E foi pelo Francisco que eu reparei nas observações do meu amigo Medeiros Ferreira (MF) acerca do "centro moderado" a que, supostamente, eu e o Paulo Gorjão pertenceríamos. Diz MF que "as suas [nossas] críticas ásperas à candidatura de Mário Soares fazem-[lhe] alguma impressão. Até porque não será Mário Soares a perder o centro. Mas o centro opinativo pode perder-se de Mário Soares." Instado pelo Francisco ("as pessoas do centro» (como o João e o Paulo) (...) não podem perder a oportunidade de perder Mário Soares?"), MF aclarou a sua posição: "há quem pretenda que Mário Soares perdeu, desta vez, o centro, quando me parece que é o centro que pode perder Mário Soares e ficar orfão." De facto, nesta questão de saber "quem perde o quê e para quem", não me parece que o "centro moderado", particularmente aquele que ajudou Sócrates a conquistar uma maioria absoluta que estava "perdida" à "esquerda" (todos os partidos de "esquerda" cresceram em Fevereiro), se reveja por inteiro naquilo a que ontem Soares apelidou de uma "candidatura nacional". Se "o centro pode perder Mário Soares e ficar orfão", como escreve MF, isso quer dizer que o "epicentro" da sua candidatura não é o mesmo de 1985/86, o qual lhe valeu a passagem à 2ª volta e a vitória tangencial. Não me recordo de ter visto ontem no Altis muitos dos que apareceram em Julho de 1985. Aí, Soares que ainda era primeiro-ministro, estava praticamente sozinho. Eu sei porque estava lá e tenho uma "memória de elefante". Agora vi, nas televisões, o PS "profundo", algumas notabilidades do governo, uns representantes "oficiosos" do regime e outros que o querem ser, e a corte "independente" privativa do dr. Soares, incluindo Fernando Rosas. Naquela altura, como já o disse, Soares representava, pela sua história, pela sua determinação e pela sua "coragem serena", a defesa "moderada" dos equilíbrios políticos contra alguma imaturidade ainda latente do "regime". Em 2006, uma terceira candidatura, nos termos em que foi gerada e desenvolvida, não vem "equilibrar" nada. Soares demonstrou ontem o seu real desprezo pelas presentes tensões políticas, económicas e sociais que atingem o país e o mundo, iludindo-as sob o manto diáfano do "optimismo antropológico", e prometendo-nos cinco anos de verdadeira "música no coração". Por mais generoso que seja este "irrealismo", não creio que o "centro moderado" se reveja nele ou que esteja interessado em se "perder" por lá . Eu acho - mas posso estar errado - que quem se "perdeu" definitivamente do "centro moderado", foi M. Soares. E é pena.
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