uma questão de cidadania, opção própria ou de casal - conforme a mulher ou a adolescente foi ou não abandonada - que não condiciona ninguém, só alivia sofrimentos e práticas arqueológicas.

Anónimo disse...

À Fogueira! À Fogueira, minha adorada Eminência, com essas assassinas abortistas!!!
Ou então, nas masmorras para sempre!

Adios, que me voy a Badajóz...