14.5.10

«O PAPA NÃO MEDE MULTIDÕES»


«Nenhum dos bem-pensantes que protestaram nos jornais contra a utilização do espaço público e as facilidades que o Estado deu à Igreja para a visita do Papa disse uma palavra sobre o Benfica ou sobre a maneira como em Portugal inteiro o futebol abusa do público pacífico, que, por inclinação ou princípio, não se interessa por aquela particular actividade. Esses podem sofrer tranquilamente, que ninguém se rala. Pior ainda: houve mesmo por aí quem se orgulhasse (ao que parece sem motivo) da muita gente que atraiu o Benfica em comparação com a pouca gente que atraiu o Papa, não se percebe exactamente para provar o quê: se a indiferença religiosa neste nosso admirável mundo moderno ou se a superioridade do Benfica sobre o catolicismo como religião ou valor social. Graham Greene escreveu uma vez que se descobrisse o Papa mal vestido e pobre à espera de autocarro, isso nem por um segundo abalaria a sua fé. No tom que lhe compete, o Papa Bento XVI repete constantemente a história de Greene. A Igreja, já explicou, perdeu toda a influência sobre o Estado e, o que é mais, não a quer readquirir: quer a sua liberdade e autonomia. A pompa e circunstância não valem para Ratzinger o preço de se "adaptar", como por aí o incitam, a uma civilização, que ele considera transviada dos seus fins verdadeiros. A ideia de que os católicos se transformem numa pequena minoria desprezada e perseguida não o horroriza, desde que a Igreja continue fiel a si própria. O Papa não mede multidões. Reafirma uma doutrina e uma vontade num tempo hostil. O resto, desconfio que não o interessa.»
Vasco Pulido Valente, Público

9 comentários:

Anónimo disse...

Impecável. Mais palavras são desnecessárias.
Maria

Floribundus disse...

havia necessidade de esconder as desgraças

na 2ªf a banca teve à beira da bancarrota

lá se vai a 'pesada herança' do ouro fascista

Anónimo disse...

O Benfica com suas as costas imensamente largas vai (indirectamente) continuar a pagar muitos ordenados neste ano fiscal.

Anónimo disse...

Para (me) admirar o que escreve Pulido Valente.
Julgava-o republicano, laico e socialista e muito tolerante com aquelas "fracturâncias" do menino Serginho das bexigas ...

Anónimo disse...

Pelo contrário, o futebol tem toda a influencia sobre o Estado e suas instituições, caso contrário a manutenção em cativeiro da águia do Benfica estaria sujeita à pesada lei que se aplica aos seus detentores.

Anónimo disse...

Caro João (permita-me que o trate assim),

Sou leitor assíduo do seu blog e sempre admirei a sua forma de pensar, embora nem sempre concorde com as suas opiniões. Registo, no entanto, a forma inteligente como procura, sempre, defender as suas convicções.

Tenho a minha forma de acreditar em algo superior, ainda que não possa enquadrar em nenhuma Religião concreta.

Essa minha forma de pensar não obsta a que considere esta visita de extrema importância. Pela mensagem e pela preocupação em transmitir algo de esperança, nomeadamente numa sociedade podre e sem valores éticos e morais.

Sendo de uma Família de gente honesta e trabalhadora, logo simples remediados, sinto vergonha de ter esta pseudo-elite como supostos representantes do que temos de melhor no País.

Basta verificar a figura triste que o PM fez, que nem educação e nível demonstra ter na aplicação de um Protocolo.

Cumprimentos.
H.R.

Unknown disse...

E está tudo dito.

Anónimo disse...

Desde Pedro e Paulo até nós vão seguramente 1980 anos. A merda vai sempre aparecendo e sempre passando: os mentecaptos vão diversificando os seus credozinhos, seja pelo dinheiro e pseudo-saber, seja pela astróloga maia ou o professor karamba - ou mesmo a 4ª internacional. Mas Cristo é constante e Pedro a rocha estável.

Ass.: Besta Imunda

Nuno Castelo-Branco disse...

A mensagem é muito simples. Para equívoco de muitos, a república acabou por libertar a pesada tutela que o regime liberal exercia sobre a Igreja e não o contrário, como a "estoriografia" oficialista quer fazer crer.
Os bispos eram praticamente seleccionados - passe a expressão - pelos governos , tornando a instituição num apêndice do regime e ao sabor dos jogos políticos. À Igreja não interessa o Regalismo. Antes de tudo, o que as leis de Afonso Costa provocaram, foi a libertação de peias que levou o mundo católico - a esmagadora maioria do país - a detestar profundamente o regime de todas as violências e arbitrariedades que o 5 de Outubro impôs a Portugal inteiro. Nunca uma população se sentiu tão humilhada como à época e facto grave, tendo a perfeita consciência da situação nacional perante as outras potências. Mas como raros são aqueles que conhecem ou conseguem interpretar a História, insistem nos mesmos erros.


O Papa chegou a Portugal como um homem acossado por uma tremenda campanha que dura há cinco anos. Quem pensou que as pessoas comuns tinham interiorizado a mensagem destruidora, enganou-se, porque na vida das nações existem valores que permanecem ao longo dos séculos, sem que para isso, o recurso à Razão aceite tenha qualquer função fundamental a cumprir. Pelo contrário, existe uma outra Razão escondida em cada um, que nas altura exacta se torna hegemónica, cilindrando a outra de elaborados conceitos na posse de uma minoria privilegiada. A natural generosidade e instinto do povo português, transmitiu ao homem frágil e expectante, aquele sentimento de protecção de que tanto necessitava, dando-lhe a confiança e o afago necessário. Nestes dias, bem podemos orgulhar-nos da nossa nacionalidade, para mais quando o "povo ignaro" soube perfeitamente - sempre! - distinguir entre um homem de valor e grandeza intelectual, com a chusma que nos tem governado ao longo das últimas décadas. Que diferença abissal entre a população do Porto do 31 de Janeiro de 2010 - umas dúzias de convivas para comes e bebes - e esta de hoje! Oxalá tenham aprendido a lição.


O que o Papa quis dizer é que a igreja, dada a evolução natural dos tempos, prefere libertar-se desse tipo de tutelas que a existirem na actualidade, apenas se verificam nos países do norte protestante, onde o Chefe do Estado é o Chefe da Igreja. Não ouço, nem leio nenhum dos adoradores da cadelinha Laika insurgir-se contra este facto.