10.9.05

O LUGAR

Parece que o governo vai escolher Guilherme Oliveira Martins para presidir ao Tribunal de Contas. Guilherme, uma criatura amável e homem de cultura, é um "sempre-em-pé" do PS, ou melhor, um estranho "independente" a quem o PS recorre com frequência para o preenchimento de meritórias funções. Começou no PSD, depois passou pela ASDI e foi sempre um "fiel" de Sousa Franco. Pertence ao "clube" soarista por ter sido assessor do ex- PR em Belém. Guterres atribuiu-lhe funções ministeriais que ele desempenhou sem "aquecer nem arrefecer", culminando na prestação menos gloriosa de ministro das Finanças do "guterrismo" tardio, o do "pântano". A sua escolha para ornamentar, no topo, o Tribunal de Contas, não me espanta. O TC é uma magistratura de controlo que se caracteriza essencialmente por dizer, tempos depois, que as coisas andaram mal. Produz relatórios e pareceres de profundidade indiscutível que, nem por isso, têm servido para "melhorar" a prestação global do Estado central e da administração periférica. Alberga luminosas elites da magistratura e da administração pública, algumas das quais, nos intervalos, vão para os governos ou para cargos de direcção superior. Quando regressam, voltam aos mesmos relatórios e pareceres onde, com método e equanimidade, "denunciam" as "imperfeições" dos organismos por onde passaram e que deixaram praticamente na mesma. Guilherme Oliveira Martins vai, pois, sentar-se na cadeira suprema do Tribunal de Contas, previsivelmente para lá deixar o seu inconfundível lastro "cinzento" e melancólico. Está muito bem para o lugar e o lugar está bem para ele.

Sem comentários: