31.3.09

PRESSÕES

O dr. Jorge Coelho, o CEO da Mota-Engil, afirmou que a empresa estava a ser "pressionada" para acabar as obras em curso antes das eleições. As pressões estão, pois, na moda. Mas quem, melhor do que o dr. Jorge Coelho, para lidar com elas?

A EVIDÊNCIA

«Perceba-se: se o caso Freeport for, por qualquer razão jurídica, arquivado sem conclusões e por prazos de prescrição, passa a caso político sem horizonte à vista.»

José Medeiros Ferreira, Bicho Carpinteiro

DESESPERADAS MAS BEM MENOS DO QUE NÓS


Mais uma recomendação para esquecermos, por uns instantes, a imensa suburbia em que se tornou Portugal. A partir das 21h, no canal Fox Life, dois episódios de "Donas de Casa Desesperadas".

O FUNDO E A MARGEM

Santos Silva recomendou que fossem "tiradas consequências" da sugestão de que existiriam "pressões" sobre os investigadores do "dossiê flamingo". O PGR já "tirou" as dele. Pinto Monteiro "ameaça" os seus subordinados com processos disciplinares, nomeadamente aqueles que «intencionalmente e sem fundamento, visem criar suspeições sobre a isenção da investigação» do caso Freeport que, segundo o PGR, «continua com a análise de todos os fluxos e contas bancárias com relevância, bem como com o exame da documentação atinente, nacional e estrangeira.» Também são susceptíveis de procedimento disciplinar os magistrados suspeitos «de qualquer conduta ou intervenção (...) junto dos titulares da investigação, com violação da deontologia profissional», o que «está já a ser averiguado com vista à sua avaliação em sede disciplinar.» É, digamos assim, uma maneira de ver as coisas. Não temos, porém, a certeza se corresponde ao fundo delas ou apenas à sua margem. Aguarde-se pelo próximo comunicado e pelos processos sobre os processos sobre os processos.

CÁ ESTAREMOS PARA VER


Sobre este post recebi este comentário de um "anónimo" - cheio daquela bravura ameaçadora típica dos cobardes - que reproduzo e deixo ao juízo dos leitores. «Não creio que o PGR tenha feito até agora qualquer comunicado sobre o caso que dá tanto "frisson" ao dr. Gonçalves, acompanhado pela Manuela das bocas, pelo sublime "Correio", etc. Más companhias, dr. Gonçalves, como lhe tenho dito. Mas se insiste, como já é maior e (aparentemente) vacinado, prossiga. Mas talvez venha a ver que as más companhias não levam a bom porto, como diriam os nossos avozinhos. Cá estaremos p'ra ver.» É isso mesmo. Cá estaremos para ver.
Adenda: Constato que o dr. Santos Silva, mesmo que involuntariamente, inspira muitos patrulheiros da blogosfera. Tal como ele, também eles pretendem "tirar consequências". Será este o mesmo partido fundado por Mário Soares, em 1973, na Alemanha ou já nos estamos a aproximar rapidamente de outra coisa inspirada em paragens mais latino-americanas ou numa Europa de leste anterior a 1989?

OUTRO LUGAR, OUTRAS GENTES


«O que queria deixar aqui escrito é que as pessoas que me vão enchendo estas páginas numa viagem que se iniciou em Lisboa e a esta voltará, são as pessoas que me interessam e que as mostro, pois então. Que se saiba da existência de homens e mulheres que trabalham como nenhum de nós sabe ou jamais saberá. É no duro, a doer, não é como estar aqui sentada a escrever e a cair na rima, sem grand ou petit souci, como se dirá tudo isto em dutch? A vida destas pessoas não é a vida que sei de cor e que leio por aqui, por exemplo, da empáfia, desse abrir a boca de tédio e estúpida melancolia mas nunca de espanto (...). O que quero mostrar, claro, preto no branco, a cores, de todas as formas e feitios é a importância de ser vivo, mas desta forma, com orgulho, sem empáfia. E enquanto assim penso e escrevo estas notas, recordo os que vieram ter comigo a pedir fotografia de pose. E a rir os fotografei, e a rir deixaram-se ir na brincadeira para uma posteridade qualquer, sabemos lá nós qual, dank u wel. São as pessoas de Antuérpia, os estivadores e uma estivadora, ali ao centro, onde estava.»

Fátima Rolo Duarte, texto e foto. Porto de Antuérpia. 2009

30.3.09

O INFATIGÁVEL COMUNICADOR GERAL DA REPÚBLICA

O senhor conselheiro Pinto Monteiro anunciou para amanhã, terça-feira, um comunicado (mais um) sobre o "dossiê flamingo". Era, aliás, o que mais falta estava a fazer ao processo: outro comunicado. Quem diria que ainda ia ter saudades do dr. Cunha Rodrigues e do dr. Souto Moura. Nunca se deve cuspir para o ar.

GRANDES VOZES



Mario Sereni canta a ária "Morir, tremenda cosa" de La Forza del Destino de Verdi. Teatro San Carlo de Nápoles.1966. Sereni fez o papel do pai "Germont" na Traviata da Callas em Lisboa, em 1958. Belos tempos, bela gente, grandes vozes.

ISALTINO, O INCONSCIENTE

Um povo - neste caso os munícipes e são muitos espalhados pelo país e pelas foleiras rotundas que os circundam e que aplaudem- que elege indivíduos desta estirpe dificilmente chega a algum lado. No fundo, ao declarar-se "inconsciente" em relação a um tema (uma conta bancária na Suiça alimentada a "sobras" de campanhas eleitorais) que releva de tudo menos da inconsciência, o referido indivíduo está a gozar com quem o escolheu e, muito adequadamente, com a justiça e a investigação criminal portuguesas. Uns e as outras merecem-no.

LER

29.3.09

QUEM BEBE PELO GARGALO COMPRA A GARRAFA


O dr. Portas pretende que a justiça vá até "ao fundo" no "caso Freeport". Jerónimo quer que a verdade "seja apurada". A dra. Manuela fala em "sucessão" de factos que torna "premente" o esclarecimento do tema. E Louçã também deve ter dito qualquer coisa. Isto significa que, à medida que o ano eleitoral avança, o "caso Freeport" também avança pelo ano eleitoral adentro na proporção inversa à velocidade com que avança na justiça. Não me parece avisado. O que a oposição deve fazer é julgar politicamente o governo e o seu chefe. Levar o "caso" para dentro da política é seguir o filão do congresso albanês do PS, ou seja, dar razões a Sócrates para se fazer de coitadinho, secundarizando o fracasso da primeira legislatura socialista em maioria absoluta. Acresce que, se no "caso Freeport" Sócrates é inocente até prova em contrário, já no seu desempenho como primeiro-ministro há muito que o deixou de ser. Ao centralizar na sua extraordinária pessoa o partido, o governo e a propaganda, Sócrates aceitou beber o cálice até ao fim. É isso que a oposição lhe tem de exigir perante um país mais devastado, mais deprimido e mais pobre do que há quatro anos. Quem bebe pelo gargalo compra a garrafa.

CONVERSAS COM MANUEL PINHO

MORTE DO ENSAIO?


«Conviria tentar perceber as razões mais fundas do declínio de um género [o ensaio] que, não estando tão moribundo como se apregoa, já conheceu realmente melhores dias. A infantilização do ensino não ajudou. A leitura como momento lúdico pode ter as suas vantagens e servir para entreter, mas ler também é um acto que exige determinação, vontade, por vezes esforço. A democratização do ensino superior, por seu lado, não foi acompanhada do grau de exigência necessário (por muitas razões que não vêm agora ao caso) e os conhecimentos de um recém-licenciado em termos de cultural geral, de «mundo literário» – à falta de melhor tradução para well read – e de capacidade de interpretação e análise de um texto deixam muito a desejar (haverá excepções, como é óbvio, e felizmente). Assim, embora haja mais títulos publicados e mais leitores, estes, por várias razões, estão menos receptivos ao ensaio ou à poesia. Por tudo isto – pela pouca exigência do ensino, pela simplificação dos programas, pelos baixos índices de leitura em bibliotecas, pela pouca visibilidade das obras de ensaio, pelo preço deste tipo de livro (com que o editor se tenta acautelar de um previsível fracasso), pelos hábitos de leitura que vão mudando – o panorama não é animador.»

Pedro Bernardo, Blogtailors

UMA TRADIÇÃO

«A tradição de passividade nacional perde-se no tempo.»

Victor Cunha Rego, 1959

SE ISTO NÃO É UM PORTUGAL DOS PEQUENINOS...


Eduardo Dâmaso coloca o dedo na ferida quando pergunta "o que fazer ao Freeport". Como, presumo, os magistrados não costumam ser dados a subtilezas políticas com a derradeira excepção do dr. Cunha Rodrigues - sim, os magistrados "também" fazem política tal como a política faz magistrados, não vale a pena ter medo das palavras -, tudo se encaminha (à conta da tradicional "filigrana jurídica" de que fala o Eduardo e que costuma servir para tudo e para o seu contrário) no sentido de o processo morrer efectivamente na praia, no caso, no belíssimo estuário visto a partir de Alcochete. O tandem Pinto Monteiro/Cândida Almeida não esconde publicamente a atrapalhação cada vez que é confrontado com o assunto ou traz o assunto cá para fora em comentários avulsos e despropositados. Agora, parece, "estuda-se" (o verbo é meu porque o jornal fala em "pressões") a eventual prescrição. No fundo, o que é preciso é chegar às eleições com "isto" arquivado e não se fala mais nisso, não é verdade? Se "isto" não é um Portugal dos Pequeninos...

Adenda: «Tudo começa na justiça. Mas, saber isso, com a justiça que temos, é o mesmo que nada.»

O DOSSIÊ FLAMINGO NUNCA EXISTIU?

Apesar do dr. Marinho Pinto, do dr. Santos Silva, do sr. Smith, da Manuela Moura Guedes, da dra. Cândida Almeida, da dra. Ana Gomes e de campanhas pretas e brancas, entre outros, será que, afinal, «não houve alteração de legislação que viabilizasse o empreendimento, não houve aprovação do projecto, não há mesmo Freeport, ainda lá está a fábrica de pneus» e «podemos, pois, estar descansados» porque apenas existe «um Freeport ilusório e virtual»? Um "fenómeno do Entroncamento"?

28.3.09

O PORTA-VOZ


Para além de porta-voz do governo (e do admirável líder, em especial), o persistente dr. Santos Silva também será porta-voz do senhor conselheiro Pinto Monteiro ou de algum departamento de investigação nacional ou internacional que nós desconhecemos?

"COISAS" QUE O INTERESSAM "IMENSO"


José António Pinto Ribeiro, um advogado de sucesso que o admirável líder, certamente por engano, fez ministro da cultura, concedeu uma entrevista ao Jornal de Negócios. Presumivelmente para se defender das observações de Manuel Maria Carrilho a quem acusa de ter "calendário e um projecto político pessoal". Em compensação, ele, Pinto Ribeiro, não tem nada a avaliar pelo tom das declarações. Nelas retoma as críticas feitas aos seus colegas do governo, em particular ao próprio chefe e ao ministro das finanças, já que foram estes que determinaram as "prioridades" em função da crise. Ele julga que acabou por fazer mais com menos - o seu lema - quando, na realidade, inexiste politicamente. Mostrou gráficos e mapas aos jornalistas, afirmou que «é por isso que ando aqui a fazer essas coisas do português e da língua que me interessam imenso» e exige "rigor e imaginação". Ou seja, para que aqueles que não o "compreendem" o possam seguir no desalinho de um "pensamento" que não se encontra nem sequer naquelas "coisas que o interessam imenso". Apesar do "projecto pessoal", é porém a Carrilho (o ministro) que o pobre foi buscar as melhores ideias "críticas". «Todos os anos o Estado dá grandes contribuições de 40 milhões só para três EPE [D.Maria, São Carlos e São João]. O que é que isto significa? Que talvez as EPE não devessem ser isso. Talvez devessem ser institutos públicos com grande autonomia administrativa e financeira. Talvez esta insensibilidade, ou esta necessidade de uma certa cegueira– “é para todos igual” –, levou a isto. Acho que na próxima legislatura será possível começar a fazer a adaptação de cada uma das leis orgânicas e da situação administrativa e financeira de cada entidade àquilo que são as suas reais necessidades.» Só que isto foi o que Carrilho fez entre 1995 e 2000 e que os seus sucessores, na ânsia de deixarem uma "marca", destruiram. Neste contexto, Ribeiro é apenas mais um ministro desfocado, ansioso por se ver livre do equívoco em que o meteram e por regressar ao glamour frívolo típico da esquerda chique que o promoveu. Ninguém terá saudades dele.

LIGUE



Adeptos do optimismo antropológico decretaram para a noite de sábado uma hora de poupança de electricidade sugerindo um apagão mundial. Uma das nossas fanáticas dizia de manhã, na Antena1, e na melhor tradição da "engenharia das almas" tão cara às nomenclaturas estalinistas, que as pessoas podiam aproveitar para um jantar romântico à luz das velas, para dar uma lição de ecologia ambiental aos filhos ou para desligar a televisão. A este folclore inútil respondo com Wagner. O Crepúsculo dos Deuses, a derradeira jornada do Anel do Nibelungo numa versão da Ópera de Estugarda, passa a partir das 19 h no Canal Mezzo. Ligue que vale a pena.

(Clip: Luana DeVol no papel de Brünnhilde. Richard Wagner, "Götterdämmerung". Ópera de Estugarda. 2003)

"HE"

O que deve ter enfurecido verdadeiramente o admirável líder não foi alguém ter insinuado "corrupção" naquele DVD apócrifo. É que, às tantas, ouve-se dizer "he was just being stupid", sendo o "he" o actual chefe do governo português. Isto, sim, mói qualquer homem por dentro.

FARÁ PARTE DA CAMPANHA NEGRA?



Adendas:

«Não é o facto de a vaia ter existido que me impressiona. O que acho especial é o facto de a ópera ter sido atrasada meia hora não por questões técnicas, não porque um dos artistas se sentisse indisposto, mas sim porque o casal real estava atrasado.» (João Sousa)

«Não estou a ver isto acontecer na Reikjavik ou na Oslo que tanto inspira ( ambiente/tecnologia/ direitos dos gays/lésbicas/transexuais/cyborgs) as partículas que nos governam.» (Filipe Nunes Vicente)

BLOGUE DE DIREITA


A partir de agora também estamos aqui.

27.3.09

"MUITO ENGANO"


«Há muito que não se governa em Portugal, é tudo arranques e travagens, medidas avulsas e muito, muito engano.»

AS MULHERES VISTAS PELO JACOBINISMO

Aqui.

ÇA VA DE SOI

Ia escrever qualquer coisa sobre o bizarro artigo de Marinho Pinto colocado no Boletim da Ordem dos Advogados e não numa coluna de jornal. Todavia deparei-me com uma forma de vida inteligente no Jugular que se antecipou. Fora a parte em que o autor diz que aposta «na existência de uma campanha negra contra Sócrates», estamos de acordo. O que não me impede, como jurista, de considerar que o "som" de um "DVD" - em que alguém alegadamente imputa a outras pessoas determinados comportamentos - não vale, para já, nada. E que os visados têm pleno direito (quiçá o dever) de reagir a essa imputação sem "matar" o "mensageiro". Coisa diversa, naturalmente, é acreditar na justiça ou na política portuguesas. Ça va de soi.

A ENJOADA DONZELA

Bolçou aqui. E continuou por aqui. Parece um fiscal de um concurso estilo "quem é que que consegue ser mais Santos Silva do que Santos Silva". Força. Inscrevam-se até Outubro.

UM HOMEM COM UMA RELAÇÃO DIFÍCIL COM A VERDADE


«Não tenho culpa que o actual primeiro-ministro tenha um passado recheado de episódios que vale a pena investigar! Estão constantemente a aparecer... Não vou investigar porque é o primeiro-ministro?! Pelo contrário: ele tem de ser ainda mais escrutinado do que os outros.»

Manuela Moura Guedes, Público



«Revi os JN6 de 13 de Fevereiro (que motivou queixas na ERC), e o de sexta passada. Há neles uma série de reportagens e notícias sobre Sócrates e o Governo. Ainda bem que assim é. Eles estão no poder, têm de ser escrutinados. As notícias são correctas. Estão fundamentadas. Procuram o contraditório. Não encontrei uma única notícia com erros factuais. Nem Sócrates, nem o Governo, nem o PS, desmentiram uma única das notícias. O JN6 não tem culpa, como não têm os portugueses, de o nome de Sócrates aparecer numa série de “casos”, alguns deles investigados pelas autoridades, até a nível internacional. O que se espera, sendo ele o primeiro-ministro de Portugal? Que o jornalismo se cale? Ou que seja calado? Não conheço os fundamentos das queixas à ERC, mas se os queixosos se indignam com jornalismo factualmente correcto que não teme o poder, apetecia apresentar queixa dos queixosos. Invertendo a ameaça de António Vitorino em 2005, bem podemos dizer-lhes para se habituarem à liberdade.»

E. Cintra Torres, idem

QUESTÕES DE CARÁCTER

De acordo com o previsto, a ex-solta Ana Gomes é a candidata do PS "socrático" à Câmara de Sintra. Vamos ver se, à semelhança da camarada Elisa, do Porto, também é candidata nas eleições europeias. Na hora da verdade, a iconoclastia cede perante a necessidade da boa figura partidária, respeitadora, veneranda e obrigada. Questões de carácter, em suma.

UM GOVERNO SOCIALISTA

A maioria absolutista chumbou a proposta da oposição relativa à criação de um "fundo de emergência social público". Em compensação, o admirável chefe da referida maioria foi algures anunciar uma choruda maquia para "apoiar" as corticeiras. Por outro lado, a "nacionalização" do BPN já custou aos contribuintes uns bons milhões de euros. E é isto um governo socialista.

RISÍVEL


Aquele castiço da SIC que é "especialista" em bola, o sr. Rui Santos, inventou uma petição a que deu o nome de "pela verdade desportiva", uma aparente contradição nos termos. Curiosamente a dita petição já foi subscrita por alguma gente boa e por uma data de pantomineiros. Faz lembrar o termo "transparência". Os que andam sempre com ela na boca são normalmente os menos transparentes. Mas o regime - o país, afinal - é mesmo assim. Risível.

26.3.09

JOGOS FLORAIS

Assino por baixo.

AS DESVENTURAS DO "MAGALHÃES"

A SALVAÇÃO DA PÁTRIA?

Afinal, e a avaliar por estes indicadores, não é daquela "medida" puramente demagógica - porque apenas destinada a cativar a esquerda "chique" e urbana - aprovada no congresso albanês de Espinho que depende a salvação da pátria.

MAIO, MADURA MAIO


«O anúncio da RTP à principal rádio do Estado, a Antena 1, tinha uma mensagem claramente política, sendo absolutamente evidente o seu ponto de partida contra manifestações antigoverno. Está tudo tão errado neste caso que é difícil resumir todos os erros. O horror começa na agência publicitária BBDO. Para criar um anúncio de promoção da rádio de “proximidade”, inventou um diálogo entre um imaginário ouvinte, o “Rui”, com uma nada imaginária Eduarda (Maio), subdirectora de Informação da Antena 1 e uma das principais vozes desta estação do Estado na qualidade de “jornalista”. O anúncio é político. O “Rui” está no carro, no meio do trânsito; Maio diz que a emissão passará dentro em pouco para o debate da tarde no parlamento. A cena passa-se às 11h23, o que torna o anúncio errado em termos da sua própria realidade (não tem havido manifestações de manhã). Maio dirige-se ao “Rui” dizendo-lhe para não seguir por certa rua, cortada por causa duma manifestação. O “Rui” não sabia. Subentenda-se: ele é o cidadão que não liga a “politiquices”, só quer ir trabalhar (enfim, às 11 e meia da manhã), é para quem o governo trabalha, enquanto a manifestação está “contra” o Rui, contra quem trabalha. O “Rui” pergunta: “E desta vez é contra quê?” Nota-se no texto um a priori contrário a manifestações de oposição ao poder instalado, pois não sendo obrigatório que as manifestações sejam “contra”, o texto posto na boca do “Rui” e de Maio aponta para aí. Isto é, autores e intérpretes assumem uma posição contra as manifestações e, por arrasto, a favor do governo, o alvo das manifestações “contra”. Mais grave é a resposta de Maio: “pelos vistos é contra si”. Acrescentando depois: “contra quem quer chegar a horas”. Isto é, a jornalista Eduarda Maio, subdirectora de Informação da Antena 1, declara que manifestações contra o governo são contra os cidadãos. O texto em off também é incrível, dado que, depois deste diálogo opinativo, fala dele como indicador de que a Antena 1 dá a “actualidade” informativa. A gravidade deste anúncio é enorme, residindo em especial no facto de o anunciante ser uma estação pública, paga pelos contribuintes e dependendo do governo. O anúncio é não só anticonstitucional no seu teor contra as manifestações, como disseram os provedores da rádio e TV da RTP, como, pior ainda, é a favor do governo. O anúncio é protagonizado por uma jornalista que é, para cúmulo, uma das responsáveis da estação. É gravíssimo que Eduarda Maio tenha dado voz a este anúncio, aceitando o seu teor. A sua desculpa posterior (limitou-se “à leitura em estúdio de alguns textos”!) é vergonhosa. O anúncio é eticamente inaceitável para qualquer jornalista e, em especial, duma estação pública. O reclame foi visto e aprovado pelos responsáveis da rádio e da TV, ninguém levantou qualquer problema ao conteúdo do anúncio, pelo contrário, todos aprovaram um anúncio claramente político, contra manifestações e de tom favorável ao governo. É inacreditável e inaceitável o comportamento da BBDO, de Eduarda Maio, da direcção de Informação, da direcção de Programas da RDP, da RTP no conjunto. Marina Ramos, ex-jornalista e agora porta-voz da RTP, limitou-se a dizer que o anúncio promovia um género de programas e que foi aprovado. Parece que estamos numa ditadura, em que as pessoas fingem que não pensam, engolem, e apresentam-se como não responsáveis pelos seus actos. Só depois de os provedores, Paquete de Oliveira e Adelino Gomes, proferirem um comentário devastador para o anúncio, a Administração da RTP o mandou retirar de antena. Segundo li, Eduarda Maio ainda veio acusar o Público de “manipulação” (!) por ter ilustrado uma notícia sobre o caso com uma foto do lançamento do seu livro panegírico de inesquecível título, “O Menino de Ouro do PS”. Como se fosse possível dissociar a Eduarda Maio que é responsável numa estação do Estado (e do Governo) da Eduarda Maio que faz um anúncio contra os adversários do governo e da Eduarda Maio que fez um livro de pura propaganda do chefe do governo. O mais grave de tudo? Isto ter sido possível num regime democrático e ter como protagonistas jornalistas, ex-jornalistas, publicitários que deveriam ser cuidadosos e dirigentes empresariais que costumam ter cuidado com as matérias políticas. E foi possível devido ao ambiente de sufoco das liberdades, de acção continuada e extensíssima de uma central de propaganda do governo, e à cumplicidade, anestesia, medo ou complacência da classe jornalística nos media dos Estado. Só após quatro anos de um governo inimigo da imprensa livre e fautor da mais massiva propaganda do pós 25 de Abril, um anúncio destes pôde chegar à TV do Estado. Uma coisa assim não acontecia desde 1975. É uma lição sobre o ponto a que pode chegar, numa democracia, a propaganda e a “engenharia das almas” do tipo fascista.»

Eduardo Cintra Torres, Jornal de Negócios

Nota: Desta vez, Pedro, não tens razão. Aliás, é só reparares nos "blogues" (uso o plural majestático) que te citaram.

VOGUE PARLAMENTAR



Abriu ontem, com direito a uma kleine Nacht Musik, a sala de sessões do antigo Convento de São Bento depois de um interregno para obras "tecnológicas". A casa ficou alegadamente mais moderna embora os utilizadores sejam os mesmos. Painéis gigantes onde se pode acompanhar o orador do momento, plasmas em frente da cara de cada deputado para evitar o portátil, púlpitos móveis, adaptáveis à altura e a deficientes físicos (os outros não contam, por natureza), uma nova luz, etc., etc., foram os resultados do esforço do contribuinte para que os seus lídimos representantes possam trabalhar com um módico de dignidade e de eficiência, pelo menos, "twitteiras". Os parlamentaristas devem ter apreciado o gesto. A "casa da democracia" acolheu o "plano tecnológico", em todo o seu esplendor, como as criancinhas do "básico" inglês. De tal forma que, em vez daquela pobre meia dúzia de trombetas barrocas, mais valia terem convidado a Madonna. O espaço adequa-se perfeitamente a um espectáculo da ex-like a virgin. Sempre era mais divertido.

(Clip: Madonna em Barcelona, 1 de Agosto de 1990)

CONTRA A FACILIDADE MENTIROSA

«A principal fragilidade de Portugal no actual contexto de crise mundial vem do enorme endividamento. O total da nossa dívida ao estrangeiro (posição de investimento internacional) é de 100% do produto nacional, tendo explodido dos 8% que tinha em 1996. O acréscimo este ano (balança corrente e de capitais) será de 7,9% segundo a previsão do Banco de Portugal. O caminho que nos trouxe aqui é curioso. A balança estava equilibrada quando Guterres tomou o poder em 1995 (défice de 0,7% do PIB). A enorme degradação que se seguiu atingiu 9% do PIB em 2000, um desequilíbrio pior que o causado pelo 25 de Abril. Esse fiasco fez cair o Governo. O novo executivo, com Manuela Ferreira Leite nas Finanças, entrou em Abril de 2002, recebendo o défice de 2001 de 8,6%. A política da «dama de ferro», como foi chamada, conseguiu reduzir para metade esse buraco (4,2%) em 2003. Mas a linha não teve continuidade. O Governo saiu em Julho de 2004 e no fim do ano o défice externo já subira para 6,1%. Desde que Sócrates está no poder tem flutuado entre os 8% e os 10%. A única pessoa que nos últimos 15 anos enfrentou este grave problema foi Manuela Ferreira Leite. Ela é o rosto da austeridade, dureza, solidez.»

João César das Neves, Destak

(Ler: "Promitente Impenitente", pelo Carlos A. Amorim.)

A MARCA DE ZORRINHO

Tanta tagarelice em torno do "plano tecnológico" e afinal...

SEPARADOS À NASCENÇA


O cabeça de lista de ontem, o cabeça de lista de hoje.

25.3.09

A DERROTA DO PENSAMENTO


Reparem que não se fala em livros. «Num país de analfabetos, o computador transformou-se numa varinha mágica capaz de transformar um bronco num génio», escreveu Filomena Mónica para o nosso "contexto". Como o admirável líder tem tendência a copiar tudo o que sirva para dourar o seu maravilhoso "plano tecnológico", é de esperar o pior. Razão tinha Manuel Maria Carrilho, no pré-pântano de 2001, cada vez mais parecido com o de agora: «o slogan do «acesso de todos à Net» pretende, no seu fervor militante, passar a ideia de uma nova igualdade, agora ao alcance do teclado, como se entre o analfabeto e o investigador, o rural e o urbano, o europeu cosmopolita e o habitante de África, as diferenças desaparecessem quando se «surfa» na Net.»

A OBSESSÃO E A REALIDADE

A oposição faz bem em questionar, permanentemente e sem desfalecimentos, o governo acerca do "investimento público". Sobretudo acerca do TGV, do novo aeroporto ou das auto-estradas, essas doentias obsessões betoneiras que transferem lá bem para diante (quando, espera-se, já ninguém se lembrar do admirável líder) a factura a pagar. Sócrates, cada vez que abre a boca para se "orgulhar" delas e tentar vendê-las como o Doutor Dulcamara vendia o "elixir de amor", está a contribuir para cavar mais fundo a profunda cova do défice externo. Admira-me que alguns basbaques ainda não tivessem percebido o engodo e defendam o admirável líder - e o não menos admirável Lino - com mapinhas, traçados, localizações e o raio que os parta tentando provar o improvável. Não adianta varrer o endémico alheamento nacional com a propaganda porque, infelizmente, a realidade vai acabar por se impor. Repito: não queiram é fazer de todos nós parvos.

CONTRA A ABDICAÇÃO



Natália Correia recita "Defesa do Poeta", num serão de 1968 gravado em casa de Amália Rodrigues, com Vinicius de Moraes, David Mourão-Ferreira e José Carlos Ary dos Santos. Esta açoriana da Fajã de Baixo, recordada pelo Alexandre Honrado, faz-nos falta nesta hora absurda de complacência e de abdicação.

ESTA GENTE QUE NOS PASTOREIA - 2

Há mais coisas na terra e no céu que a senhora professora igualmente ignora. Só que, nestes tempos de forçada parcimónia, são demasiados euros para tão parco brio.

ESTA GENTE QUE NOS PASTOREIA

«Gerações que não passaram por provas de fogo não garantem nada a ninguém.»

José Medeiros Ferreira, Bicho Carpinteiro

MARGARIDA FRIENDLY -2

Pela Helena Matos.

A "LEGISLATURA PERDIDA" OU UM REGIME QUE COMEÇA A PERDER A CABEÇA ?


Por falar em "assumir" e em "verdade", a TSF anunciou que o "forum" da manhã de quarta-feira seria dedicado a este texto de Manuel Maria Carrilho. O DN tinha referido a publicação na véspera. A TSF cancelou o "forum" sem mais. Os bloggers "Sócrates friendly" - já não falo dos blogues e dos "jornalistas" governamentais - ainda têm dúvidas sobre a proveniência directa destas "pressões"?

A "LEGISLATURA PERDIDA" - 2

O Diário de Notícias edita, na íntegra, um texto que Manuel Maria Carrilho enviou, há meses, para a "Fundação Res Publica", uma invenção do PS "socrático" para "debater" com a "sociedade civil" e "independentes" - leia-se, os companheiros de estrada do "socratismo" e não do PS - a pensar nas eleições deste ano. No fundo, umas "novas fronteiras-2", afinal velhíssimas, e cada vez mais longínquas do espírito que presidiu aos "Estados Gerais" de 1995. O "socratismo" é, por natureza, avesso ao debate e à crítica pelo que esta "Fundação", a que preside o inevitável Vitorino, só serve para épater le bourgeois. Que nos diz Carrilho? Três coisas muito singelas. A primeira, que o PS não cumpriu o seu programa para a Cultura e daí o termo "legislatura perdida"A política cultural tornou-se assim cada vez mais invisível, ilegível e incompreensível, ameaçando fazer, dos anos 2005/09, uma legislatura perdida para a cultura.») Depois, que o PS de Sócrates reduziu o orçamento para a Cultura à ínfima espécie (0,3%) o que nem a "direita" tinha feito. Finalmente, e passo a citar, «um conjunto de decisões imprudentes e mal preparadas, que rapidamente exibiram as suas múltiplas consequências negativas. Basta olhar, para o compreender, para as condições - que desafiam o sentido de interesse público - de cedência do CCB para a instalação da Colecção Berardo. Ou para a decisão de construir um inútil novo Museu dos Coches, ao mesmo tempo que os museus nacionais sobrevivem em condições dramáticas e são objecto de um garrote orçamental que, só em 2008, os privou de 72% das suas verbas de funcionamento, deixando-os à beira do colapso. Ou para a reforma da administração do sector (o Prace/cultura) que, feita sem o necessário conhecimento, estudo e ponderação, deu origem a estruturas mais burocráticas, mais ineficazes e mais dispendiosas, com consequências que - ao contrário do que se pretendia - na maior parte dos casos se revelaram contraproducentes, e em alguns se revelaram mesmo catastróficas, como aconteceu em várias áreas do património (Sublinho, entre parêntesis, duas observações: a primeira, é que as notícias sobre o estado de diversos sítios do património consagrado pela UNESCO - e não só - são um preocupante sinal de alarme; a segunda, é que a situação que não se resolve com recursos "em espécie" oriundos do sector da construção civil, com vocação e aptidão bem diferentes - como em todo o mundo civilizado bem se sabe - das que exigem a recuperação e a valorização do património classificado).» Balanço: «em síntese, são três os pontos que caracterizam hoje a situação da política cultural: um estrangulamento orçamental sem precedentes, uma ineficácia e incapacidade administrativa que se tem agravado e uma persistente ausência tanto de estratégia global como de políticas sectoriais. Estes factores têm naturalmente conduzido a uma progressiva descredibilização da acção cultural do Estado, não sendo por isso de admirar que se multipliquem as vozes que põem em causa a própria razão de ser do Ministério da Cultura.» Carrilho termina pedindo ao PS que assuma «com verdade o balanço do período que agora termina», onde «a próxima legislatura deve ser a de um renascer da esperança para a cultura portuguesa: deve, sobretudo, ser a de uma verdadeira refundação das políticas culturais em Portugal.» Como se alguém da nomenclatura "socrática" pudesse assumir "com verdade" o que quer que seja. Uns porque não podem nem querem e outros, como é o caso do desgraçado Pinto Ribeiro, porque não sabem.

24.3.09

MARGARIDA FRIENDLY

Há dias a Sra. D. Margarida Moreira, da DREN, acusou outros de fazerem "surf político" à conta do contentor exclusivo para ciganos - deve ser uma "experiência pedagógica" destinada a preparar "novas oportunidades" - numa escola de Barcelos.«Dar à escola o benefício da dúvida» é dar o benefício da dúvida a alguém que, manifestamente, não tem nenhuma e, mais do que isso, nunca mereceria o benefício. A língua de pau é, aliás, a mesma. Quem diria.

UM NOVO "CLUBE"

Um belo título e dois bons autores.

O COITADINHO


Chama-se a isto, literalmente, "defender o quadrado".

UM FUTURO RADIOSO


Estudantes manifestam-se em Lisboa, entre outras coisas, pelo fim de Bolonha. Para quem não sabe, o "processo de Bolonha" foi uma maléfica invenção europeia, à boa maneira do "pensamento único", destinada a "facilitar" a conclusão dos cursos universitários em menos tempo e a obrigar os meninos e as meninas a frequentarem mestrados que não são mais, em mau, do que lhes faltou cumprir no curso acabado à pressa. O resultado deste "processo" é muito simples. Praticamente de bibe, sem referências, sem mundo, sem emprego e sem nada a rapaziada é lançada às feras. Basta atentar, na torrente de desempregados que avança desgraçadamente por cá e lá fora, na ampla fatia de licenciados ou nos licenciados empregados precariamente - como na Cuba ditatorial - a fazer qualquer coisa. O futuro anuncia-se radioso.

23.3.09

A FASE DELIRANTE

Sócrates entrou na fase delirante do mandato. Segundo a criatura, comprar painéis solares - parece que exclusivamente a duas ou três empresas mas o dr. Pinho é que deve saber quais são as "certas" - contribui para combater a crise. Sócrates ainda não percebeu que, para começar, a crise combate-se melhor com ele calado. A seguir, ver-se-á se se combate ainda melhor sem ele.

UM LUGAR ESTRANHO - 2


Chego a casa e vejo o "porta-voz" do Benfica, o ex-jornalista (presumo que já não seja jornalista) João Gabriel, a afirmar que o seu presidente, o loquaz Vieira, nunca se sentou ao lado do sr. Pinto da Costa, o presidente do Porto. Pelo contrário, disse Gabriel , o sr. Franco, o presidente do Sporting, sentou-se várias vezes. Não sabia que estar sentado ao lado do sr. Pinto da Costa era sinónimo de maldição imediata ou de uma indigna capitis diminutio. Em compensação, sei que Gabriel, antes de ser porta-voz do extraordinário Vieira, foi assessor de imprensa do presidente Jorge Sampaio. Sampaio evidentemente não tem nada a ver com o destino que seguiram os seus antigos colaboradores. Mas sair dos braços do Chefe de Estado para cair nos do sr. Vieira é obra. E prima. É como passar da Europa para a África subsariana. É evidente que, tratando-se do que se trata, onde se trata e de quem se trata, é praticamente a mesma coisa. Onde andarão o sr. Madaíl e o sr. Loureiro, essas luminárias institucionais do futebol português? O futebol é definitivamente um lugar estranho.

Declaração de (não) interesse: Detesto bola e muito menos pertenço a qualquer clube.

COITADINHO

No princípio ainda concedi algum crédito a este director-geral de Bruxelas arvorado em ministro da República. Com o tempo, porém, percebi que ele não conseguia largar a pele do pequeno burocrata que nunca deixou de ser. Não tem estofo político, fala pessimamente a língua dele e, pelos vistos, faz mal as contas. Esquece-se que é ministro da agricultura (esse cadáver adiado justamente à conta de Bruxelas e do "directório" europeu) vai para quatro anos e que, tudo espremido, está praticamente ao nível do colega da cultura. Não suporta que lhe chamem incompetente mas, a cada resposta sua, agrava-se a suspeita. Para além disso, e como é desprovido de um módico de imaginação política, aprecia imitar o trauliteiro Santos Silva a quem, ao invés dele, não falta métier. Coitadinho.

POR QUE É QUE EU GOSTO DO JOSÉ MEDEIROS FERREIRA


22.3.09

UM RETRATO

Sobre Jorge Miranda - e espero sinceramente que não o amachuquem mais nos jogos florais de São Bento que se avizinham - este post do Pedro Magalhães.

CAPPUCCILLI



Verdi, La Traviata: ária do barítono do II Acto, ""Di provenza il mar il suol". Tóquio. 1983

UM LUGAR ESTRANHO

Um árbitro de um jogo de bola em que se disputava uma taça confessou publicamente, numa televisão, que se enganou quando marcou uma "grande penalidade". Se bem entendi, esse erro determinou que a referida taça ficasse na posse da equipa que beneficiou daquela marcação. Em direito, chama-se a isto um vício na formação do acto. Repetem o jogo ou partem a taça ao meio? O futebol é um lugar estranho.

PAÍS ESTRANHO

«Nascimento Rodrigues espera há oito meses pela sua substituição. PS e PSD não se entendem para designar um nome com dois terços de votos possíveis. Entregaram-se a mais uma quezília inútil que os desprestigia e que destrói as instituições, tanto a Provedoria de Justiça como a própria Assembleia da República. Pretendem vantagens partidárias, querem-se humilhar reciprocamente e desejam obter uma vitória. Jorge Miranda, se foi proposto e se esteve disposto a aceitar, seria um excelente candidato e, certamente, um formidável e independente Provedor. Envolver a sua eventual designação em querelas miseráveis é a melhor maneira de corroer as virtualidades da possível designação. Por tudo isto, o Parlamento e os dois grandes partidos não têm perdão (...) Ao contrário do que se poderia esperar, o regime democrático, em vez de se abrir, de se mostrar mais ágil e de se aproximar dos cidadãos, fecha-se sobre si próprio. Os partidos receiam cada vez mais a sociedade. Ligam-se a grupos económicos que lhes prometem obras e investimentos, mas afastam-se dos cidadãos. Apreciam quem depende de si. Gostam dos áulicos. Comovem-se com os caninos e os rastejantes. Mas temem os homens livres. Já com a Administração Pública, temos um regime de “confiança política” que consagra a propriedade governamental da função pública. A pretexto de obrigar a concursos para os cargos de menor importância, uma lei de 2005 transformou as nomeações dos “dirigentes superiores” em actos de mera confiança política do partido no governo. A ponto de decretar que os mandatos desses dirigentes (directores-gerais, inspectores, presidentes de institutos, etc.) terminam com as eleições e a formação de um novo governo. O que autoriza esses dirigentes a fazer política e campanha, ou a proteger os seus cargos. O que significa, em última análise, que podemos e devemos suspeitar da acção de qualquer dirigente superior: têm um evidente défice de isenção no serviço público. País estranho este que legaliza o favoritismo e legitima a desconfiança!»

António Barreto, Jacarandá

A DUTRA FARIA

Lida - como deve ser sempre lida, isto é, sem complacências e sorrisinhos idiotas - pelo Filipe: «A propósito de um "inquérito internacional sobre a felicidade", a Fernanda Câncio interpreta os resultados portugueses e escreve um excelente panfleto de propaganda governamental: "estamos basicamente como estávamos no ano passado" e "a felicidade pode ser, afinal, uma mera afirmação de dignidade e resistência". Ou seja, o barco está muito bem entregue, a tormenta não amedronta e o povo é sereno. A propaganda é uma ferramenta inteiramente legítima. Ao contrário dos amadores e dos lambe-botas, a Fernanda sabe fazer as coisas. Como quem não quer a coisa: é esse o segredo.»

UM VOTO PARA BARROSO


O dr. Soares falou, com inteira justiça, na "mediocridade" dos dirigentes europeus. Presumo que não excluiu ninguém embora tivesse na cabeça o dr. Barroso, aquela honra nacional que começou com Sampaio e termina em Sócrates. Todavia, é bom para o país deixar, por ora, o dr. Barroso a pastar a sua satisfeita figura - apesar de um primeiro mandato insignificante e cheio de derrotas políticas extensíveis aos ilustres adjectivados por Soares - lá fora. A vida pública portuguesa já tem demasiados chicos-espertos como ele para dar e vender. Voto nele.

O JORNALISMO DE REBANHO


«Estamos de novo no círculo vicioso que gera um efeito de claustrofobia, porque não se consegue sair do meta-texto, nada existe fora do mundo pequeno dos meios, entre as redacções e os blogues dos jornalistas, em que cada um se mede face aos outros como adolescentes na escola. E como a “classe” é pequena, as reputações voam como o vento, os empregos estão difíceis, o pack journalism, o jornalismo de rebanho é uma forma de situacionismo. O receio de ir contra o “consenso” da classe é muito, o resultado é um enorme empobrecimento do jornalismo político.»

José Pacheco Pereira, Abrupto

NÃO É FÁCIL DIZER BEM

Ainda bem que existe a liberdade de expressão. Ela permite que "escritores" portugueses como Miguel Sousa Tavares (superficiais e pouco dados ao chamado "pensamento complexo") encham folhas de jornais com barbaridades em letra de forma. E que nós, comuns mortais, as possamos ler. O artiguinho de ontem, no Expresso, dedicado ao Papa Bento XVI, é o resultado de anos e anos de convivência "intelectual" com padres estilo Frei Bento Domingues à mistura com uma correcção política serôdia que até já conseguiu isolar a homofobia que em tempos o assolou. Para resumir, Tavares classifica Ratzinger como "o infausto Papa", um ser tenebroso que ele imediatamente detectou no primeiro dia em que o novo Papa apareceu à janela do Vaticano. Bastou-lhe, imagine-se, olhar para o rosto de Ratzinger à varanda para perceber de imediato a perfídia que se preparava. Isto não é um Miguel Sousa Tavares. É mais um Paulo Coelho.

21.3.09

GRUPOS

É bem feito. O sargentão venezuelano, um dos maiores amigos internacionais do nosso regedor, não parece disponível para honrar um contrato de cerca de dois mil milhões de euros - que envolvia o fornecimento de casas pré-fabricadas - que celebrou com o nosso lúcido governo. Quem fica "a arder" é o fabricante das ditas casas, o famigerado Grupo Lena, de Leiria, por sinal também muito amigo do regedor. Pode ser que tenham mais sorte com o jornal. Do Grupo.

O PORTUGAL DO PEQUENINO

«Enquanto por cá temos de aturar um regedor incompetente, autoritário e opressivo, lá fora a vida continua.»

Vasco Pulido Valente, Público

A PRIMAVERA EM FÁTIMA

«E quando começarem a dizer que o twitter sucks? E porque é que ninguém que twitta percebe que para completar um raciocínio qualquer, por mais simples que seja, tem que juntar molhos e molhadas de 140 caracteres? E porque é que um dos grandes assuntos do twitter world é o twitter? Os meus dias são tão simples. Vou estender uma corda de roupa.»

Fátima Rolo Duarte

PARA

Ouvir os lisboetas.

O DINHEIRO NEM SEMPRE APARECE

Não é bem assim, João. A expressão exacta era "o dinheiro aparece sempre". O que o dr. Soares não explicou é que o dinheiro nem sempre - ou quase nunca - aparece junto de quem dele precisa. E a "história" das prestações é mesmo isso: «chutar para 2011 metade das prestações mensais de habitação que as famílias desempregadas não conseguem honrar.» O resto é reles propaganda.

"APARECE POR TODO O LADO"


«A propaganda atingiu agora um novo e patético momento, com a tentativa de comparar Sócrates ao Cavaco Silva dos governos de maioria de 87-95. O argumento compara-os em autoritarismo, carisma e reformas, quando na verdade Sócrates é autoritário e Cavaco tinha autoridade; Cavaco tinha carisma, Sócrates tem powerpoint; Cavaco fez reformas, Sócrates não conseguiu. A comparação surge como tábua de salvação propagandística de quem já não tem a que se agarrar: até já usam o mito adversário para inventar um impossível mito Sócrates. Embora ainda não se note muito, tudo isto coincide com a chegada do desespero: as "reformas" falharam, os "grandes projectos" afundam-se, o Magalhães gralha-se, o desemprego cresce, as empresas fecham, os grupos profissionais não querem saber do Governo para nada, as mentiras e os actos controversos vêm à tona, a emigração aumenta, o crime idem, as promessas e propostas repetem-se, a governação nada traz de novo; o Governo governa à vista, para chegar de pé ao fim do dia; o Governo está esgotado, acabado. A violência contra os media aumentará com o desespero, como se vê pelo comunicado de ontem da ERC. A "campanha negra" é poeira para os olhos, porque as notícias da imprensa e TV basearam-se em elementos factuais, declarações e documentos. Nenhum facto foi desmentido. Ao contrário do que diz o PS-Governo, não há notícias a mais, o que há são demasiados assuntos, demasiados factos. Baseiam-se em informações factuais e credíveis. O nome de Sócrates aparece por todo o lado. É o caso da "licenciatura". É o caso dos "projectos arquitectónicos". É o caso Freeport. É o caso de Setúbal e dos sobreiros. É o caso da Cova da Beira. É o caso da não entrega da declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional. Todos estes casos envolvem pelo menos o nome do primeiro-ministro de Portugal, e isso está a tornar-se um grave problema para o país, para a governação e, até, para a governabilidade. Há presunção de inocência, sim, o que não colide com a liberdade de informar, investigar e opinar. E também há a presunção da liberdade de se achar que as notícias são importantes para se conhecer o primeiro-ministro e as suas acções e que os factos relatados cheiram muito mal em si e não por serem relatados. Sócrates e o seu círculo fechado de poder, semelhante aos dos partidos únicos, armaram, essa sim, uma "campanha negra" contra a liberdade de informar correctamente com factos, declarações e documentos sobre os casos em que o nome de Sócrates aparece de facto envolvido. É preciso dizer basta às "campanhas negras" de Sócrates e do seu círculo de poder contra a verdade e as notícias verdadeiras.»

Eduardo Cintra Torres, Público

ERC E MANUELA OU A TROVA DO RESPEITINHO - 3

«Quando a TVI investiga activamente o caso Freeport e todos os outros casos (e são muitos) relativos à passagem de José Sócrates pela Secretaria de Estado e pelo Ministério do Ambiente, sem se preocupar com as inconveniências, está a cumprir uma função que justifica o papel cívico do jornalismo. O que deveria preocupar-nos não é o facto de o noticiário da TVI ser assim, mas sim o facto de os outros não o serem. O respeitinho com que se trata o poder em Portugal, principalmente o que vem do PS, que é socialmente mais vasto (o PS é muito mais o establishment nacional, da academia às fundações, do que o PSD), é uma patologia cívica que nos entorpece. E, como bem têm assinalado os responsáveis da TVI, as suas notícias nunca são desmentidas.Por tudo isto, espero que a ERC não seja o instrumento que dê ao Governo o pretexto legal para atacar a TVI. O anterior Governo, muito mais atabalhoado neste tipo de operações, conseguiu tirar Marcelo, um seu crítico, de um espaço que lhe dava "espaço" e confiná-lo num canto da televisão pública, uma ecologia sempre difícil para um comentário crítico à governação. O actual Governo pretende seguir-lhe os passos e as pressões contra tudo o que é a já frágil linha de independência nos jornais, rádios e televisões, acentuam-se cada vez mais. A crise ajuda, com o Governo a comandar cada vez mais a economia dos grupos de comunicação pelas decisões que toma. E, com este Governo, e com o tandem Sócrates-Santos Silva, o que não vai a bem, vai a mal. E já se percebeu que, pelo menos com a TVI, não vai a bem.»

José Pacheco Pereira, Público

PRIMAVERA



Camille Saint-Saëns: Samson et Dalila, ária "Printemps qui commence". Maria Callas. Paris, 1961.

20.3.09

A ÁFRICA DELE - 2

Exactamente.

BOA ESCOLHA


Descontado o absurdo regimental do "acordo não escrito" entre o "bloco central" para o efeito, acompanho o PS na escolha de Jorge Miranda como o nome a propor à AR para o cargo de Provedor de Justiça e discordo da "reivindicação" da dra. Ferreira Leite, sobretudo feita depois de conhecer o nome indicado pelos outros. Jorge Miranda foi várias vezes meu professor, é um homem de uma probidade acima de qualquer suspeita, ferozmente independente, um homem de cultura e, como se costumava dizer noutros tempos, um homem bom. Tem, muito adequadamente, o perfil ajustado à função. O PSD devia seguir o conselho do Presidente da República e apoiar esta solução, deixando-se rapidamente de contabilidades e de mariquices.

O CRIADOR DE HIPOTECAS FUTURAS


«É fundamental que neste tempo que é difícil para o país, que é difícil para todos os países da Europa e não só, que as decisões que são tomadas, ponderadas, que esperemos todas correctas, não vão hipotecar de facto o futuro desenvolvimento do país», recomendou o Chefe de Estado em Constância. Até agora, porém, só conhecemos "grandes investimentos" públicos - e, sobretudo, grandes anúncios - que vão efectivamente hipotecar o futuro. Isto é, e seguindo à mesma Cavaco, coisas a evitar e que vão «passar para as gerações futuras hipotecas que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos» terão «dificuldade em pagar.» Deve ser uma das maneiras de "recordarmos" o admirável líder e a sua fantástica "visão" de "futuro". Como o grande criador de hipotecas futuras.

ERC E MANUELA OU A TROVA DO RESPEITINHO - 2


«Ser "contrapoder" na actividade jornalista é absolutamente essencial. Reparem, eu não digo anti-poder, que é uma coisa completamente diferente. Ser "contrapoder", seja ele qual for, é uma atitude activa de quem exige responsabilidades e explicações de tudo, mas de tudo mesmo, a alguém(s) que, POR SUA VONTADE, quis gerir a vida de um País e, que por isso mesmo, não pode fazer asneiras. O jornalista tem de ser desconfiado, meter o nariz em tudo, fazer sempre de advogado do diabo, morder as canelas, não ter temor reverencial (tão cultivado neste país), eles estão ali para servir o povo e não para que o povo os sirva a eles... o jornalista deve descodificar a mensagem politica que vende gato por lebre, deve chamar as coisas pelos nomes, sem estar com rodriguinhos que só confundem quem nos vê, deve ter, sim, uma atitude "contrapoder". O contrário disto é a informação cinzenta, reverencial que aceita o que se diz, que faz uma pergunta, mas não faz segunda...porque o dever está cumprido! A pseudo-isenção não tem qualquer sentido critico porque, infelizmente, na maior parte dos casos, ou há medo, ou há ausência total de capacidade para tal e isto é confundido muitas vezes, então, se for acompanhado com uma voz grossa e radiofónica, com uma informação "rigorosa, isenta e sóbria"... sóbria, um dos adjectivos mais apreciados pelos portugueses... Por tudo isto parece que fica clara a importância do "contrapoder", entendido também como uma espécie de jornalista "grilo falante" do pinóquio (nos tempos que correm..) Só assim se consegue uma boa informação. É este o jornalismo que se faz na velha e conceituada BBC onde há uns tempos atrás andavam à procura de novos jornalistas "rotteweilers" porque os que fizeram carreira e história chegaram à idade da reforma. Mas lá a liberdade de expressão é verdadeira, o jornalismo faz cair ministros e governos, o Parlamento chama a si questões que os "rotteweilers", os tais contrapoder, descobriram com o seu faro apurado. E, depois, não têm órgãos políticos compostos na sua maioria por elementos da mesma cor politica do governo a analisar a comunicação social, como é o caso da ERC,em Portugal. Mas, o que tem de mais extraordinário ainda este da comunicado da ERC - e isto tem a ver com o último comentário que li - é que nunca foi feito nenhum do género antes. É a primeira vez que a ERC faz um comunicado a dizer que recebeu umas queixas e que vai apreciar as ditas queixas. O que a ERC sempre fez, foi dar, e só, as conclusões e recomendações, se for caso disso, depois de as apreciar. Todos os jornais, ,todos,têm queixas. Imaginem o Telejornal que tem anos de existência... Já alguma vez viram um comunicado da ERC a dizer que recebeu queixas sobre o dito e que vai apreciar as mesmas????....Pois é..."vivemos em liberdade", se, até podemos fazer pão em casa e pôr-lhe o sal que quisermos...eu, para já, não me sinto com vocação para padeira, continuo jornalista como sempre fui, não cedendo a pressões vindas por comunicado ou não.....»

Manuela Moura Guedes

DE MINISTRO A EMPLASTRO

Mais um "retrato" do equívoco da Ajuda, a "produção fictícia" Pinto Ribeiro, advogado de "causas mil", como diria a oficiosa Câncio, uma Dutra Faria com muito melhor aspecto.

NO SEU DIREITO E NO SEU PAPEL

«Os valores de Bento XVI não são os valores de um governo, de uma ONG ou de um indivíduo que tenta limitar o imenso desastre da sida em África. São valores de outra ordem. São valores de uma ordem religiosa, que cada vez menos se percebem ou respeitam no Ocidente. Não vale por isso a pena discutir a moral sexual da Igreja (e do Papa). Vale a pena garantir que ela não invade a esfera da liberdade civil. Ora Ratzinger não andou por África a pedir que se proibisse o preservativo. Pediu aos católicos que prescindissem dele, em nome de uma perfeição que os católicos escolheram procurar. A influência dele é, neste capítulo, deletéria? Inegavelmente. Convém que ela não alastre em África (e na Europa)? Sem a menor dúvida. Mas sem esquecer que o Papa está no seu direito e no seu papel.»

Vasco Pulido Valente, Público


«Quando o Papa diz seja o que for, a primeira coisa que se perfila é um vasto pelotão de flibusteiros e engraçadinhos que não ouve o que o Papa diz mas comenta o que gostaria que ele tivesse dito. Qualquer cronista avançado e com gosto pela heresia (que é hoje muito fácil e bem remunerada) diz duas alarvidades a jeito. O mais preocupante é ver a insuspeita quantidade de especialistas em teologia e história eclesial que logo se ergue nas rádios e nos jornais, como se fossem católicos de ir à missa e se importassem muito com os pobres que morrem de sida. O ideal, para estes cavalheiros, seria um Papa que defendesse o aborto, o sexo com animais e a distribuição de preservativos nas escolas. Isso sim, seria moderno, fracturante e capaz de chamar fiéis. Fiéis – não se sabe a quê.»

Francisco José Viegas, Correio da Manhã

"BEM HAJA"

«Eduarda Maio, autora da mais recente obra do realismo fantástico, O Menino de Ouro, dá voz a um anúncio da Antena 1 em que explica a um automobilista que as manifestações são contra ele. É o que se chama um anúncio ao gosto de Santos Silva. Bem-haja a rádio do Estado (...).»

Nuno Ramos de Almeida, 5dias

19.3.09

ERC E MANUELA OU A TROVA DO RESPEITINHO


Recebi, em comentário a este post, o seguinte texto de Manuela Moura Guedes que, com amizade e consideração pelo seu trabalho - e desprezo pelo que o que ela descreve, o eterno país do respeitinho e da bufaria - transcrevo sem mais.

«Pela 2ª vez escrevo um comentário num blog, no seu blog, e pela 2º vez, levada pela indignação, pelo estado de coisas a que este País chegou. Sempre fiz informação não cedendo a pressões, viessem donde viessem. Já "apanhei" com governos do PSD, do Bloco Central, do Cavaco, do Guterres...alianças variadas, mais esquerda, mais à direita...sempre os tratei por igual, assim como sempre fui igualmente detestada (passe a pretensão). Esta reciprocidade de tratamento faz parte da relação jornalista/poder. É da essência da minha profissão ser contrapoder e só assim pode ser encarado o jornalismo. Já me parece muito assustador que o Poder conviva mal com a liberdade de informação e com órgãos de comunicação social independentes. O comunicado da ERC que recebi há bocado e transcrevo para além de ser inédito só pode ser entendido como uma forma de pressão e isso é muito grave quando vem do órgão que pretende regular a actividade da comunicação social em Portugal. Aqui vai a "pérola".

ERC aprecia queixas sobre Jornal Nacional da TVI

Têm sido divulgadas na comunicação social várias opiniões que criticam, por vezes de forma veemente, alegadas violações graves de deveres éticos ou legais cometidas no “Jornal Nacional” de 6.ª Feira da TVI. Da mesma maneira, algumas dessas opiniões têm criticado o silêncio, a seu ver incompreensível, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social a respeito desta questão. Sobre o assunto, cabe esclarecer o seguinte: deram entrada nesta Entidade várias queixas que têm como objecto a alegada violação de princípios éticos ou legais por parte da TVI, no Jornal acima identificado. Como é seu dever, a ERC pronunciar-se-á em tempo devido sobre essas queixas, apreciando as questões nelas colocadas.

Lisboa, 19 de Março de 2009

Para mais informações contactar:
Midlandcom – António José Laranjeira; Tel. 244 859 130 – Telm. 939 234 505; ajl@midlandcom.pt»

Manuela Moura Guedes

É ASSIM

Só me admiro de o Eduardo, ao fim deste tempo todo, ainda não ter percebido isso, ou seja, que o sistema bancário é a "menina dos olhos" do admirável líder (e do regime por inteiro), por um lado, e que o anúncio feito ontem no parlamento pela referida figura (cinquenta por cento de "corte" nas prestações a pagar aos bancos por parte dos desempregados) se destina a ornamentar a propaganda das legislativas, por outro. V. pergunta, e com inteira razão, "como é". Olhe, é assim.

RESPOSTA A UM COMENTÁRIO

O José Pimentel Teixeira (JPT) engana-se. Quando me apetece responder a comentários, respondo. Da mesma forma que os deito para o lixo quando são insultuosos, redundantes ou simplesmente imbecis. O critério - e a inerente censura - é, naturalmente, o meu. Se o JPT aqui vem de vez em quando, já deve estar "familiarizado" com o que penso sobre Joseph Ratzinger. Em geral, e para resumir, penso bem. Muito bem, até. E sabe porquê? Porque o li antes de ele estar sentado na famosa cadeira de Pedro. Raztinger é, para além de um grande teólogo, um bom filósofo. E um bom filósofo, como ensinou Nietzsche, serve para incomodar a estupidez. Muitas das coisas que se lêem e escrevem sobre Raztinger relevam desta infeliz rasura intelectual. Se há alguém que "mede" bem o que diz, esse alguém é justamente o antigo Cardeal Ratzinger. Por outro lado, a Aura Miguel é uma jornalista (porventura a única portuguesa) que está, há anos, acreditada no Vaticano e acompanha, também há muitos anos, as visitas papais. Foi minha colega e tenho-a como minha amiga pelo que, por aí, JPT, estamos conversados. Sobre o pseudo-tema "de fundo", limito-me a deixar aqui dois comentários que respondem, na perfeição e melhor do que eu o poderia fazer, às suas "inquietações africanas". Para mais, não adianta obnubilar o carácter essencial de uma visita apostólica com a relevância desta com a habitual "lana caprina" do "diz-que-disse" para encher chouriços nas televisões e nos jornais com meias-verdades ignorantes.

«O que o Papa disse foi que a forma mais eficaz de combater a SIDA não é o preservativo e esta é uma afirmação confirmada pela realidade africana. Recomendo uma leitura atenta do documento “PROJECT LESSONS LEARNED CASE • STUDY - What Happened in Uganda? - Declining HIV Prevalence, Behavior Change, and the National Response “ apresentado à Conferência Internacional sobre a Sida em Barcelona 2002. O que a experiência nos diz no caso do Uganda, o maior caso de sucesso no combate à SIDA em África na década de 90, é que o preservativo não é um factor determinante nesse combate - “Condom social marketing has played a key but evidently not the major role: Condom promotion was not an especially dominant element in Uganda’s earlier response to AIDS, certainly compared to several other countries in east-ern and southern Africa” pag. 8. São estes os casos de relativo sucesso o do Uganda e do Malawi, já nos países onde a ênfase tem sido diferente com uma forte aposta na distribuição massiva de preservativos a situação agravou-se, e muito – é o caso da África do Sul e de Moçambique. A Igreja sabe bem do que fala, são homens e mulheres que estão lá onde os africanos morrem diariamente, e não passam a vida em seminários e workshops, quase todos patrocinados pelas multinacionais farmacêuticas. »

(do leitor Paulo)

«Admito que a forma como o Papa se exprimiu facilite as polémicas que se geraram, estamos cada vez mais habituados a reter só a frase em vez de nos determos uns minutos a reflectir no sentido global da mensagem completa. Mas há também uma enorme tendência para confrontar a Igreja com um simples sim-ou-não aos meios, numa tentativa de apagar a importância da orientação espiritual e as exigências de comportamento moral versus a eficácia da técnica e da ciência. Tornámo-nos uma sociedade de grande sentido prático mas de reduzido sentido de valores. Ora a ciência e a técnica bem precisam de uma boa ajuda da moral e da exigência individual, senão arriscam-se a não dar conta do recado. Vivemos uma sociedade de grande sentido prático, que com toda a facilidade dispensa discursos de moral ou de exigência ética e de comportamento, porque quer ver resultados já. No entanto, apesar dos esforços gigantescos para a prevenir e combater, a SIDA persiste como uma peste dos tempos modernos. A ciência, a técnica e a sociedade bem podiam aceitar a ajuda do apelo a outro tipo de comportamentos, tal como a Igreja defende, em vez de se escandalizarem com o que não querem entender. »

(da dra. Suzana Toscano)