12.9.05

TRAULITEIROS E CÂNDIDOS

O artigo de Cavaco Silva no Expresso - afinal, houve quem o lesse - tem suscitado algumas reacções. Uma, a mais reaccionária, surpreende-se por o homem ser capaz de escrever sobre um assunto que supostamente não deveria "dominar" e que estará reservado a iniciados, académicos, comentadores, jornalistas e a candidatos presidenciais "experimentados". Dentro desta "categoria", a indignação vai mais longe por, finalmente, o homem representar o "sistema" e, mais desavergonhadamente, o "regime". Eu ainda não tinha percebido que havia por aí generosos voluntários à espera que a eleição presidencial se transformasse num "golpe de Estado", em vez de permitir, como deve, a escolha de uma legitimidade política renovada, reformista e de ruptura democrática com um "modo" (o actual e o de Soares) como se concebe o exercício da magistratura, sem necessariamente a liquidar. Isso é coisa que tem mais a ver com o "perfil" do que com as "circunstâncias ocorrentes" ou a "lei". E Soares I e II são o melhor testemunho vivo do que estou a dizer. Aí, eu admito que muita gente não goste de Cavaco. Mas façam o favor de o "julgar" quando e por causa do que ele disser quando vier e não por causa de "fantasmas" preconceituosos e delirantes. Também foi apontado ao artigo a sua "antiguidade". Realmente, na voracidade descerebrada da "actividade política", dois anos remetem instintivamente para o museu e para a história. Medeiros Ferreira, que funda o seu apoio "estratégico" ao "novo Mário Soares" no "código genético" da democracia e no inesgotável contributo do seu candidato para "o pensamento político contemporâneo", ficou apreensivo pela circunstância de Cavaco também poder "pensar" e não se limitar prosaicamente a "fazer contas". Apesar da "idade" do texto, como salienta. Descansem, pois, os trauliteiros e os cândidos do "politicamente correcto", à "esquerda" e à "direita", que Cavaco tem efectivamente uma "existência" política que, se ele quiser, o eleitorado avaliará na altura adequada, sem necessidade de sibilas ou de intermediários duvidosos. Não o subestimem .

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