Com a pompa dos "grandes momentos", o primeiro-ministro deu posse a mais uma "comissão de sábios" destinada a "reformar" a administração pública, ou, na hipótese mais solene, o Estado. Esta nova fornada de "sábios", como não podia deixar de ser, vem para "prestigiar a administração pública" a qual, uma vez "prestigiada" e "modernizada", "modernizará" automaticamente o país. Eles vão "avaliar" e "auditar" todos os ministérios durante seis meses e, depois, aparentemente decidir o que deve ficar, desaparecer ou "fundir-se". Teixeira dos Santos, pragmaticamente, reduziu a coisa à constituição de mais um "quadro de supranumerários". E de Sócrates brotou a ideia de "caminhar para um balcão único de serviços públicos em todos os concelhos". Esta pequena sessão "harry pottiana" revelou duas ou três evidências. Desde logo que o Estado, por interposto governo - este e os outros que também tiveram a sua "comissãozinha" ou "grupinho de trabalho" - desconfia permanentemente dos organismos de controlo e avaliação de que dispôe, gerais ou sectoriais. Estas organizações - pelos vistos meramente filantrópicas - passam o santo ano a enviar ao governo resmas de relatórios e auditorias que, presumo, ninguém lê. Na primeira oportunidade, escolhe-se uma meia dúzia de bonzos e de académicos "iluminados" e esses, sim, é que vão "reformar" e "modernizar". Com tanta "pulsão" modernizadora que antecedeu a actual, eu estranho que ainda sejamos tão ridiculamente primitivos em praticamente tudo. Depois, e para dourar o exercício, lança-se sempre uma ideia "inovadora". Sócrates lembrou-se do "balcão público" como se podia ter lembrado de outra coisa qualquer. Enfim, e para dar um ar de "agora é que é", o presidente da comissão - alguém que fica na história da "modernização da administração pública", e da Justiça, em particular, por ter mudado, para uma imagem estranhamente "fálica", o logotipo deste ministério há cinco anos atrás... - foi logo avisando "que o grupo de trabalho a que preside não se deixará enredar na fase de audição e recolha de dados" e que "resistirá às pressões de todos os quadrantes". Não é preciso dizer mais nada. Daqui a seis meses, se Deus quiser, estaremos então, e uma vez mais, "modernizados".
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