3.9.05

"SERVIR PORTUGAL"?

No comício da rentrée, José Sócrates não resistiu a começar pelo fim. Ou seja, usou a candidatura do seu partido a Belém para se "escudar" dos escolhos evidentes destes primeiros meses de governação. Nunca é demais lembrar que Soares "apareceu" na sequência da "crise" Campos e Cunha e imediatamente após a entrevista "presidencial" de Freitas do Amaral. O pesado véu que a sua simples presença em cena representa, "alivia", por ora, o primeiro-ministro das suas dificuldades. Eu, no entanto, vejo nisto uma perigosa ilusão. Nem as dificuldades desaparecem por Soares ser candidato, como prevejo que se agravem quando ele tiver necessidade de começar a falar. O "negócio" entre Sócrates e o seu candidato é uma espécie de "pescadinha de rabo na boca" em que qualquer coisa que saia fora do contexto pode ter um efeito contrário ao inicialmente previsto. Preso por ter cão, e preso por não o ter. No meio desta inverosimilhança política, Soares deseja "meter no bolso" Freitas do Amaral, o ministro-fantasma de Sócrates, a pagar agora o preço da sua pusilanimidade "presidencial". Depois de ter torpedeado, com a sua habitual gentileza, Manuel Alegre, Soares precisa de garantir o silêncio comprometido de Freitas do Amaral que talvez tenha finalmente percebido no que é que se meteu com a sua esquizofrénica entrevista de Julho último. Soares, como ontem notava Vasco Pulido Valente, não aprecia ao pé de si quem tenha uma vontade própria. Prefere cortesãos encartados e sabujos inexperientes que ele possa manipular à vontade. Daqui para diante, as coisas não se vão definir a partir de quem é "pró Sócrates", mas a partir de quem é "pró Soares". O "regime", não lhe bastando o estado em que está, ficou prisioneiro da aventura narcísica e fantasiosa do dr. Mário Soares. Lá pelo meio "anda" o governo do país e a sua putativa "autoridade". Chama-se a isto "servir Portugal"?

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